sábado, 28 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 123/?


À procura da VERDADE nos livros Sapienciais – 123/?


O ECLESIÁSTICO – 15/15

- Estamos aproximando-nos do fim da análise de mais um livro 
bíblico.
Antes de terminar o seu livro, Ben Sirá olha à sua volta e para 
o céu e tece um hino à grandeza de Deus que se manifesta na 
Natureza e no firmamento, concluindo: “Ele é tudo”. 
(Eclo 42; 43,27) Depois, recorda a História, evocando mais de 
três dezenas de antepassados hebreus, entre os quais, Noé, 
Abraão, Isaac e Jacob, Moisés, Josué, Samuel, David, Salomão 
(Eclo 44-50). Pura História que apenas interessará ao povo judeu! 
Fazem ainda parte do livro, um apêndice com dois textos 
acrescentados ao livro, para o encerrar com o tema do 
agradecimento e o da procura da Sabedoria. Estes acrescentos ao 
original revelam, no mínimo, a inspiração instável da divindade…

Causando alguma perplexidade a expressão “Ele é tudo”, 
expressão que pode apontar para um panteísmo natural, onde Deus 
estaria presente em tudo e em toda a parte, tudo sendo partículas 
dele…, apressa-se o “nosso” comentador a dizer: “ (…) Não 
em leitura panteísta, mas na sua transcendência, estando acima de 
tudo e sendo o Senhor de tudo, Senhor que nunca ninguém viu 
(cf Ex 33,20; Jo 1,18; 1Jo 4,12). De todos os seres, o Homem é o 
único que pode tomar consciência de Deus, que é o mistério supremo 
escondido por trás de todos os outros mistérios. Paulo dirá que o 
sentido último da vida é louvar a Deus (cf Ef 1,5-6).” (ibidem)

Embora compreendendo o “nosso” comentador, já que está 
hipotecado à doutrina da Igreja, tendo os exegetas cristãos de 
encontrar explicações para tudo o que a Bíblia diz, dentro dos 
cânones estabelecidos…, não vemos que falta de lógica haverá em 
considerar que tudo seja Deus, já que, por ser Infinito, tudo está 
nele, tudo faz parte dele, sendo Ele mesmo o TODO EXISTENTE! 
Não é muito melhor concepção do que considerar Deus um ser 
invisível, misterioso, da fé? Porque não somos nós partículas 
do TODO que é Deus, um TODO visível e invisível, temporal, 
para as coisas que têm tempo ou vivem no tempo, eterno para as 
realidades desconhecidas que estão fora do tempo, e infinito para o 
espaço que só o é por uma relação entre uma coisa e outra? Acaso, 
poderemos algum dia, conhecer os limites do Universo? E 
mesmo que os conhecêssemos, outra pergunta permaneceria 
exactamente como hoje: “O que há para além dos limites?” 
Ora, repugna à nossa inteligência dedutiva que haja dois infinitos: 
um o Universo, outro Deus. Aliás, imaginemos uma linha recta 
que passe diante de nós. Acaso conseguimos ver-lhe o princípio 
ou o fim? Dizemos, por isso, que é mistério ou dizemos que é infinita? 
Ora, se é infinita, pertence ao único infinito possível de existir e 
a quem podemos chamar, com toda a propriedade, DEUS!

Finalmente, e pondo em causa a autoridade de Paulo – realmente, o 
grande criador do cristianismo – perguntamos o que é isso de 
“o sentido último da vida ser louvar a Deus”. Deus precisa de ser 
louvado? Deus quer ser louvado? “Precisar”, “querer” não são verbos 
puramente humanos? Põe-se sempre a mesma questão de definirmos 
Deus. O cristianismo definiu-o como um Pai/Amor/Criador que se 
interessa pelos Homens e interfere na sua História; antropomorfizou 
Deus, atribuindo-lhe, à moda do Javé dos judeus, sentimentos, não 
de ódio e de vingança, como eram os daquele, mas de ternura, 
compaixão e amor. No entanto, tal definição, embora o torne um 
ser simpático que leva à emoção, não cabe na mente racional do 
Homem que pensa. Esse Deus nunca poderá ser o Deus Infinito e 
Eterno, mas – mais uma vez – um Deus criado à imagem e 
semelhança do Homem; logo, um Deus inexistente, tal como o 
Javé que supostamente inspirou a Bíblia – sendo pois a palavra 
de Deus! – que, afinal, iria ser corrigida por Jesus, o seu suposto filho…, 
já não falando na Bíblia do NT, interpretada, acrescentada, adulterada 
pelos padres dos primeiros três séculos, a começar pelos evangelistas.

Diríamos mesmo que inventar um Deus-Pai-Amor, Criador do 
Homem e que interfere na sua História, é amesquinhar a ideia de 
Deus: ser infinito e eterno que, forçosamente, tem de estar fora desta 
mesquinhez em que o tornaram. É nitidamente uma concepção 
medieval, revelando completa ignorância do que é a realidade Terra, 
dentro da realidade Universo. Agora, sabemos que o Homem não é 
mais que o elo de uma cadeia de vida que apareceu há c. de 3.500 
milhões de anos no planeta Terra, também ela pequena partícula 
perdida na imensidade do espaço onde pontuam milhões de galáxias, 
cada uma delas com biliões de estrelas semelhantes ao nosso Sol. 
Que presunção, santo Deus, querer um Deus a interessar-se por essa 
partícula absolutamente irrisória para o Universo/Espaço e Tempo! 
Enfim, tudo uma invenção trapalhona e bem humana que não merece 
qualquer credibilidade…

E acabámos a análise crítica de mais um livro que, apesar de algumas 
ideias interessantes, são ideias que não passam o campo puramente 
humano. A suposta inspiração divina esfumou-se na imaginação de 
quem o disse inspirado…

2 comentários:

  1. Pensamento da semana, no rescaldo de várias mortes "sonantes" que aconteceram no final de 2016:
    «A morte, tabu? Porquê? – Ora, a morte é coisa mais natural do mundo: tudo o que vive, vive a prazo, pois, se começou um dia, noutro irá inexoravelmente acabar: hoje aquele, amanhã, tu, eu, nós... Então porque não se fala dela, para melhor apreciarmos a VIDA, esta dádiva maravilhosa que recebemos gratuitamente, enquanto há luz para os nossos olhos e as energias não nos faltam no corpo – este maravilhoso sustentáculo da mesma VIDA, para rir, cantar, dançar…?

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  2. Antes de iniciar a análise crítica de mais um livro da Bíblia - Isaías - façamos uma pausa para nos enquadrarmos nesta época em que a Natureza apressa, de algum modo, o termo da vida de seres vivos mais fracos, humanos e não só. E - escândalo! - vamos propor cerimónias, no mínimo discutíveis - para a realização de um funeral de alguém que foi agnóstico ou ateu; claro, que também um crente teria tudo a ganhar se tal aceitasse em vida que lho fizessem... Não percam!

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