sábado, 9 de fevereiro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (15/?)


A vida adulta
I
O regresso à Pátria
    Depois de uns longos vinte anos a aprender e a crescer naquelas sabedoria e graça diante de Deus e dos Homens, pelos reinos do Sol nascente, regressei definitivamente à Palestina, hospedando-me em casa de Nicodemos, após ter ido matar saudades dos pais Maria e José e dos irmãos que se ficaram por aprendizes de carpinteiro ou se industriaram nas artes da pesca: Tiago, José, Judas e Simão. E também das irmãs, as duas que haviam casado e que moravam ali na cidade, as outras que ainda estavam em casa dos pais.
    E vinha cheio de sonhos, cheio de ideais. Na minha mente bem conhecedora das Antigas Escrituras, caldearam-se outras crenças, outras religiões, ciências ocultas, magias e segredos, material que iria utilizar na vida pública a começar muito em breve, pois os tempos estavam prenhes e tornava-se necessário dar-lhes corpo e alma, como anunciara ao meu patrono logo que chegara:
    − Sinto que o fim dos tempos está próximo, Nicodemos. Não posso perder mais tempo! Tenho de ir! Javé, Pai do Céu e meu Pai, quer que eu parta! Quer que eu vá por toda a Galileia, a Judeia, a Samaria, a Pereia, por todo o Israel, anunciar a iminente vinda do Reino de Deus. Não tenhas dúvidas: os tempos vão acabar, a vida na Terra chegou ao fim, o grande Juízo Final aproxima-se; e quem não se arrepender e não estiver preparado não conseguirá livrar-se da morte, a morte eterna. Javé-Deus incumbiu-me da missão de transmitir esta mensagem que também é anúncio de uma Boa Nova: a vinda do seu Reino, um Reino de justiça, de paz, de amor e fraternidade entre os Homens. Se não cumprir tal divina missão, serei réu sem perdão, maldito de meu Pai, digno de arder para sempre na geena que nunca se extingue!
    Falava com ardor, como se fora possesso. E Nicodemos interrogou, intrigado:
    − Mas... o que é o Reino de Deus?
    − Não posso responder-te numa palavra só − retorqui-lhe. − Vê se entendes!
    E expliquei, argumentei, recitei Escrituras, fazendo lembrar a Nicodemos aquela voz que se levantara por detrás das colunas do Templo, havia já vinte anos, quando nos conhecemos:
    − O Reino de Deus é como... a boa semente que caiu no campo e “lutou” com o joio..., o pequeno grão de mostarda que dá uma grande árvore..., o fermento que leveda toda a massa..., o tesouro escondido..., a pérola preciosa..., os peixes bons que na hora da recolha se separam dos que não prestam...
    − Não entendo essas tuas comparações, essas parábolas, esse teu Reino de Deus. Ou se quiseres, entendo-o de várias maneiras como muitos certamente o entenderão se não fores mais claro. Entenderão uns que tal Reino é realmente Deus que desce do Céu onde o seu Reino é permanente e eterno, para governar a Terra. Outros...
    − Não vês tanta pobreza, tanta injustiça, tanto egoísmo no coração do Homem que não socorre o seu irmão? Não vês que se não for Deus a vir, o Homem não consegue, ambicioso que é, criar um mundo de igualdade e de solidariedade, de amor ao próximo? Lembras-te do que eu disse, ainda jovem, no Templo: “Esqueçamos o Olho por olho e dente por dente das velhas Escrituras e pensemos em fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós”?
     − Sim. Mas tu já sabes, Jesus, que o que eu pretendo não é um reino de Deus ou dos Homens, um reino na Terra com poderes e riquezas. Riquezas, já as tenho quanto baste. O que me importa é a... vida eterna, a vida para além da morte. Conseguir-me-ás então uma resposta?
    − Quando ensinar nas sinagogas, nas praças, nas ruas, pelos bairros, nas colinas, todos ouvirão a Boa Nova, ricos e pobres mas sobretudo estes pois são eles os desprezados pelos grandes do mundo. Quanto à “tua” vida eterna, já mencionada nas Escrituras, no Segundo Livro dos Macabeus de há cerca de 150 anos, com a esperança na ressurreição da carne: “Vale a pena morrer pela mão dos Homens, quando se espera que o próprio Deus nos ressuscite... para a vida”, mas sobretudo no Livro de Daniel: “Muitos que dormem no pó despertarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha e infâmia eternas.”, espero conseguir não defraudar as tuas expectativas. Apresentar-te-ei a vida eterna no Céu, com Deus-Pai que acolherá benevolamente os justos, não fazendo mistério como faz o Livro da Sabedoria, escrito há uns 50 anos, quando diz que os justos “esperam a imortalidade”, que “A imortalidade faz com que a pessoa fique perto de Deus” e que “A imortalidade está na união com a sabedoria”, mas indicando o caminho certo para a alcançar. Não sei é se te convencerei, se convencerei o mundo de que a Verdade esta nas minhas palavras...

3 comentários:

  1. Caro Cisfranco, respondi à sua intervenção, no texto anterior(14). Se quiser contestar/argumentar, agradecia que utilizasse este texto 15 ou o próximo (16). Terei todo o gosto em dar a minha opinião sobre os seus argumentos.
    Cordiais saudações!

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  2. Olá boa noite!
    Passo aqui de vez em quando a ver a sua história de ficção, mas não há nada a argumentar ou contra-argumentar. É a sua história. Impressiona, pelos seus escritos, a sua convicção de que toda a gente está enganada e que o sr é que está certo, seguindo as suas pistas. Põe de lado os verdadeiros sinais e pistas sobre Jesus Cristo e segue pistas imaginadas por si. Pode fazer isso, não está a fazer mais nada do que uma história de ficção. Mas a sua tese não explica como foi possível o Cristianismo ter-se implantado no meio hostil da época, sob a bandeira dum morto como qualquer outro. E também não explica por que houve um grupo de mentirosos que diziam que estava vivo O que todos tinham visto morrer. Por que foi que eles fizeram isso? O que se passou aqui? E mais, como foi possível manter-se a crença até que apareceram os primeiros escritos “fantasiosos” como o sr lhe chama, os Evangelhos? Sabemos bem o que resta dum homem famoso, passada uma ou duas gerações sobre a sua morte: esquecimento, nada. Quando muito poderá surgir mais tarde alguém que reedite as suas ideias, mas sem multidões arrebatadas a fazer a sua proclamação. No caso vertente, foi tudo ao contrário. Porquê?
    Mas isto são argumentos que não interessam nada e que enganaram toda a gente menos ao sr que, investigando, está afinal e só agora, a reconstruir a verdadeira história.
    Boa continuação!

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    1. Adoro os seus desafios, caríssimo Cisfranco! É que põe exactamente a questão onde deve ser colocada: o início do cristianismo. Meu caro, não há nenhuma prova credível de tudo o relatado pelos evangelhos e actos dos apóstolos, quanto à ressurreição de JC e quanto ao seu aparecimento, ressuscitado, aos seus mais próximos, logo na manhã do dia de Páscoa: Maria Madalena (curiosamente não a sua mãe, Maria...), depois, aos apóstolos, aos discípulos de Emaús e, uma vez - só relatado nos Actos, creio - a mais de 500 irmãos), subindo então aos céus (Ascensão). O cenário até é bonito mas carece de total fundamento, quer histórico (é narrado por livros de que não há originais mas apenas cópias datadas do séc. IV DC, embora se saiba que os originais remontam aos anos 70 a 110 DC e já sabemos a finalidade com que foam escritos), quer lógico ou racional: então, tendo sido o próprio Jesus que uma vez afirmou que a luz não se acende para colocar debaixo do alqueire, acha que ele ia ressuscitar para aparecer apenas a uns amigos - pessoas de fácil convencimento - e não aos seus algozes, aos escribas e fariseus que o condenaram, às populações que o acompanharam e que se haviam juntado aos milhares para o ouvirem (lembra-se da multiplicação dos pães e dos peixes que alimentaram mais de 5 mil, sem contar as mulheres e crianças?!!!) e a todos os representantes do Império Romano, para, assim, conquistar para a sua "causa" e o seu Céu e o seu Deus-Pai toda a humanidade presente naquelas paragens, sobretudo a quem pudesse divulgar tal fenómeno, único na História (as ressurreições antes narradas pelos evangelhos, de Lázaro, etc., são puras invenções...)? Qualquer Homem minimamente inteligente faria isso para atingir tão magnos obectivos, quanto mais Deus, ou o seu Filho, a suma inteligência! Este é argumento imbatível se não quisermos ter um Deus mentecapto ou insgnificante... Temos ainda a suposta aparição de JC a Paul, durante um dos seus ataques epilépticos, ficando cego por algum tempo e que lhe "deu a volta à cabeça", tornando-o de perseguidor em feroz defensor. Aliás, foi Paulo o primeiro a mitificar Jesus - aquele homem fantástico que deu a vida para defender a causa, embora com pensamentos mirabolantes sobre o seu Deus e sobre os fins dos tempos: "Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça!", fins que obviamente não aconteceram. (Aqui estamos nós para atestar tão falso pressentimento, impróprio de um Filho de Deus!!!). Enfim, a mensagem de fraternidade universal numa época de pobres e escravos, prometendo o Paraíso aos pobres (Bem aventurados os pobres...) e o Inferno aos ricos (Vós, ricos, vós já tivestes a vossa recompensa!") era realmente cativante. Ora, enquadrada nos mistérios de um Cristo que seria ao mesmo tempo, o Messias tão desejado, o Redentor, o Salvador - Filho de Deus! - tínhamos ou tivemos o coktail perfeito para a criação e fácil expansão de uma nova religião de massas! Foi pena os mártires! Mas não se matam agora chiitas e sunitas e se eliminam tribos inteiras por questões de somenos importância? É que o cristianismo mexia com os interesses instalados, políticos, religiosos e económicos. Então, nada melhor do que eliminar os seus pregadores/defensores...
      Caríssimo, para mim, é óbvio que tudo isto faz sentido e que o CRISTIANISMO NASCEU COM PÉS DE BARRO, usurpando e deturpando com aquelas histórias míticas de Filho de Deus que se fez homem e ressuscitou, o seu Céu, o seu Deus-Pai, o seu Inferno, a fantástica mensagem de Jesus de uma fraternidade universal, sendo os homens são todos iguais.

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