segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 109/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais


O ECLESIÁSTICO – 1/15

- O “nosso” comentador introduz-nos: “ (…) Este livro está 
assinado e datado. (…) Foi redigido na primeira década do 
séc. II a.C. (…), numa tentativa de superar a crise representada 
pelos livros de Job e Eclesiastes. Este conservador lúcido 
organiza uma síntese da religião tradicional e da sabedoria 
comum, aprofundada na experiência pessoal. (…) Os temas 
focados: amizade, preguiça, educação, pobreza, doença, 
riqueza, escravos, banquetes (…) A retribuição continua a 
cingir-se ao horizonte terrestre e ao gozo de uma felicidade 
marcadamente tradicional: saúde, longevidade, descendência, 
bem-estar e renome. (…) Ben Sirá apresenta a sabedoria 
personalizada e relacionada com a história de Israel.” (ibidem)
- Comentemos: 1 – A assinatura e a data conferem carácter 
histórico preciso ao livro de Jesus e Ben Sirá, remetendo para 
uma suposta inspiração divina tardia… 2 – Os livros de Job 
e Eclesiastes, debruçando-se sobre a angústia existencial do 
justo e do injusto terem exactamente o mesmo fim – o pó 
ou o total esquecimento! –  abrem, na verdade, uma crise bíblica: 
que ganha o justo em sê-lo? 3 – Enfim, se a “retribuição” não 
vai além do horizonte terrestre, onde a divindade do livro? 
Porquê sagrado? Porquê de inspiração divina? Porque não e tão 
só de inspiração/reflexão humana?
- “Recebemos muitos e profundos ensinamentos da Lei, dos 
Profetas e dos Escritos (…). Por tudo isso, se deve louvar Israel 
como povo instruído e sábio.” (Prólogo)
- Aceitemos que Israel tenha sido (seja!) um povo “instruído e 
sábio”. Tão instruído e sábio que - somos tentados a dizer - “inventou” 
um Javé-Deus só para ele, considerando-se “povo eleito” desse 
mesmo Javé, e “criou” a Bíblia, que mais não é do que a sua 
própria história e o reflexo da sua cultura e da sua vida, mas 
impondo-a ao mundo! Mas, como se explica que, ao longo da 
História, tenha sido um povo quase sempre apátrida, maltratado e 
escorraçado dos países em que se foi enraizando, sempre 
desejando mas nunca alcançando verdadeiramente a Pátria a que 
chamou Terra Prometida, bebendo o leite e o mel que nela corriam?
- “O princípio da sabedoria é o temor ao Senhor.” (Eclo 1,12)
- Repete-se. Veja-se, por exemplo, Pr 1,7. E… basta de um Deus 
que atemoriza!
- “Só um é sábio e sumamente terrível quando se senta no trono: 
é o Senhor, Ele que criou a sabedoria (…) Quem teme o Senhor 
acabará bem e será abençoado no dia da morte.” (Eclo 1,6 e 11)
- Sábio e terrível? Porquê? E que bênção é essa no dia da morte? 
Mais uma afirmação gratuita desta Bíblia, que - repetindo-nos - 
parece não passar da história guerreira de um povo auto-proclamado 
eleito de Javé e da compilação de uns tantos códigos de boa 
convivência social, inspirados, aliás, em civilizações anteriores ou 
contemporâneas. “Livro Sagrado”, “Livro da Verdade”? – Difícil de 
acreditar… Aliás, cada vez mais nos parece que não foi Deus que 
fez o Homem à sua imagem e semelhança mas foi o Homem que 
o fez à sua. Uma hipótese muito mais credível perante as mensagens 
aqui escritas.
- “O Homem paciente resiste até ao momento oportuno, depois 
será compensado com a alegria.” (Eclo 1,20)
- Belo princípio da sabedoria… humana!
- “Não te eleves (…) porque o Senhor descobrirá o que escondes 
e humilhar-te-á no meio da assembleia (..)” (Eclo 1,27-28)
- Será o Senhor que humilha ou o próprio indivíduo que 
quis subir alto demais a cair na humilhação?… Colocar Javé 
sempre a subjugar o Homem só o desacreditam como Deus. E nós 
que tanto quiséramos acreditar num Deus verdadeiro… Talvez 
Deus seja isso mesmo: a nossa consciência do Bem e do Mal; a 
nossa tendência para a harmonia universal que a inteligência nos dita 
como necessária para que a vida não seja uma selva sem regras; a tal 
Sabedoria, a tal Lei que, já antes do povo que se arroga de “eleito” 
existir, existia em códigos como o de Hamurabi, rei da Babilónia, 
e em outras civilizações mais antigas. Aliás, que sociedade de 
humanos poderia subsistir sem códigos de convivência social?


2 comentários:


  1. Afinal, vamos ocupar-nos, não dos Salmos, de que já falámos no início do ano, mas do livro da Bíblia que é o mais completo na análise da angústia existencial do Homem, depois de Job e Eclesiastes: o que há para além da morte.
    Pela sua importância, escrutiná-lo-emos um pouco mais longamente, embora fazendo escolhas e selecções do que é mais relevante. Serão 15 textos. Esforçar-nos-emos para que não vos sejam fastidiosos…

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  2. Boa reflexão, já habitual em Francisco Domingues, grande interrogador em demanda da Sageza, da Sabedoria, do como e porquê das coisas...

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