sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (16/?)


    Sem perceber onde eu quereria chegar, Nicodemos pensou que melhor mesmo seria aguardar pelo meu ministério e também ele, integrando-se na multidão de ouvintes, encontraria lá as respostas que tão dramaticamente procurava. Em boa verdade, nada mais lhe interessaria saber ou ter na vida, uma vida plena, homem rico e abastado que era. Adorava a luz do Sol espraiando-se todas as manhãs no verde das árvores, nos cumes dos montes, nos horizontes a perderem-se no azul do céu! Adorava os prazeres dos mais comezinhos do comer e beber aos mais sofisticados, não perdendo uma oportunidade de se deixar levar ao céu de todas as delícias por amores que lhe iam acontecendo na vida, neles incluindo os da sua bela Herodíade! Adorava os segredos matemáticos, os mistérios de um Universo desconhecido que se ia descobrindo para além da beleza das estrelas! Mas o Além totalmente desconhecido, um Além bem oculto por Deus ou pelos deuses aos seus olhos, esse é que não dava sossego nem paz à sua alma de crente-não-crente inveterado. E, então, pensava que talvez o Reino de Deus fosse o reino celestial no qual os indivíduos entrariam depois da morte, após o julgamento no Dia do Juízo Final. Mas como? − perguntava-se. − Depois de uma ressurreição do corpo e da alma, conforme diziam os filósofos persas, ou apenas pela entrada da alma em tal Reino que, por não ser corruptível como o corpo, fosse “exigir” o seu direito à imortalidade, segundo o pensamento grego? Ou talvez fosse apenas um Reino social de justiça perfeita, sem pobreza, sem ricos que tudo tinham e pobres que morriam de fome, vindo Deus a ocupar-Se dele, já que era Senhor do Céu e da Terra, e já que o Homem nunca conseguiria, por si só, implementar tal justiça...
    Vendo-o preocupado, revelei-lhe:
    − Para te ser sincero, Nicodemos, apesar das parábolas que te contei, não sei bem o que é o Reino de Deus. Nem tão pouco se ele está iminente. Tudo leva a crer que sim, que algo de muito estranho esteja para acontecer. Basta ler as Escrituras e “ler” os tempos que correm. Mas eu vou aprofundar tal ideia para depois poder transmiti-la às multidões. Talvez então tenha uma melhor explicação para ti, uma melhor explicação para mim! O deserto, Nicodemos! O deserto chama-me! O deserto é para onde tenho de ir que é lá, no silêncio profundo do calor abrasador e das noites gélidas, que Javé me inspirará, que o Espírito insuflará na minha mente toda a sabedoria, todo o saber que irei transmitir a todos para a todos apelar à conversão e ao arrependimento, preparando-se assim para a vinda do Reino e o fim próximo dos tempos.
    − Parece que ainda não ouviste falar num tal João, o Baptista, que, dizendo-se enviado de Deus, anda pregando junto ao Jordão exactamente esse fim dos tempos e convida as multidões ao arrependimento, oferecendo-lhes um baptismo nas mesmas águas. Sabes quem é?
    − Não, mas irei ter com ele depois que deixar o meu retiro. Agora, adeus! Vou para o deserto. Vou à procura da Sabedoria de Deus, a sabedoria de meu Pai, para que possa dar resposta à tua... vida eterna! Vou tentar encontrar-me a mim próprio e à missão que sinto ter de desempenhar mas não sei como, nem quando, nem por onde começar. Tenho apenas algumas ideias: o Reino de Deus, a restauração da nação de Israel e das suas doze tribos, o fim dos tempos, a alegria para os pobres, essa vida eterna que me “encomendaste”! Voltarei a ler o livro da Sabedoria que também te aconselho, embora não pertença ao cânone definido pelos nossos doutos Doutores. Afinal, não sei se conseguirei melhores ideias de imortalidade e de Reino de Deus do que aquelas que o autor desse lindo livro escreveu, ainda não há muito tempo.
    − Vai, meu filho − disse-me Nicodemos carinhosamente e em tom paternal. − Vai! E, depois, deslindar-me-ás a “pérola preciosa” que procuro e pela posse da qual darei toda a minha riqueza, toda a minha vida, não me perdendo para sempre no reino das trevas ou no Hades, a única solução que os filósofos gregos encontraram para o Além da morte, acreditando na imortalidade, mas não sabendo como realizá-la, nem quando, nem onde.

2 comentários:

  1. Senhor Professor Francisco Domingues.

    O Tema do seu Blogue está se tornando maçante. Senhor muda os Títulos, mas o Temas é sempre o mesmo. Um ataque frontal à Religião de cada um.

    Depois o Senhor Professor embaralha as coisas.
    Com isto quero eu dizer. Que o Vaticano, Catolicismo, Protestantismo e outros “ismos”que hajam. Não são Representantes do Cristo.

    A meu ver os únicos que conheço e que O entenderam e que puderam representar Jesus Cristo foram: João Batista e mais tarde Francisco de Assis. A única coisa que possuíram foi a roupa que traziam no corpo. Foram os que chegaram mais perto dos seus ensinamentos e da sua Imagem.

    Porque Catolicismo e Protestantismo se tornaram duas soberbas Organizações?! Não me cabe a mim responder.

    O que o Senhor Professor Domingues, escreve actualmente: “Quem me chamou
    de Jesus Cristo”. É fazer chacota do Ser que foi e é a Imagem do Deus Invisível.

    Cumprimentos.

    João Cardoso
    Örebro - Suécia

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  2. Caríssimo João Cardoso!
    1 - Acabei de publicar o seu comentário que me enviou por mail, sobre Espinoza e a wikipédia, na minha última mensagem. Pode ver a minha resposta.
    2 - Dizer que Jesus Cristo é a imagem do Deus invisível na Terra e que ele apenas foi entendido por João Baptista e Francisco de Assis, é bonito, mas - desculpe-me a frontalidade! - não passa disso mesmo: ser bonito! Em que base se fundamenta para tal afirmação, sobretudo a primeira: JC ser a imagem visível de Deus na Terra? Que Deus? O de Espinoza? O Deus que eu defendo e já aqui defendi: "Deus da Harmonia Universal que tudo contém, tempo e espaço, por isso, eterno e infinito, tudo nele se integrando, nós também obviamente, como partículas, sendo partículas dele stodos os seres vivos e não vivos, do átomo às estrelas, às galáxias, a todos os universos existentes"? Passo-lhe a palavra, tendo o João a certeza de que respeitarei sempre a sua opinião por mais contrária que seja à minha.
    3 - Já aqui defendi: esta biografia de JC é a que, à luz da interpretação da História da época naquela região, me parece a mais cordata e a mais "científica", por se basear em factos presumivelmente verdadeiros.
    Cordiais saudações!

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