segunda-feira, 16 de abril de 2012

O inacreditável Credo Católico (corolário)

Afinal, no Credo Católico, falta um elemento essencial de crença dos fiéis: a crença na Sagrada Eucaristia. E esta falha é tanto mais inconcebível quanto a Eucaristia é a base de todas as celebrações importantes que acontecem nas igrejas, a começar no Vaticano e propagadas por esse mundo fora, onde houver um sacerdote que use os seus supostos poderes de trazer Jesus à Terra, em cada celebração através da consagração do pão e do vinho, dizendo as mágicas palavras: “Abençoai, Senhor Deus, estes dons que para nós se vão transformar no corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele que, na hora em que se entregava, para voluntariamente sofrer a morte, pegou no pão e disse «Tomai e comei, pois isto é o meu corpo entregue por vós.» De igual modo pegando no cálice, disse: «Tomai e bebei pois este é o cálice do meu sangue, o sangue da Nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por muitos, em remissão dos pecados... Fazei isto em memória de mim.» E ali, está, por milagre – “Mistério da Fé!”, brada o sacerdote, após se ter ajoelhado diante do suposto corpo e do suposto sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; ao que os assistentes respondem: “Celebramos, Senhor, a Vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição; vinde, Senhor Jesus!” Portanto, mais um mistério! Portanto, mais algo de essencial em que o crente tem de acreditar. Portanto, algo de importante que deveria estar consignado no Credo, por exemplo, antes do “Creio na Igreja una...”. Assim: “Creio no mistério da Sagrada Eucaristia, em que, pela força e poder das palavras do sacerdote, Cristo desce dos Céus à Terra, em cada missa, o pão transformando-se na sua carne e o vinho no seu sangue, renovando-se, assim, perpetuamente, o sacrifício agradável a Deus-Pai do seu Filho que redimiu o Homem do pecado.” “Per omnia secula seculorum” (Pelos séculos dos séculos), poderíamos acrescentar! Para provar a inconsistência dos argumentos apresentados pela Igreja para que a Eucaristia seja algo de Verdade (claro que escuda-se, como sempre faz, nestas coisas que não consegue provar, apenas afirmar, no mistério...), remeto para os sete textos aqui publicados sobre o assunto, em Novembro-Dezembro, 2011. Juntemos apenas que, aquele “Fazei isto em memória de mim”, apenas quis dizer Jesus que, sempre que se reunissem para comer, se lembrassem dele e daquele último banquete facilmente perceptível como último, dados os acontecimentos recentes do Templo: os sumos sacerdotes, escribas e fariseus não lhe iriam perdoar tal afrontamento à autoridade religiosa instituída. Também hoje, a Igreja, com o seu papa à cabeça, não perdoa a teólogos que não alinham nos inconcebíveis dogmas em que faz acreditar os fiéis, excomungando-os, dogmas como os do pecado original e o da imaculada concepção de Maria (portanto concebida, no seio de sua mãe, Sta Ana, sem o terrível pecado original, pecado que, obviamente, é mais um mistério e, por isso, inexplicável, tanto na sua concepção como na sua transmissão de Adão e Eva aos seus descendentes; isto, claro, a fazer fé em outro mistério, o de o Homem ser descendente de tais simpáticos seres, mistério já desvendado, pois todos sabemos, depois de Darwin, que Adão e Eva são pura fantasia bíblica...) Outras crenças importantes fazem-se ainda notar no Credo. Uma das mais notórias é a falta de referência ao Céu, Inferno e Purgatório. Assim, deveria estar consignado: “Creio no Céu onde está sentado Deus-Pai, rodeado de anjos e santos; creio no Inferno, morada eterna dos demónios e dos condenados por terem morrido em pecado mortal; creio no Purgatório para onde vão as almas dos que morreram com pecados veniais e necessitam de se purificar para entrar no Reino dos Céus.” Interessante que uma destas falhas foi colmatada, dando voz a tradições medievais de rezar pelo desagravamento das penas do Purgatório – donde as indulgências e as promessas, em vida, da classe nobre e rica, o que gerou uma tremenda riqueza para a Igreja católica e que levou Lutero a insurgir-se contra tal desregramento, tal roubo, tal mentira... – nas supostas aparições da Virgem em Fátima, 1917, (Vide 12 textos aqui publicados, Jun.-Set., 2011) introduzindo o terço que continua a rezar-se nas nossas igrejas, dizendo-se entre cada mistério evocativo da paixão de JC, e cada dezena de Avé- Marias, o que a Virgem supostamente ensinou às três pobres crianças, supostamente videntes: “Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno e levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.” Haverá palavras para avalizar tudo o que fica dito? Não é de bradar a todos os céus, a todos os deuses, nesta nossa era da Ciência, contra tanta (in)verdade em que se faz acreditar os tementes fiéis? Pudera: com tanto terror do Inferno, terror do Juízo Final e com tanto temor do pecado!... Enfim, que cada um ajuíze e se decida pela Fé ou pela Ciência. Mas, de certeza que haverá outros caminhos que não estes da (in)verdade católica para se dignificar e “salvar” o Homem!

7 comentários:

  1. "Enfim, que cada um ajuíze e se decida pela Fé ou pela Ciência. "

    Meu caro, não me leve a mal dizer-lhe, mais uma vez que, o que eu não sou capaz de ver é onde está a sua Ciência, que o sr tanto faz questão de enfatizar. Os seus sermões são uma bulldozer, compreenível no fundador duma nova religião, como o sr, praticamente, se proclama. É necessário reduzir tudo a escombros, após o que edificará a nova religião do deus-harmonia... Mas porquê tanto ressabiamento? Não concordo nada com a sua pregação. Muitas coisas a mudar? Certamente, mas não como o sr faz. O seu discurso, de tão radical, acaba por não fazer, sequer, a mais leve mossa na religião.

    Mas seja feliz que é o importante.
    Cumprimentos.

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  2. Caro Cisfranco, a Ciência baseia-se na razão, na lógica e na procura da verdade. Os "sermões" neste blog enquadram-se nesse espírito. Que o Francisco Domingues continue a escrever por muito tempo. Faz falta! Radicais (ou melhor extremistas e desfasados dos tempos actuais) são os dogmas de muitas religiões.

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  3. Agradeço a Cisfranco e Miguel Cardoso os comentários. Já aqui referi que não tenho nenhum prazer em ser bulldozer que arrasa os fundamentos de todas as religiões, a começar pela católica. Nenhum prazer mesmo! Até porque gostaria que existisse aquilo que elas proclamam: mutatis mutandis, um Paraíso para os bons, um Inferno para os maus, fazendo-se finalmente justiça! Problema é que sou um "crente" a quem ensinaram a religião e ao mesmo tempo a dúvida metódica, debatendo-me, na primeira, com a fé, na segunda, com a razão, base de toda a Ciência. E, para mim, são inconciliáveis! Repetirei as vezes que forem oportunas, com o saudoso cientista Carl Sagan, que nada do que o Paranormal afirma (englobando-se aqui todos os fenómenos de índole espiritual ou espirita ou de adivinhação) resiste a uma avaliação de tipo científico, ou seja, com provas credíveis para que se possa afirmar como real ou existente. Ora, nada, mas absolutamente nada do que as religiões afirmam se pode provar como realmente existente, usando o método científico da verificação e múltipla experimentação. No entanto, diria que a Fé não diminui o Homem nem o amesquinha, pois pertence ao domínio interior do indivíduo que, quer queira quer não, se vê a braços com as suas dúvidas existenciais quanto ao antes da vida, ao durante a vida e, sobretudo, ao depois dela; e a Fé é uma excelente resposta a essas dúvidas. Mas os crentes têm de aceitar que tudo aquilo em que acreditam pode simplesmete não existir, exactamente porque nada foi comprovado como existente. Aliás, a eternidade num Céu ou num Inferno, se existe realmente, ela tanto o será para os crentes como para os não crentes. E basta raciocinar um pouco para ver que não poderá haver uma eternidade num Paraíso para os bons, por boas acções particadas num lapso de tempo (80, 100, 1000 anos que fossem!) nem, por igual razão, um Inferno para os maus: o prémio ou castigo seriam totalmente desproporcionados, o que seria de uma injustiça absoluta aos olhos dos Homens quanto mais aos de Deus! Então, perguntar-me-ão, em que é que ficamos? Responderia como acabei o texto do blog, aliás, também com Cisfranco: que cada um siga o "caminho" com o qual se sente mais feliz e realizado. Pois viver bem esta vida é o que importa. A outra, se a houver, logo veremos como será. E oxalá que seja bem tarde que nos defrontemos com ela, pois, já que tivemos o privilégio de vir a esta vida, a morte pode muito bem esperar!...

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  4. Meu caro, se me permite, o seu principal erro é essa sua dicotomia conflituosa entre ciência e fé ou entre razão e religião. Note bem que o sr dá um valor absoluto à ciência e ao valor dos seus métodos. Isso está errado, porque a razão nunca está toda do mesmo lado, meu caro. Isto é uma regra comezinha que também se aplica à religião e à ciência. Cada uma tem o seu método e as suas limitações. A ciência e os seus métodos não são tudo, há mais mundo para além dela. Não tem que ser inimiga da religião e em boa verdade não é. Alguns cientistas é que não conseguem conciliar os dois mundos, com certeza por limitação própria. E note bem que a ignorância é, às vezes, muito arrogante. É o que se passa com alguns cientistas que se julgam acima de tudo e de todos e, quem não pensa como eles é logo rotulado de ignorante.
    Além disso, há que se dizer que a religião também não é muitas vezes aquilo que se diz dela e para se fazer uma verdadeira apreciação é preciso chegar mesmo ao núcleo/âmago da religião que é o que muita gente não faz. Uma coisa é o que a religião diz, outra bem diferente, é a prática ou interpretação de alguns crentes. Muitas coisas que o sr tem vindo, no fundo, a ridicularizar, a religião não as apresenta propriamente como o sr diz. Nesse sentido, a sua conversa – sinceramente lhe digo – aproxima-se mais duma conversa de taberna, simplesmente um pouco mais sofisticada, fazendo show com os pontos fracos.
    Até mais!

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  5. Caríssimo, gostei muito da sua primeira parte do comentário. Para não me alongar ou ser repetitivo, diria apenas que há que deslindar o que na religião é realmente Verdade e o que é Fantasia. Algum religioso - teólogo, por exemplo, comprometido com a religião que perfilha - o faz? Os padres na Igreja fazem-no? O papa fá-lo? Pelo contrário, continuam a comemorar e a basear-se nos mistérios inventados e nas fantasias. Ou não acha? Melhor: para si, qual o âmago da religião?

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  6. Para mim o âmago é Jesus Cristo, que viveu, ensinou, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. Mas isto para si – já o defendeu largamente – pertence ao capítulo das efabulações da religião que é, ao fim e ao cabo, tudo quanto ela proclama. O Sr. diz agora que "há que deslindar o que na religião é realmente Verdade e o que é Fantasia. " Estou admirado, porque o senhor não tem feito outra coisa senão uma razia completa sobre tudo. O Sr. não deixa pedra sobre pedra e tudo isso apoiado no seu saber a que dá valor absoluto; a verdade está toda consigo e não sobra nada para os demais. Assim não dá, amigo!... Os outros também têm direito e capacidade de saber alguma coisa...
    O Sr. diz que usa a dúvida metódica e seria óptimo se o fizesse, mas não, a sua dúvida é permanente e da dúvida parte para conclusões que só podem ser o que são.

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  7. Muito bem, caro amigo. Para si, "o âmago é Jesus Cristo, que viveu, ensinou, morreu e ressuscitou ao terceiro dia".
    Claro, Jesus Cristo, Filho de Deus! Sendo assim, há que provar a veracidade da ressurreição de JC dos mortos, com um corpo e uma alma (que corpo? que alma?). Para tanto, temos apenas os evangelhos cuja historicidade é tanto mais posta em causa quanto mais eles misturam historicidade de lugares e personagens e datas, com efabulações e mitificações. O caso mais óbvio é o dos milagres, milagres que simplesmente não existiram mas que fizeram jeito ao narrador para atingir os seus objectivos: a mitificação daquele Jesus - um grande homem que deu a vida pelas suas convicções! - em Cristo, o Enviado, o Messias prometido, o Filho de Deus. Aliás, faça o exercício mental de provar a veracidade de um só daqueles milagres narrados por Mateus. Creio que ficará decepcionado com as conclusões... Mas quanto à personalidade ímpar - mas não divina! - de JC, já aqui escrevi 6 textos (Out-Nov, 2011).

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