segunda-feira, 31 de outubro de 2011

“Quem foi (é) Jesus Cristo?” – 4

A pergunta que qualquer leigo cristão intelectualmente honesto, em relação à sua Fé, será: “Sendo Cristo um mito do Jesus histórico, desde o seu nascimento até à sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu, até ao seu Deus-Pai (de quem dizem ser Filho unigénito e a Ele consubstancial), o simpático Paraíso, o justo Inferno, o tremendo Juízo Final, obviamente tudo invenções, efabulações, produtos do meio político, sócio-cultural e religioso em que se vivia, que racionalidade há em se continuar a ensinar no catecismo e a rezar nas missas de todo o mundo um Credo que consagra como Verdade Eterna aquelas efabulações?” Para não nos alongarmos mais, voltemos ao assunto da ressurreição, pois foi a ressurreição que fez Paulo dar origem a esta religião que se veio a chamar cristianismo e que teve o sucesso e a expansão que teve. Se não fosse isso, Jesus não teria passado de “uma teoria filosófica simpática, no campo do humano e do social”. Mas não! Paulo afirmou – escrevendo-o uns vinte a trinta anos depois da morte de Jesus, que ele ressuscitara e que nessa ressurreição deveríamos acreditar (a Fé!) para garantirmos a salvação, sendo aquela "verdade" o penhor da nossa própria ressurreição. Da confusão entre uma ressurreição da carne (que logicamente voltaria a morrer – o que teria acontecido com Lázaro, caso a história da sua ressurreição fosse verdadeira) e uma ressurreição do espírito, espírito que, afinal, não teria morrido com o corpo, nem teólogos nem fiéis se entenderam ao longo da História, nem se entendem ainda hoje. O que não deixa de ser problemático para o crente ou para nós que analisamos, com imparcialidade, sempre na busca de Verdade, estes fenómenos. Aliás, no Credo, ainda se diz: “Creio na ressurreição da carne e no mundo que há-de vir.” Poderemos facilmente concluir – e pomposamente, diria sem margem para dúvidas! – que o cristianismo, como aliás, todas as religiões, nasceu de uma efabulação: “Alguns dos seus discípulos disseram que Ele estava vivo” (Tomé foi uma honrosa excepção...), “facto” mais tarde secundado por Paulo, na sua suposta visão/revelação, tudo isto descrito, primeiro, nas cartas de Paulo (20-30 anos após a morte de Jesus), depois, nos evangelhos que, como já todos concordam, não são documentos históricos ou totalmente históricos mas escritos para confirmarem na Fé as nascentes comunidades cristãs (40-60 anos após a morte do mesmo Jesus). E assim, se cristificou e mitificou Jesus. E assim, nasceu mais uma religião, derivada do Judaísmo ou nascida no seio do Judaísmo, protagonizada por um judeu ignorado pelos historiadores do seu tempo – Jesus – e que os seus discípulos mitificaram em Cristo. Não nos cansamos de repetir: se o que é narrado nos evangelhos acerca de Jesus fosse verdade – tantos e tão fantásticos milagres! – não haveria um mas muitos documentos da época que o reportariam, sobretudo os livros dos consagrados Flávio Josefo e Fílon de Alexandria. Diríamos ainda – e para finalizar tão apaixonante assunto – que o actual Credo católico foi elaborado ao longo dos três séculos seguintes e finalmente consagrado no concílio de Niceia em 325, sabendo-se que não foi pacífica a sua consagração, muitos dos bispos presentes opondo-se às várias “verdades” ali exaradas, nomeadamente a “consubstancialidade ao Pai”. O que é certo é que assim se continua a exigir aos fiéis que acreditem! Será intelectualmente honesta tal exigência da Igreja? Do papa aos sacerdotes que consagram tal exigência, aos teólogos e exegetas católicos, poder-se-á dizer que são intelectualmente honestos? Fica a pergunta!

7 comentários:

  1. Então será que só o sr é que é intelectualmente honesto?! Tantos que estudam estas questões e chegam a conclusões completamente opostas às suas. Aliás o sr não conclui partindo de raciocínio correcto. Nada disso. O sr discorre sobre o assunto, mas tudo pela rama e, depois, digamos, diz umas coisas, tipo generalidades, mas o seu raciocínio não tem uma verdadeira fundamentação.
    Já lhe disse isto em apontamentos anteriores e repito: se os apóstulos não tivessem falado e não O tivessem proclamado aos quatro ventos, ninguém mais ouviria falar d'Ele. O que os fez então mudar de atitude? Serem fortes(quando antes eram fracos)e destemidos anunciando o Mestre? Isto só aconteceu passados 3 dias após a Sua morte. Porquê? Como se encontra explicação para isto? Pedro, durante o processo da Sua Paixão, quando uma mulher disse que ele (Pedro) era um dos d'Ele, ficou à rasca e nem sabia o que dizer. E após a Ressurreição como era este Pedro e os companheiros? O sr não se enterroga sobre isto? Porquê se eles estavam completamente esmagados após a morte trágica do Mestre?
    Meu caro, dê-lhe as voltas que quiser, mas, se os discípulos não O tivessem proclamado(num ambiente hostil expondo-se até à morte), do Jesus crucificado, ninguém ouveria falar nada, passada uma geração. Não teria sido mais que um condenado, sem história. Esse é o busílis da questão.

    ResponderEliminar
  2. Caro Francisco Domingues, parabéns por este excelente blog. É importante que este tipo de questões e informações cheguem a um público alargado. Tal como qualquer teoria científica, ideologia política, etc., a religião não deve ficar acima da crítica. No estado actual do meu conhecimento e tendo em conta as leituras que realizei também sou levado a acreditar que estamos perante uma ficção monumental. Basta ler um pouco de história e um pouco de Bíblia...

    Caro Cisfranco, na questão específica que levanta talvez esteja a subestimar os interesses pessoais (materiais e afectivos) envolvidos na criação de um novo movimento religioso. Já imaginou o que era para aqueles homens poderem dizer nos seus círculos sociais que tinham sido companheiros do messias, do filho de Deus... Os benefícios superavam os riscos!

    ResponderEliminar
  3. Caro Cisfranco, não consigo concordar consigo, embora, claro, respeito a sua visão dos "acontecimentos". E ponho "acontecimentos" entre aspas, pois, não temos certeza nenhuma de que tenha sido assim. Já apresentei aqui várias razões fundamentadas e não superficiais, como o facto dos evangelhos e os actos terem sido escritos por discípulos dos discípulos (Lucas era discípulo e médico de Paulo), as cartas serem na sua maioria pseudográficas, i.é. (desculpe a explicação) escritas por outro, mas fazendo-se passar pelo apóstolo mais conhecido, não termos os originais mas apenas cópias do séc. IV, os evangelhos terem sido escritos entre 40 a 60 anos após os supostos acontecimentos e não com finalidade narrativa histórica mas para fundamentar na Fé as comunidades nascentes (vejam-se, por exemplo, os milagres impossíveis ali narrados), etc. Duas coisas são certas: 1 - Não há factos narrados em todo o NT que possam merecer indubitável credibilidade. (E isso era importantíssimo para que racionalmente pudessem ser aceites.); 2 - Os exegetas cristãos (mais os católicos) apenas poderão ter uns 50% de razão no que afirmam ou defendem pois se baseiam em factos não comprovados e que nos merecem todas as reservas. (Claro que, do ponto de vista da Ciência, têm 0% de razão!)
    Caro Cisfranco, se acha que tudo o que se afirma nos evangelhos em relação àquele súbito fervor, àquela súbita coragem manifestada pelos apóstolos é verdade e que a Ressurreição (carnal ou espiritual?) foi verdadeira, sem outros pertinentes considerandos que vamos por aqui apresentando, então, não há realmente muito mais a discutir. O facto (real!) da rápida expansão do cristianismo não terá sido devido tanto àquele fervor e àquela coragem dos discípulos mas ao contexto sócio-religioso da época a que me referirei em próximos textos. (Pode comparar, mutatis mutandis, com a rapidíssima expansão do maometismo, usando estes muito mais o argumento da espada que o da fraternidade universal em que já não havia mais ricos nem escravos, mas todos irmãos porque filhos do mesmo Pai...)

    ResponderEliminar
  4. Caro Pedro Miguel Cardoso,
    Bem-vindo a estes comentários! Como reparará no meu próximo texto, este blog não foi criado para destruir mas para construir um pensamento muito mais humanizado, sem subterfúgios ou mistérios onde todas as religiões (mormente as cristãs e, nestas, a católica) se refugiam para, consciente ou inconscientemente fazerem uma espécie de "lavagem ao cérebro" dos crentes, não os deixando questionar. Claro que nem todos os eclesiásticos serão intelectualmente desonestos; mas que deveriam permitir e pôr à discussão as verdades inquestionáveis do seu Credo, não tenho a mínima dúvida. E não o fazem. Pelo contrário, continuam a rezá-lo em todas as missas... Agradeço que continue a participar, pois teremos muito mais para dialogar. Sempre em nome da busca da Verdade que só dignifica o Homem na sua condição de ser racional.

    ResponderEliminar
  5. Caro Francisco Domingues,

    Obrigado pelas boas-vindas. Pode contar com o meu contributo. Não sou contra as religiões e respeito a liberdade de cada um acreditar no que quiser. No entanto julgo que depois de séculos de propaganda desmedida e imposições religiosas faz falta um movimento de questionamento e desconstrução de certos mitos. Será que as religiões tradicionais podem corresponder às exigências intelectuais e éticas dos tempos actuais? Sobreviverão quando as pessoas ganharem consciência dos seus erros e mentiras? São algumas das questões que eu me coloco.

    ResponderEliminar
  6. Caro Sr.
    As suas explicações são sempre considerandos discursivos e marginais da questão fundamental, à qual o sr foge e não responde. As questões não têm todas o mesmo valor. E o sr prefere a gravitação em torno de questões menores, que fazem toda a sua dialéctica evasiva e são todo o seu enlevo. Mas, explicar por que é que os discípulos de um dia para o outro começam a falar da maneira que o fizeram, isso o sr não explica. Fala em contexto socio-religioso da época, isto é, foge à questão.
    Não foram eles que falaram do Mestre? E se não foram eles quem é que poderia ter sido e porquê? Quem é que ousou falar num condenado para que a crença nEle se mantivesse e expandisse ao ponto de haver comunidades nascentes, a quem se destinavam as narrativas, 40 a 60 anos depois dos acontecimentos? Foi o contexto socio-religioso da época que fez tudo? De qualquer acontecimento, se não se falar, passada uma geração, ninguém se lembra de nada. Ainda para mais naquele tempo. Quem se havia de lembrar de um condenado, morto e sepultado como tantos outros? E porquê, não só falar nEle, mas também por Ele morrer, se nada de especial se passou? Não acha tudo isto sem sentido? E que, a ser assim, já não haveria necessidade de escrever narrativas para edificação das comunidades nascentes?
    Mas o sr usa (e abusa da) a dúvida permanente (não a metódica), que lhe permite discorrer airosamente sobre o assunto, contudo, não dizendo nada, que não tenha já sido dito.

    ResponderEliminar
  7. Caros amigos, remeto-vos para o meu último texto.
    Saudações cordiais!

    ResponderEliminar