segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Homem, o Tempo e o Transcendente (2/3)

Voltemos, então, às clássicas perguntas: “Quem sou eu? Donde venho, o que faço aqui e para onde vou?” A resposta mais óbvia até é fácil. Quem sou? – Sou um ser vivo, pertencente à classe dos primatas, dotado de um cérebro capaz de raciocínios abstractos e de deduções elaboradas, de sentimentos e emoções, cérebro a que, por isso e por ignorância, um dia, chamaram de alma ou espírito. Donde venho? – Venho do Nada: antes de eu ser tudo existia: o Universo com toda a sua grandeza, todos os seus mistérios; e tudo continuará a existir depois que me for, pois, bem vistas as coisas, nada valho face ao Universo! O que faço aqui? – Vou viver, por aqui, nesta engrenagem universal, engrenagem sempre em movimento, sempre em mudança constante com o Tempo que não pára e nos envelhece dia-a-dia, inexoravelmente levando-nos para o fim: a morte..., uns oitenta, noventa, cem anos – mil que sejam ou... fossem! E, depois, para onde vou? – Vou voltar para o Nada de onde, um dia, vim, não deixando qualquer rasto, mesmo que seja um Einstein ou um Jesus a quem chamaram de Cristo, esquecidos, quase de certeza – esta afirmação nada tem de cientifico, cogitações apenas! – daqui a um milhão de anos ou, se quiserem, mil milhões, que a Terra e o Homem, provavelmente nela, ainda tem uns quatro mil milhões de vida pela frente. Mas também a Terra e tudo o que nela habita, tal como todo o ser vivo ou não vivo, acabará com a morte da estrela que lhe dá vida: o Sol! Disto, a Ciência e os astrónomos não têm dúvidas! Acreditemos, pois, para não sermos imbecis! Permitam-me que, aqui, cite a Bíblia do agrado de tantos fundamentalistas biblistas: “Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris”: “Lembra-te, ó Homem, que és pó (ou vieste do pó) e para o pó voltarás”. (Gn 3,19) Diríamos mais correctamente, com Lavoisier, que nada acaba, tudo se transforma, tudo continuando, tudo se transformando ora em seres com vida, ora em tremendos monstros de luz e energia, estrelas sempre morrendo, sempre se transformando em super-novas, na mesma ou em outra galáxia que também estas não param no seu rumo imparável para o Grande Desconhecido! Este, sim, este é um total mistério! Algum dia o Homem o desvendará? Talvez! Quem sabe? É que o Homem é uma das mais novas criaturas, resultado da evolução criativa, pela força da Natureza ou, se quiserem do Deus-Criador: diríamos que nasceu ontem, nos seus cerca de quatro milhões de anos que tem de vida. Ora, ninguém conseguirá predizer como se desenvolverá o seu cérebro até ao fim dos Tempos terráquios, ou seja, durante os próximos quatro a cinco mil milhões de anos?! Mas o Homem – NÓS! Com maiúscula para assumirmos toda a nossa importância de seres superiores dotados de alma racional, distinguindo-nos de todos os outros seres vivos que apenas têm uma alma primária ou vivencial, ou seja, perspectivada em função da conservação da sua espécie – não aceita de bom grado ter vindo à vida, como qualquer ser vivo, mas, por ter “alma racional”, pensa que tem direito a privar com o transcendente ou divino e a prolongar-se pela eternidade, com Ele – chamemos-lhe Deus – num Céu de delícias, o almejado Paraíso apregoado em todas as religiões, com mais ou menos nuances ou efabulações. O paraíso mais bizarro é o proposto por Maomé para os homens: “centenas de virgens à sua espera para os fazerem felizes por toda a eternidade!” Também não podemos esquecer o contra-ponto: o Inferno com os seus simpáticos demónios para onde irão os condenados também por toda a eternidade... Por bizarros que são Céu e Inferno, rondando tais conceitos a irracionalidade, ainda falaremos aqui do assunto, já que faz parte da crença de milhões de fiéis, não só católicos mas também de outras religiões.

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