segunda-feira, 2 de abril de 2012

O inacreditável Credo Católico (4/5)

«Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai. De novo há-de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim.» Antes de falarmos do mito da ressurreição, e para fazermos jus à “Semana Santa” que se inicia com o “Domingo de Ramos” de ontem, refiramos a continuada afirmação da Igreja em chamar a todos aqueles factos de um suposto cariz divino, que ocorreram antes da Páscoa, em Jerusalém, de “mistérios”: “Celebremos os santos mistérios da paixão e morte do Divino Salvador”. É que, como em todos os outros inúmeros mistérios que inundam a religião católica, não se entende como é que Deus Eterno e Omnipotente tem um Filho, o envia à Terra para salvar o Homem e, para cumprir tão fácil missão por quanto Deus com o Pai, necessita que ele morra de uma maneira tão selvática e ignominiosa, como se fora um criminoso aos olhos do poder religioso judaico e do poder político romano. Apenas duas pertinentes perguntas: 1 - Um tal Deus é possível? 2 - Necessitaria que o seu próprio Filho morresse e morresse de tal modo para salvar o Homem da suposta perdição eterna, desagravando-O das muitas ofensas com que o Homem O havia ofendido? A resposta é obviamente “Não!” Tudo invenções, tenebrosas invenções, perversas invenções que fazem de um deus de bondade e de justiça – tal o Deus-Pai de Jesus mitificado em Cristo – um tirano sanguinário, imitando o seu homólogo do AT, Javé! Por isso, celebrem-se estes mistérios, façam-se inflamados sermões, encham-se as igrejas de trajes roxos e de luto, toquem-se matracas e encomendem-se as almas,... mas tudo não passa de encenações, de uma fé sem fundamento, pois as bases não têm qualquer credibilidade. Pelo contrário: são falsas, à luz destes argumentos que provêm da própria essência ontológica de Deus. Há que referir ainda as dramáticas quão bizarras narrativas dos quatro evangelistas, copiando-se, grosso modo, uns aos outros, havendo a destacar Mateus que enche a morte de Jesus com milagres e fenómenos terrestres, milagres que a ninguém passariam despercebidos se tivessem sido verdadeiros: o véu do Templo que se rasgou, a noite que veio em plena tarde de sol, os mortos que saíram dos túmulos e se passearam pela cidade, etc. Grande imaginação a de Mateus! Mas imaginação que deita por terra qualquer credibilidade que os seus escritos pretendessem ter, considerando-se, por isso, e com toda a propriedade, de pseudo-históricos (Aliás, estes mortos ressuscitaram antes de JC? – Inconcebível teologicamente: “a ressurreição de JC é o penhor da nossa própria ressurreição”, afirma-se na missa. Ou ressuscitaram por antecipação? E que lhes aconteceu depois?!!!) Do mito da ressurreição, já nos ocupámos, anteriormente, numa meia dúzia de textos (Vide os quatro textos publicados, aqui, em Abril de 2011). Mas vale a pena resumir as ideias principais: 1 - O mito da ressurreição dos deuses solares que em cada Inverno morriam para ressuscitar em cada Primavera, remonta à antiguidade. Qualquer livro sobre história das religiões menciona o facto. 2 – Obviamente, os primeiros criadores do cristianismo, com Paulo à cabeça, não poderiam criar uma religião sem que o seu protagonista principal ressuscitasse dos mortos, tendo, por isso, que nascer, padecer e morrer. 3 – A narrativa da ressurreição que aparece nos quatro evangelhos – ponto fulcral para a religião cristã – é estranhamente díspar quanto, sobretudo, às personagens que a testemunham, sendo a de João a mais simpática, pois dá prioridade nesse testemunho à amada de Jesus, Maria Madalena. (Vide meus textos anteriores). Ora, tal disparidade é inadmissível. Cada narrador, escrevendo depois de Paulo e não lhe saindo da cabeça a célebre frase do “apóstolo dos gentios”: “Se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé” (1Cor 15,17), (Paulo escreve pelos anos 55 a 60 dC, enquanto os outros escrevem para lá dos anos 70, 80 e 90, dado importantíssimo nesta análise), inventou o que mais lhe aprouve para que não só houvesse o mínimo de testemunhas iniciais, como, depois, houvesse apenas um número restrito de contemplados com o aparecimento de Jesus ressuscitado. Este facto revela só por si a total falsidade do que se afirma. Então, Jesus ia ressuscitar – repetimos, o facto mais importante da sua missão e base da religião nascente – e não aparecia a multidões para provar que realmente ressuscitou? Ia perder tão soberana ocasião para converter logo ali, milhares que seriam suas testemunhas aquém e além fronteiras de Israel, pelo menos, por todo o Império romano? Inconcebível! Inconcebível para o Homem e muito mais para um Deus que se tinha resolvido a intervir na História do Homem para lhe trazer a salvação eterna!... Seria o cúmulo da estupidez!... 4 – Não deixa de ser caricato o que se segue, convindo citar, na narrativa de João, a cena do incrédulo Tomé, sendo convidado pelo Cristo a meter a mão no lado do peito aberto e o dedo nos buracos dos cravos com que fora pregado na cruz. Mas todos dizem que também comia e bebia e falava. A pergunta – pergunta mais mordaz que ingénua, pergunta a que ninguém dá resposta! – é: “Com que língua falava, com que boca comia, para que estômago iam os alimentos, que corpo tinha para ter peito aberto pela lança e os buracos dos cravos?” Mais disparidade ainda se passa com a narrativa da Ascensão ou subida aos céus. (Seria certamente mais correcto dizer subida para o espaço sideral...) Só aparece, timidamente narrada, em Marcos e Lucas; neste, no Evangelho e nos Actos. Nem Mateus – o campeão da invenção de milagres supostamente realizados por Jesus – nem João referem tal fantástico fenómeno. É mais um argumento para descrer totalmente de que, tanto a Ressurreição como a Ascensão tenham tido realmente lugar: tudo pura invenção! O resto, ainda maior invenção revela: “Cristo sentado” (em que assento?), “à direita do Pai” (o Pai está sentado? E quem está à sua esquerda?), “Há-de vir” (como e quando?), “para julgar” (com que direito?) e “terá um reino” (que reino e sobre quem reinará?)... Ah, como os crentes deveriam questionar tudo isto antes de dizerem a inicial palavra “Creio!” Seria muito mais lógico e racional se dissessem, de início, nem que fosse em voz baixa para não escandalizar ninguém: “Não creio!” E tudo faria sentido! Ficar-se-iam pelo recordar de efabulações...

11 comentários:

  1. Inicio os comentários, retomando uma frase do amigo Cisfranco, a propósito do texto 2/5, sobre a reacção daqueles que viram Jesus ressuscitado e como tal o pregaram a toda a gente. Cito: "O que se passou na cabeça daqueles homens e mulheres que começaram a dizer que O viram vivo, quando todos sabiam que foi sepultado? Tudo invenção? Para quê? O que esperavam com isso? Esta é a resposta-chave sem a qual não podemos avançar." Tentarei uma resposta para fazer alguma luz sobre esta pertinente questão. Como disse atrás, houve apenas uns poucos privilegiados que disseram ter visto Jesus ressuscitado; e o boato foi-se propagando. Se contabilizarmos o número dos que realmente o viram temos: Maria Madalena, as outras Marias, os apóstolos, primeiro Pedro e João, depois os doze sem Tomé, depois também com Tomé, tendo lugar a cena do "Mete a mão no meu lado...", terminando com as palavras de Jesus "Não sejas incrédulo mas fiel". Depois, os dois discípulos de Emaús. Mais tarde, (vários meses?) apareceu a Paulo naquela dramática cena de: "Paulo, Paulo, porque me persegues"? Temos, portanto, um reduzidíssimo número de pessoas que disseram tê-lo visto. Pessoas altamente suspeitas por terem sido tão próximas. E a narrativa, não o esqueçamos, data cerca de 40 - no mínimo (Ev. de Marcos)! - depois destes factos terem acontecido. (Estou dando como factos históricos tudo o que afirmei até agora, sem pôr em causa a sua veracidade.) Mas..., é exactamente aqui que se coloca a questão: a veracidade histórica. Que credibilidade nos merecem tais narrativas, tais testemunhos, revelados mais de 40 anos depois de proferidos? Mas, para mim, a questão é mais profunda e que já coloquei aqui várias vezes: se JC queria revelar-se aos Homens como ressuscitado - Filho de Deus como era, logo a suma inteligência - mostrava-se ressuscitado - sendo a ressurreição a verdade máxima e a base de toda a religião católica - apenas a meia-dúzia de amigos ou conhecidos? Isto é de tal modo inconcebível que qualquer outro argumento aduzível perde todo o valor. Por isso, aquela fé, aquela alegria, aquela força manifestada pelos apóstolos, Pedro, etc., e, depois Paulo, tem de ter outra explicação que não uma explicação teológica de ressurreição. Diria que são fogos fátuos perante a magnitude do argumento da profundidade de um Deus que não poderia vir "brincar" com os Homens daquele modo...
    Gostaria de me alongar, mas basta isto para relançar a discussão aberta e honesta. Saudações pascais a todos!

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    1. Caro Francisco, à luz daquilo que já li vou ensaiar uma possível explicação: o movimento cristão surge no seio do judaísmo. Jesus era um judeu devoto assim como todos os seus discípulos. Nunca lhes passou pela cabeça a criação de uma nova religião. A prova está na Bíblia: o apóstolo São Tiago e mesmo São Pedro (neste caso mais indeciso) defenderam que os cristãos deviam cumprir integralmente a Lei Judaica, isto é deviam ser judeus. E na altura discriminavam quem não era judeu. Fraternidade universal? Isso veio depois! A grande diferença entre um judeu de outras correntes e um judeu cristão era que este último defendia que Jesus era o messias anunciado pelo Velho Testamento. Com a abertura defendida por São Paulo (também judeu), o sucesso da mensagem cristã junto dos gentios e o insucesso da argumentação junto dos outros judeus, há uma transformação e uma apropriação do movimento pelos gentios cristãos que passam a ser maioritários. E são eles que vão escrever os Evangelhos e todos os textos cristãos (se não estou enganado, escritos em grego, língua que não era falada pelos apóstolos que além do mais eram analfabetos). São eles que vão criar a lenda tal como a conhecemos. São Pedro e os outros apóstolos podiam bem ter dito que acreditavam na ressurreição de Jesus e no seu regresso iminente para julgar os vivos e os mortos (lembrem-se que esta última crença era fundamental no cristianismo primitivo) mas sem a história de o terem visto. Os evangelistas (que como devem saber não foram São Marcos, São Mateus, São Lucas, São João) é que podiam ter acrescentado essa história de os apóstolos o terem visto. Mas claro não descarto outras hipóteses explicativas...

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    2. É impressionante a falta de lógica e a incoerência daquilo que afirma.
      Em 1º lugar começa por referir que foi apenas um número muito restrito de pessoas que testemunham a ressurreição. E depois, qual é o problema?
      A seguir chama logo boato ao que essas pessoas disseram. Depois chama a essas pessoas altamente suspeitas. Mas porquê? O que é que acha que eles pretendiam com o seu testemunho falso, em sua opinião?
      Depois põe em causa a credibilidade dos relatos evangélicos passados 40 anos. Mas porquê?
      O que se conclui de tudo o que o sr diz é que as testemunhas sendo poucas conseguiram influenciar outras pessoas formando um grupo cada vez maior, de tal modo que passados 40 anos os relatores evangelicos passaram a escrito aquilo que constava na comunidade. Como é que isto foi possível? Em nome dum morto que todos viram sepultar?
      Finalmente o sr passa um atestado de estupidez a Jesus Cristo que não se fez anunciar como devia ...
      Convenhamos que a sua argomentação é mesmo redonda, sem ponta por onde se lhe pegue. Pura e simplesmente não é lógica e não tem racionalidade que me convença.
      Finalmente diz que a força dos apóstolos tem de ter outra explicação que não a ressurreição de Jesus. Mas qual será então essa explicação?

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  2. E ainda cito Cisfranco: "O cristianismo não se teria implantado num mundo hostil se os seus pregadores não estivessem na posse duma certeza inabalável (a ressurreição de JC). De Cristo não se ouviria mais falar se algo de excepcional não tivesse ocorrido." A propósito, apenas uma opinião sobre as razões da rápida expansão do cristianismo. Ao contrário do maometismo - religião que foi imposta pelo poder da espada aos povos que iam sendo conquistados! - o cristianimo tinha no seu âmago duas mensagens: a da fraternidade universal, sendo os senhores iguais, perante Deus, aos seus escravos, e a mensagem de justiça, sendo os desgraçados e os pobres compensados na outra vida onde haveria finalmente justiça. Isto numa sociedade eivada de religiosismo, de facciosismo (fariseus, escribas hipócritas, sacerdotes do Templo, zelotas, essénios, etc.), todos vivendo à sombra do Templo e suas leis vindas de Moisés e do Levítico e Deuteronómio e, obviamente, à custa do povo pobre, todos conluiados, quase sempre, com o poder político instalado. Estas, a meu ver, as duas grandes forças que impulsionaram a religião nascente como salvadora dos pobres - a maioria! - religião que, já no séc. IV, com Constantino, teve de ser reconhecida como óptima para unificar os povos e o Império. A ressurreição de Cristo em que Paulo fundamentava a nova religião nascente, penhor da ressurreição de todos para a outra vida, com o Juízo Final, o Inferno e o Paraíso, seriam "flores" a oferecer aos crentes, "flores" que, depois, se tornaram básicas, mas que, de início, não passariam de "flores". Claro que esta será mais uma interpretação a juntar a tantas outras...

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    1. Sim esta é mais uma interpretação, mas que não passa de especulação sua. Pode especular o que quiser, mas falta-lhe o fundamento. O que é certo é que tudo começou com um pequeno núcleo e voltamos sempre ao mesmo ponto: porquê falar em alguém que todos sabiam que morreu e foi sepultado? Porquê falar naquele que arrastava multidões e se tornou um perigo social e por isso mesmo foi morto? Mentir dizendo que ressuscitou e dar a vida pela mentira? Não acho nada plausível. Dê-lhe as voltas que quiser, mas é necessário explicar a transformação daqueles homens que, da noite para o dia, se transformam em anunciadores que até dão a vida pelo seu testemunho.

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    2. Caro Cisfranco, sem jamais querer fugir às questões que muito oportunamente coloca, gostaria de chamar a sua atenção - sem qualquer intenção de o convencer, mas apenas para dialogarmos honestamente - para o facto de estarmos numa época em que os movimentos religiosos se digladiavam no seio comum do judaísmo, pela preponderância e baralhados que estavam com os acontecimentos de que eram vítimas, desejando ardentemente um Messias salvador: domínio romano, ameaça - que veio a ser concretizada em 70 - de destruição do Templo, centro nevrálgico do poder religioso judeu ou, melhor, das elites religiosas do tempo: sacerdotes, escribas, fariseus (bem denunciados e anatematizados pelo revolucionário Jesus, sendo essa a causa da sua condenação à morte, quando aqueles senhores convenceram o procurador romano Pôncio Pilatos de que ele, Jesus, era um perigo para a soberania de Roma na Judeia, mentira que lhes convinha para atingir os seus ojectivos), não me parece que seja significativo haver uns quantos seguidores de Jesus - e lembre-se que não sabemos se tudo o que é narrado nos evangelhos é verdadeiro, pelo contrário, já que nem milagres, nem a própria paixão dramática de Jesus é narrada em nenhum historiador da época, sobretudo os dois maiores, Flávio Josefo e Fílon de Alexandria - que, tenham afirmado o que afirmaram acerca da sua ressurreição, convencidos, aliás, que ele seria o Messias prometido nas Escrituras, Messias de que ainda hoje os judeus - povo no seio do qual isto tudo aconteceu! - ainda estão à espera!!! O facto de alguns darem a vida pelas suas crenças acha que é assim tão significativo? Num tempo em que os romanos matavam às centenas, normalmente com o suplício da cruz, os opositores ao poder de Roma ou que se negavam a pagar os impostos? Não foi massacrado pelos romanos o levantamento judaico dos anos 70, sendo então destruído o Templo, e começado a Diáspora dos judeus?! Mas, caro amigo, peço que tenha em consideração tudo o que disse anteriormente e que, a meu ver, é relevante para uma análise desapaixonada de todo este fenómeno religioso que se chama "cristianismo".

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    3. Ainda bem que fala em Flávio Josefo que tem poucas referências relativas a Jesus. Poucas mas boas – digo eu - que nos levam a reforçar ainda mais a credibilidade dos relatos evangélicos. O conhecimento do que Jesus fez, constava da comunidade nascente e Fávio Josefo a isso se refere passageiramente. Por que ele escreveu tão pouco sobre este personagem histórico não sabemos, será uma boa questão para o sr filosofar ...

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    4. Caro Cisfranco, sem filosofar, o que tenho lido é que Flávio Josefo foi acusado pelos primeiro cristãos do séc. II de ignorar JC e os seus feitos consignados nos evangelhos e cartas. Mais: que a pequena referêcia que faz a JC, segundo estudos grafotécnicos - cuja veracidade não tenho competência para avaliar -é pseudográfica do séc. III. E mais não se me oferece dizer. Agora que é muito estranho que esses dois importantes historiadores da época tenham dado tão pouca importância a uma personagem que, por outro lado, é elevada ao divino, rodeada de milagres que, só um deles daria brado em todo o Império Romano, se tivesse sido verdadeiro ou factual, lá isso... E um homem que arrastava multidões (quando foi dos dois milagres da multiplicação dos pães e dos peixes, Mateus contabilizou cinco mil, sem contar as mulheres e as crianças!) poderia assim ser ignorado pela História, digamos, não religiosa ou sem fins religiosos? Esta é para o meu amigo Cisfranco pensar...

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    5. Conclui-se então, segundo a sua magnifica tese, que Jesus foi um personagem sem importância nenhuma que alguns dos seus seguidores exaltaram depois da morte... Mas essa exaltação foi de tal modo que conquistou multidões que no tempo de Flávio Josefo já deviam ser muitos milhares e o que é certo é que, mesmo assim, ele não fala mesmo. E conclui o sr que os relatos evangelicos não podem ser senão uma efabulação. E tudo isto em nome da ciência ...E esta hein!

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    6. "E esta, hein?!" Eu dir-lhe-ia, caro amigo - e em nome da Ciência, Ciência que se caracteriza exactamente por não fugir às questões e reconhecer o erro, quando é caso disso, sempre em busca da Verdade - que é uma boa questão ou mais uma boa questão. Mas agarrarmo-nos apenas a um factor sem ter uma visão abrangente da História da época: conflitos e interesses políticos, religiosos e sociais, tanto dos
      próprios judeus como do povo invasor, os romanos, bem como dos documentos que nos
      chegaram (e aquela história está cheia de contradições e de lapsos e pseudografias)e ainda a análise crítica de índole teológica de um Deus que se manifesta num Homem judeu chamado Jesus, e ainda a análise não menos crítica filosófica do drama existencial do Homem que necessita de um referente religioso para dar sentido último à morte e às injustiças da Terra (lembre-se que a escravatura e o poder do dominador romano eram dramáticos, na época e num povo que já tinha uma longa história bem problemática)..., pensar apenas na exaltação que os discípulos fizeram daquele Jesus divinizado com inúmeros supostos milagres (a propósito, como analisa aquela avalanche de milagres - vide Mateus - atribuídos a Jesus?), exaltação essa que deu os seus frutos, pois aí está o cristianismo a comprová-lo e a ser seguido por muitos milhões..., pensar apenas nesse factor não me parece que seja a melhor forma de aquilatar dos factos para se ter a melhor Verdade possível e a Verdade mais próxima do que realmente foi/é JC e do que foi/é o cristianismo. Mas, como diz, cada um pode fazer a análise que achar mais conivente com a sua razão. Ou será com a sua fé?! (Recordo-lhe que eu também queisera acreditar e, no fim de contas, é bases para essa fé que procuro ou que todo o Homem procura, pensando no drama existencial perante a morte que dificilmente consegue resolver. É que morrer e desaparecer como cão ou gato, não tem piada nenhuma...)

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  3. Caro Pedro Miguel, os inícios do cristianismo estão cheios de nebulosidade: é que temos todo o contexto religio-político da altura, com o Templo a dominar um, os romanos a dominarem outro e o povo a desejar um Messias que o libertasse do jugo religioso e do jugo romano. Jesus apareceu aos olhos do povo - e isto a fazer fé nos evangelhos naquilo que podemos dizer que têm de histórico (o que parece ser muito pouco...) - como um libertador. E, em certo sentido, foi-o. Mas pagou caro a sua ousadia, não por se rebelar contra o poder político, mas contra o poder religioso, opressor do povo e dos pobres: condenado à morte. A sua explicação é francamente aceitável, pois Paulo foi o grande obreiro da nova religião nascente, criando pequenas comunidades, depois de ter eleito Jesus como o Profeta e o Messias no qual se tinham cumprido as Escrituras, dando o motivo a que todos os evangelhos (os quatro aceites pela Igreja e os inúmeros apócrifos dos quais algumas cópias nos chegaram) fossem escritos para firmarem na fé as comunidades. Daí, aqueles incríveis milagres que Jesus supostamente realizou, numa tentativa de o divinizarem, com poderes sobrenaturais, o fazerem Filho de Deus, culminando na sua Ressurreição, narrando dois deles a sua Ascenção aos céus (Marcos e Lucas). A autoria dos escritos, evangelhos e cartas, isto é, o NT, mesmo das cartas de Paulo ainda não se sabe ao certo. As opiniões divergem de investigador para investigador. Claro que tem a sua importância. Mas, para mim, a base será sempre a inteligência de um Deus que, a um dado momento do tempo - há apenas dois mil anos! E no seio de um mundo judaico tão problemático como povo e como região! - se lembra de vir salvar o Homem da sua morte eterna, enviando-lhe o seu Filho Unigénito! Que inteligência, santo Deus?!
    Não me alongo mais, pois já falei desta impossibilidade em textos anteriores (Vide, p. ex., 6 textos de Maio 2011)

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