domingo, 13 de maio de 2012

Mês de Maio, mês de Maria, mês de Fátima (2/3)

Mais um 13 de Maio! Ontem! Mais espectáculos cheios de emoção religiosa, manifestamente naqueles cânticos de adeus à Virgem, mas, mais em pormenor, nas muitas promessas pagas, pessoas rodando de joelhos à volta da capelinha das aparições – coisa que a TV não mostrou, e bem (ou mal?!) – mas mostrando a desenfreada corrida à compra de velas – 19 toneladas vendidas no dia 12! – para, em chamas, serem atiradas à pira onde, com cheiro detestável a cera queimada, ardiam sem cessar, em honra da Virgem! Curioso ou extremamente deprimente?! Comentavam que o exagero era devido à crise e aos pedidos incessantes à Virgem para que nenhum dos seus devotos perdesse o emprego ou recuperasse rapidamente o perdido! Ah, a quanta alienação a necessidade obriga, santo Deus! E, claro, tudo aproveitado pelos negociantes da dita cera e, obviamente, a Igreja, em cujas caixas de esmolas, espalhadas por toda a parte, muitos milhares devem ter entrado... Então, se mais não houver em fenómeno tal, pelo menos salvem-se... o turismo e o negócio religiosos! Num momento do mundo em que a crise económico-financeira afecta milhões de pessoas, agravando, para muitas, a sua precaridade e as suas dificuldades em satisfazer as necessidades básicas de alimentação, habitação, educação e saúde, filosofar sobre as religiões ou sobre o fenómeno religioso, desmistificando-o, colocando-o ao nível da crendice que é manifestação da irracionalidade humana e não dignifica o Homem exactamente no que ele tem de mais nobre: a sua inteligência e a sua razão ou capacidade de raciocinar, analisar, criticar para então decidir ou se decidir..., não será certamente a forma mais adequada de ajudar esses biliões que maiores vítimas são da crise. As razões da crise são fáceis de elencar: descontrole total das finanças a nível mundial, inversão total de valores pondo-se as sociedades ao serviço da economia e não a economia ao serviço das sociedades, ganância e corrupção a todos os níveis, injustiças – ou falta de justiça! – para promover a igualdade em direitos e deveres e a fraternidade, elegendo-se o DINHEIRO e o PRAZER como os deuses do Homem actual, levando ao individualismo, os ricos explorando cada vez mais quem não consegue – ou não quer, por corrupto! – entrar no sistema! Neste mundo-cão, o turismo religioso é uma tábua de salvação para muitos: agentes turísticos, empregando imensa mão-de-obra, apoios logísticos de hotelaria e restauração, venda de artefactos religiosos aos devotos de tradições, festas e romarias em honra de santos, concentrações em santuários, etc. Como filósofo realista, tenho de aceitar, dadas as circunstâncias de necessidades básicas referidas, a perversidade de que se revestem as crenças e crendices de que as religiões organizadas são a maior manifestação fraudulenta porque enganadora das mentes, ao venderem falsidades ou, se quiserem em termos mais soft, inverdades como se fossem a VERDADE, incrivelmente a única Verdade, ilógica logo à partida, tendo em conta as inúmeras religiões e seitas que avassalam o mundo e que convencem biliões, tendo cada uma milhões de adeptos. Incrível: ninguém questiona, ninguém critica, ninguém formula juízos! O mais simples seria exactamente a partir do facto de todas as religiões dizerem possuir a VERDADE. Bastaria esta convicção imposta aos respectivos fiéis para que estes duvidassem da sua veracidade. Mas... não! Os respectivos mentores religiosos não o permitem, normalmente com ameaças de morte, de preferência eterna, num qualquer inferno! Inacreditável! Perverso! Mas... eficaz: os biliões que se deixam levar pelas religiões são disso a mais evidente prova! De qualquer modo, que aproveite aos trabalhadores do turismo religioso! Já não se perde tudo... Em Portugal, Fátima é o máximo exemplo. Talvez a crise não diminua o fluxo de peregrinos e as unidades hoteleiras se encham e o comércio de santas e santinhas floresça. E isso não é tudo bom para esta sociedade de consumo, sociedade tão injusta e ingrata mesmo – e sobretudo! – para os que querem trabalhar, ter uma família, um lar, um lugar ao Sol na vida? – A resposta só pode ser afirmativa. Então, “Viva a religião!” Viva o turismo religioso que dá de comer a tanta boca faminta!” Actividade que, de algum modo, põe justiça ou ordem numa sociedade tão injusta e tão mal organizada pelos Homens – eu diria com mais propriedade! – pelos homens, pois as mulheres têm sido postas à margem das decisões políticas, económicas e financeiras que comandam os destinos do mundo e das sociedades.

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