segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Homem, o Tempo e o Transcendente (3/3)

Ora, o Homem, não aceitando de bom grado, acabar-se ali com a morte, como acontece com qualquer ser que teve o privilégio de ter vindo à vida – privilégio, porque é o “escolhido” entre milhões de hipóteses de terem sido outros a tê-la, embora para muitos, humanos e não humanos, a vida seja um drama constante de luta para não perecer de fome ou doença ou ser caçado... – possuindo realmente dentro de si uma inexplicável força que o leva a desejar ser eterno, prolongar-se para além do tempo que lhe foi concedido, logo à partida, no ADN..., o Homem vai de inventar e de arquitectar um sistema onde pudesse apoiar tal inexplicável desejo. E, assim, nasceram as religiões, apelando para um transcendente, um divino, um Deus! O resto que se seguiu de Céus e Infernos, Anjos e Demónios, Santos e Santas, Alminhas e Igrejas, Cantares e Ritos cerimoniais, romarias e promessas, peregrinações e santuários, livros sagrados ditos de inspiração divina – livros que um Deus que se preze teria vergonha de escrever, tantos são os erros científicos, tantas as crueldades, tantas as confusões em afirmações chave para a salvação do mesmo Homem (e estou a pensar em todos eles, a começar e a acabar na Bíblia cristã, sobretudo o AT, embora, haja neles referentes maravilhosos de literatura e pensamento – tudo isto ficou ao sabor da imaginação de cada um, melhor, de cada dito iluminado, dizendo-se de motu proprio, inspirado por Deus, sendo tal inspiração, depois, ratificada por todos os que viram e vêem na religião uma bela forma de vida... (Salvam-se todas as raras excepções, obviamente!) Então, resta-nos perguntar: “O transcendente existe? Deus e os seus Céus com os seus Anjos existem? O Inferno com os seus demónios existe? O paranormal existe?” Vou citar, de cor, o que, a respeito, diz o insuspeitável cientista e grande divulgador da Ciência, nos anos oitenta, o americano Carl Sagan, no seu livro “Um Mundo Infestado de demónios”: «Nenhuma afirmação sobre o sobrenatural, nenhum manifestação de que o sobrenatural existe resiste a uma avaliação científica ou resiste à aplicação do método científico a essa suposta realidade.» Então, em que ficamos? – A resposta é só uma: a fé para quem quiser continuar no sonho, a descrença para quem quiser abraçar a realidade, analisada de um ponto de vista racional e científico. Por agora, realmente, nada passa o patamar da efabulação, da crença, da fé. Mas – digamo-lo sem medo – a fé é imprópria de um ser racional, é mesmo anti-racional e, por isso, desumana ou inumana! Só se aceita numa perspectiva, perspectiva que não é de menosprezar: ela ajuda a viver esta vida, vida única e irrepetível, a única vida que temos a certeza de possuir, pois nela somos. A outra pertence ao sonho! E sonhar, diga-se, é tão bom!... Acrescentemos que o tempo se pode definir como o que medeia entre um antes e um depois, havendo apenas tempo para o que, ou quem, começa num momento e acaba num outro mais à frente, tendo-se esgotado o seu tempo. Assim, nós! Assim, todo o ser que um dia viu a luz do dia. Se um dia viu a luz, em outro dia há-de forçosamente, inexoravelmente, “ver” as trevas, as trevas eternas. Esta é a VERDADE, custe-nos as lágrimas que quisermos!... Para acabar, citemos a Bíblia, num dos seus belos textos: “Goza a vida com a esposa que amas (...) Tudo o que puderes fazer, fá-lo enquanto tens força, porque, no mundo dos mortos para onde vais, não existe acção, nem pensamento, nem ciência, nem sabedoria.” (Ecl 9,9-10) Eu traduziria livremente: “Alegra-te e diverte-te enquanto tens vida, pois no reino dos mortos não há alegria”. Aliás, imitando o que se diz no Eclesiástico: “Não te prives de um dia feliz nem deixes escapar um desejo legítimo. Acaso não vais deixar para outros o fruto das tuas fadigas e não vai ficar para os herdeiros o fruto dos teus sacrifícios? Dá e recebe, e diverte-te, porque no mundo dos mortos não existe alegria.” (Eclo 14,14-16) É isso: gozemos a vida! Da impossível imortalidade da alma humana falaremos em próximos textos.

7 comentários:

  1. Ora cá está a 3ª parte da sua pregação (que eu chamo de sinal contrário)que, ao fim e ao cabo, espremendo bem, nem gota dá. Pregue, pregue e continue a pregar. O sr é um pregador sui generis que não sei o que lhe fizeram para fazer uma militância tão ressabiada. E "em nome da ciência", diz o senhor. Esta é que é abusiva. Mas o sr acha que não e então, olhe, continue que não faz mal nenhum, pelo menos tem menos hipótese de vir a ter Alzheimer...
    Faça favor de ser feliz.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo, Cisfranco, pior que cego só mesmo o que não quer ver! Que seja feliz com a sua Fé baseada no que lhe disseram e lhe ensinaram nos bancos da catequese e que o papa continua a debitar. Por mim, sinto-me mais feliz, utilizando a razão e descendo, por mim, até ao fundo das coisas. Verdades feitas, não há!
      Cordiais saudações!

      Eliminar
  2. Olá Dr. Domingues!

    O Sr. vai em frente! Claro assim é que é!Quem fica para trás perde o combóio.( Isto é para se rir, faz bem ao coração, dizem os que julgam saber.
    O meu comentário,que não é transcendente(coitadito)ficou, não desapareceu,está em: O Homem e o Tanscendente (1/3 - 9 de janeiro.
    Que o sol brilhe à sua volta,
    e sempre ilumine seu espirito.
    Lhe deseja a
    Dilita.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Dilita, é um prazer vê-la por aqui. Não importa a transcendência! Aliás, existirá? Importa sim esse rir, esse saber viver, cantando, enquanto há vida. Pois - e vou citar a Bíblia - "no reino dos mortos para onde iremos não há alegria"!
      Vi o seu comentário no texto 1. Bonito! Que a doença não afecte essa sua tendência para a boa disposição e o sorriso. Quanto às ideias de Transcendência, creio que estamos em sintonia. Pena que haja tantos que fazem dela bandeira para viverem folgadamente aqui na Terra, dizendo e pregando a existência de um Céu! Mas diga-se, Dilita, um Céu de todas as delícias, depois da morte, vinha mesmo a calhar, não vinha? Ao menos, por uma questão de solidariedade e de justiça (a tal inexistente justiça divina!). É que há tanta gente que sofre e sofreu tanto durante esta vida!!!
      Um abraço sorridente!
      Abraço, sorrindo!

      Eliminar
  3. Ah Sr.Domingues, obrigada pela visita em meu cantinho e venho retribuir. Poderia eu dizer-lhe tantas coisas, mas todas elas acharia argumentos dentro da ciência. Mas eu creio que ambas andam juntas e uma ampara a outra entre a questão Fé(religião e ciência). A Fé vai aonde a ciência não pode chegar. Fiz o primeiro semestre te Teologia e amei, infelizmente por questões financeiras tive que trancar a matricula e quem sabe um dia voltarei. Em minha caminhada como cristã já vi muitas coisas e também já deixei tantos lixos entrarem em minha mente, assim como normalmente acontece. Cada um em seus conceitos e intendimentos e se respeitando mutuamente pois vivemos em um país livre de expressões ou pelo menos deveria ser. Poderia escrever tantas coisas sobre esse texto, mas tem coisas que só se explicam espiritualmente. Vejo que ambas são abençoadas(ciência e religião), mas a ciência não tem explicação para tudo e a religião não se explica cientificamente tudo. Vejo que ambas são incompletas em alguma parte. Ex: Quando uma pessoa desenganada pela medicina alcança cura mediante a Fé, só quem vive tal experiência que sabe pois não há a formula da cura e sim o ser curado. Sei que tudo que eu relatar pode haver outras formas de interpretação, eu particularmente, prefiro acreditar que existe um Deus que nos criou, pois nada se faria sozinho. Acredito em uma única existência nesse mundo e que o espírito volta ao Pai que o criou. Acredito que o poder de escolha está aqui nessa terra e não depois da morte onde já está determinado céu e inferno. Acredito que todas as experiência que já vivi em comunhão com Deus não se explicam cientificamente senão seriamos como loucos. Acredito que o que vai ser do outro lado, todos vamos ver quando chegar lá pois todos teremos que passar pela morte e nisso todos somos iguais. Acredito que temos autoridade em nome de Jesus Cristo para dar ordem aos anjos que trabalham ao nosso respeito e acredito que aqui podemos sofrer muitas coisas. Também somos sujeitos a perder filhos, pais, empregos,...e tudo que nesse mundo tivermos que passar- Apenas que pela Fé alcançamos forças pra viver e continuar. Já passei em várias religiões, aprendendo sobre cada uma um pouco, mas o que ficou em mim é o resultado do que permiti que ficasse independente de opiniões. Sei que milhões se divergem da minha forma de pensar e não quero debater religião, apenas aceitei seu convite. Um grande abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que bom, Simone, vê-la por aqui, falando com tanta sinceridade. A fé, para mim, é realmente um problema: ou se acredita sem ir às raízes das religiões ou ficamos por aquilo que a Ciência consegue explicar, o que não é muito para a nossa complexidade de ser "virado" para o ininito, o eterno. Então, não discuta religião! Acredite no que lhe der mais jeito para ser feliz nesta vida - esta que é certa porque nos sentimos vivos! - mesmo pensando - sem provas, é claro! - que a outra também existe. Se, entretanto, quiser passar por aqui, ver o que vou escrevendo sobre aquilo que penso ser a VERDADE, terei imenso prazer em dialogar consigo. Em breve, falarei do Deus da Harmonia Universal. Será que Ele lhe dará uma resposta às suas dúvidas? Será que será resposta para todas as dúvidas dos Homens?!
      Cordialíssimas saudações!

      Eliminar
  4. Com certeza voltarei, acho que nada se perde e vou apanhando o que forma um conjunto para ir crescendo e aprendendo cada dia mais. Um grande abraço.

    ResponderEliminar