domingo, 21 de outubro de 2012

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (4/?)


Eu, Jesus, apresento-me
    Realmente, o meu nome é JESUS. Simplesmente JESUS! CRISTO foi o epíteto com que me brindaram alguns dos que me conheceram – os meus discípulos ou simpatizantes – alguns dos que não me conheceram mas viveram na época em que eu vivi e ouviram falar de mim – por exemplo, Paulo – alguns que escreveram sobre a minha vida, recheando-a de inúmeros milagres – entre eles, os evangelistas – tendo, no entanto, os seus escritos aparecido umas boas dezenas de anos depois de os meus “irmãos” judeus me terem crucificado, humilhando-me com tal morte por eu não ter pactuado com as suas ideias retrógradas em relação ao sábado, em relação a Javé, em relação ao poder religioso instituído, e acusando-me perante o Procurador romano de me querer intitular “Rei dos Judeus”.
    Os dados que vos ofereço são substancialmente diferentes dos que vêm nos livros que se arrogam de total e indiscutível credibilidade, por serem considerados de inspiração divina – os quatro evangelhos canónicos – mas correspondem muito mais à verdade dos factos. E, antes de me embrenhar na narrativa, nada de importante tendo acontecido nem no meu nascimento, nem durante a minha vida, nem na minha morte que merecesse ficar registado numa crónica fosse ela judaica, romana, cristã ou pagã, quando as crónicas do tempo consignam dezenas de nomes e de datas importantes, diria que a minha história possível, excluindo as mitificações e efabulações que enchem os evangelhos, em resumo, seria assim:
    «Nasci pelo ano 6 a.C., na Palestina, e vivi em Nazaré da Galileia, trabalhando como carpinteiro na casa de meus pais. Numa ida a Jerusalém, quando tinha uns doze anos de idade, subindo ao Templo, deslumbrei com o meu conhecimento das Escrituras os sacerdotes e doutores da Lei que ali se encontravam. Cresci. Pertencendo à classe média, na fortuna e na cultura, relacionei-me com fariseus, saduceus, essénios, zelotas, e também mercadores que, vindos do Oriente, me traziam notícias das filosofias e religiões que floresciam por aqueles reinos. Como bom judeu que cumpria a Lei, casei e tive filhos, deixando a família pelos trinta e cinco anos quando decidi ir ao encontro do essénio João Baptista que era um dos muitos pretendentes, naquele tempo, ao título de Messias. João Baptista obteve grande popularidade e renome ao propor a todos os Judeus que se arrependessem dos seus pecados, tomando simbolicamente um banho purificador nas águas límpidas do rio Jordão, de modo a alcançarem o perdão de Deus no Juízo Final que estaria iminente com o fim dos tempos. Também eu fiquei fascinado com tal mensagem. João, no entanto, foi preso e executado às ordens de Antipas, aparentemente porque lançou um anátema sobre o seu casamento com a cunhada Herodíade. Morto João Baptista, decidi assumir a missão dele, continuando a anunciar que a vinda do Reino de Deus estava próxima ou já teria mesmo vindo para alguns. Para disso convencer as multidões que, desesperadas, ansiavam freneticamente por um Messias que as libertasse do jugo opressor romano e restabelecesse a antiga glória do Reino de Israel, reforçava a palavra com curas prodigiosas, socorrendo-me de mezinhas que havia aprendido com diversos curandeiros da época, e fazendo uso das minhas extraordinárias capacidades de magnetismo. Pregando não a obediência cega à Lei, como fariseus, essénios e doutores da Lei pretendiam, mas apenas o amor a Deus e ao próximo, a que resumi toda a Lei e os profetas, apelando para um Reino de justiça, de paz e de fraternidade universal, as multidões, reconfortadas, começaram a acreditar que eu era realmente o rei messiânico por quem esperavam. A tal ponto que também eu próprio me convenci de que representaria um papel fundamental na vinda do Reino de Deus que se estava manifestando, aceitando com facilidade – e alguma vaidade! – o título de Filho do Homem, designação messiânica do judaísmo de então. Mas, mais de dois anos passados sem que nada acontecesse, as multidões, antes cheias de entusiasmo, sucumbiram à desilusão, não vendo confirmadas nenhuma das alterações políticas e sociais que associavam à vinda daquele Reino de Deus. As minhas relações problemáticas com as autoridades religiosas judaicas, que viram desde o início com maus olhos mais um pretendente a Messias, precipitaram a minha condenação. Eu era considerado um revolucionário ao bom estilo zelota, e a expulsão dos vendilhões do Templo foi a causa próxima que lhes exacerbou a paciência, pois me intrometera directamente nos domínios que só a eles diziam respeito. Acusaram-me perante a autoridade imperial, ao tempo Pôncio Pilatos, não dos distúrbios provocados mas de me ter proclamado Rei dos Judeus, o que eu em julgamento não desmenti, sendo por esse motivo condenado à morte e morte de cruz. Aceitei com resignação tal condenação, de que facilmente me poderia ter livrado, porque me convencera que cumpria, na verdade, as profecias que o A.T. supostamente atribuía ao Messias, e também porque estava fortemente convencido do iminente fim do mundo, da vinda do Filho do Homem e da realização do Juízo Final em que toda a criatura seria julgada, tendo também eu um papel importante a desempenhar nesse julgamento. Claro que me enganei rotundamente, naquele tempo, nestes tempos…, engano em que aliás caíram os inspirados por Deus que escreveram o N.T. A minha morte ocorreu pelo ano 35 d.C., tendo eu uns quarenta anos de idade.»

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