domingo, 15 de maio de 2011

A ressurreição, mito impossível! (4/4)

A ressurreição de Jesus Cristo é a base de toda a Fé cristã! E “Se Ele não ressuscitou é vã a nossa Fé”, diz Paulo e nós não nos cansamos de repetir.
Comecemos pelas narrativas nos quatro evangelhos onde, pela tamanha importância do acontecimento, se exigiria, pelo menos, coincidência nas personagens envolvidas.
Mateus, revelando mais uma vez a sua fértil imaginação, diz: «...ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver a sepultura. De repente, houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do Céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela. (...) Então, o anjo disse às mulheres: “Não tenhais medo. Eu sei que procurais Jesus que foi crucificado. Ele não está aqui. Ressuscitou como havia dito! Vinde ver o lugar onde ele estava.(...)»
Marcos: «... bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do Sol, (Maria madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé) foram ao túmulo. (...) quando olharam viram que a pedra já havia sido tirada. Então, entraram no túmulo e viram um jovem sentado do lado direito. (...) O jovem disse-lhes: “Não vos assusteis. Procurais Jesus de Nazaré que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui. Vede o lugar onde o puseram.(...)»
Lucas: «No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus (...) Encontraram a pedra do túmulo removida. (...) Nisto, dois homens com roupas brilhantes pararam perto delas. Cheias de medo, elas olhavam para o chão. No entanto, os dois homens disseram: “Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou! (...)” Eram Maria Madalena, Joana, e Maria mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas contaram estas coisas aos apóstolos.(...) Pedro levantou-se e correu ao túmulo. Inclinou-se e viu apenas os lençóis de linho.»
João: «No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo, bem de madrugada quando ainda estava escuro. Ela viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. (...) Pedro e o outro discípulo saíram e foram ao túmulo. (...) Viram os panos de linho estendidos no chão e o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus e ... voltaram para casa. (...) Maria tinha ficado fora a chorar. (...) Viu então dois anjos sentados onde o corpo de Jesus tinha sido colocado (...) Então, os anjos perguntaram: “Mulher, porque choras?” (...) Depois disto, Maria virou-se e viu Jesus de pé.(...) Jesus disse: “Não me segures porque ainda não voltei para o Pai. (...)”»
Constatamos que há dois dados interessantes coincidentes: 1 – O primeiro dia da semana de madrugada 2 – Maria Madalena que está sempre presente, só ou acompanhada. Mas a ressurreição em Mt, Mc e Lc é anunciada por um ou dois (homens ou anjos) a diferentes mulheres, e, em Jo, é o próprio Jesus a apresentar-se como ressuscitado a Maria Madalena. Perante a disparidade das narrativas, concluiremos facilmente que não pode acreditar nelas quem exigir factos rigorosamente documentados.
Por outro lado, esta auto-ressurreição diferencia-se das outras narradas na Bíblia, porque Jesus aparece com um corpo que ora é material – “Mete a mão aqui no meu lado! (...) Partiu e comeu o pão” – ora espiritual ou glorioso, pois entra e sai sem abrir portas ou janelas... Diríamos, pois, que é uma ressurreição com as duas vertentes: a humana e a divina, aquela em ordem a ser visto e convincente, esta em ordem a subir ao Céu e ir para junto de seu Pai.
Acresce, no entanto, um grande problema de difícil solução, pergunta de resposta impossível: Sabendo Jesus da importância da sua ressurreição para fundamentar a religião nascente, cimentar a sua mensagem e dar-lhe credibilidade, sobretudo à sua vida eterna, como se limita a aparecer aos “seus”, primeiro a uma ou várias mulheres que o seguiram e, depois, aos apóstolos? Como é que, sendo divino e tudo sabendo, conhecendo portanto o impacto que teria sobre aquele povo e o mundo que viria a conhecê-Lo, não se apresentou ressuscitado aos seus algozes, judeus e Pôncio Pilatos, enfim, a todo o povo que o seguiu, o aclamou aquando da sua entrada em Jerusalém e, depois, gritou: “Crucifica-o! Crucifica-o!”? E teria sido um alvoroço enorme, em todo o Império Romano! Todo o mundo a converter-se à sua mensagem de fraternidade universal e à sua vida eterna. Os próprios algozes rendidos ao impensável! Atingindo plenamente os seus objectivos e os de seu Pai: a salvação de todo o Homem e logo a partir daquele momento! (Deixemos o problema de o Homem existir há cerca de 4 milhões de anos...) Qualquer pessoa sensata agiria de tal modo. Quanto mais o Filho de Deus!
Assim, para uns, a ressurreição de Jesus, a quem chamaram o Cristo, não é mistério nenhum. É uma pura encenação dos evangelhos. Para outros, não!
A Verdade, porém, é que nada do que se conta deste Jesus ressuscitado encerra suficiente verosimilhança ou merece credibilidade inquestionável.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A ressurreição, mito impossível! (3/4)

Imaginemo-nos no real da cena da ressurreição de Lázaro: “Lázaro, sai cá para fora!” E Lázaro, apesar de atadas mãos e pernas, ali aparece, sem cheiros de morte de quatro dias, talvez sorridente, talvez estremunhado, esfregando os olhos, não sabemos se agradecendo, se apenas orgulhoso de ter vencido a morte – embora por interposta pessoa, interposto poder – e... foi à sua vida. Certamente, comer e beber, pois era necessário colmatar fome e sede para não, logo ali, voltar a morrer de inanição! Mas... foram quatro dias, senhores! E, em quatro dias, há forte degradação de todos os tecidos corporais. Portanto, à voz de comando de Jesus, todas aquelas células, em correria louca, ou num ápice, voltaram para o seu lugar, irrigadas de sangue arterial, o coração ganhou o ritmo perdido, a respiração, inicialmente ofegante, passou rapidamente a normal, os olhos abriram-se de novo à luz, a face apareceu aos presentes, rosada, manifestando vida e saúde, a alegria do regresso transbordando pelos poros da pele... Lázaro era um homem novo e os quatro dias que passara no Além – e teria sido muito interessante para os parapsicólogos da altura terem-no interrogado sobre tão profícuo lapso de tempo em aventuras celestiais ou infernais, tirando conclusões que ficariam para a História acerca de um estado post-mortem! – deram-lhe certamente uma nova perspectiva da vida aquém e além para que aproveitasse a terrena da melhor forma possível... Infelizmente, nada mais é dito sobre o assunto: uma perda irreparável! O taumaturgo divino, além de se preocupar com o modus operandi dos elementos em causa – neste caso, os biliões de células que compõem o corpo humano, a começar e a acabar no cérebro – também poderia ter em conta virtualidades circunstanciais do acto!
    Mas... um grande “Mas” se projecta no horizonte da veracidade ou falsidade deste empolgantemente bem descrito fenómeno: aparecer apenas em João, o último dos evangelistas, que terá escrito o seu evangelho bem nos finais do séc. I. E faz dele derivar toda a narrativa seguinte, pondo uma população admirada à procura de Jesus e os fariseus, cheios de inveja por perderem carisma e protagonismo diante do povo, com Caifás na liderança, apelando para o perigo que a Pátria corria, tentando, pois, liquidá-lo. A ter sido verdadeiro tamanho milagre, que certamente correu mundo através da multidão embevecida presente, alguma vez teria passado despercebido a Mateus, o maior inventor de milagres realizados por Jesus? – Nunca! Absolutamente impensável! Esta foi uma lacuna que os falsários dos séc.s III e IV deixaram passar e que se revela actualmente de consequências terríveis: a descrença total em tal milagre admiravelmente descrito por João, mas que existiu apenas na sua cabeça para emoldurar o “romance” religioso que escrevia sobre um Jesus de quem, havia muitos anos, como ele diz, tinha sido o predilecto... Ora, sendo este um falso milagre, o que poderemos – ou deveremos! – concluir de todos os outros? Melhor: como poderemos distinguir o que é factual do que é fantasiado nas narrativas evangélicas?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A ressurreição, mito impossível! (2/4)

Neste capítulo, poderemos dizer que a cultura judaica se suplantou à helénica que defendia a imortalidade dos seus heróis e poetas, na memória dos Homens, introduzindo o conceito da ressurreição post-mortem e ida para o Além onde se viveria para sempre. For ever!... Não só para os heróis, mas para todo o ser humano. Onde? – Num Céu, primeiro difuso, no AT, depois concretizado por Jesus, no NT, com anjos e santos e Deus no seu altíssimo trono..., ou num Inferno, invenção também do NT, com os primeiros padres “teólogos” da Igreja a darem-lhe corpo, enchendo-se de diabos e figuras monstruosas na Idade Média...
Há narrativas de várias ressurreições na Bíblia. Se as há em outros livros religiosos, não têm o mesmo carisma que estas.
No AT, a primeira referência a ressurreições corporais aparece em 2Rs. Trata-se do profeta Eliseu, “conhecido” pelos seus muitos milagres, entre os quais, a ressurreição do filho da sunamita (2Rs 4,8-37) e a do homem que, caindo na sua sepultura, ao contactar com os seus ossos, ressuscita! (2Rs 13,21). Outras referências menos explícitas encontram-se em Isaías (25,8; 53,10-12), Job (19,25-27), Salmos (16,10; 17,15; 49,16), e mais explícitas em 2Mc (7,9.11) e Dn (12,1-3).
No NT, são feitas inúmeras referências à vida depois da morte, quer nos evangelhos, por Jesus, quer nos Actos e nas Cartas, pelos apóstolos, tendo ficado célebre a frase de Paulo “Se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé” (1Cor, 15.14). São três as ressurreições atribuídas a Jesus, dito o Cristo – a filha de Jairo (Mc 5,41), o filho da viúva (Lc 7,11.17), e a mais paradigmática de todas, a de Lázaro, já morto havia quatro dias. Esta, analisá-la-emos no próximo texto. Mesmo Pedro ressuscitou Tabita, segundo os Actos dos Apóstolos (9,40)...
Ora, que credibilidade nos merecem tais narrativas? Diríamos que nenhuma! São fantasias dos autores dos textos, realmente com alguma inspiração, obviamente sem nada de divino. No AT, aquele Eliseu em tudo o que tocava transformava em milagre... Foi uma espécie de Jesus dos evangelhos, sobretudo o evangelho de Mateus, antecipado... Curioso é o facto de Mateus, o maior inventor de milagres realizados por Jesus, não mencionar uma ressurreição.
Para melhor percebermos estes assuntos, mencionemos o facto de tudo se ter passado em tempos extremamente conturbados para os judeus. A braços com um invasor romano, necessitavam imperiosamente de um salvador, um messias que os livrasse de tal impiedoso ocupante: todos os que não obedeciam a César eram crucificados! O trauma culminou com a destruição do Templo em 70, após a revolta judaica de 67, tendo os evangelhos sido escritos a partir desta data até final do século. Ora, sendo impossível estabelecer um reino terreno, os religiosos revolucionários do tempo viram naquele Jesus - judeu que se evidenciou por, contra a classe religiosa instituída e conluiada com o poder, pregar uma mensagem de fraternidade universal - um messias, um salvador! Daí a fantasiarem tudo o que se conhece dos evangelhos à sua volta foi um passo, passo que teve enorme sucesso junto de judeus e gentios exactamente pela força da mensagem de fraternidade universal que continha.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A ressurreição, mito impossível! (1/4)

Interrompemos o nosso diálogo sobre o Deus impossível das religiões para introduzir, na circunstância pascal que vivemos, o tema mais caro aos cristãos – a RESSURREIÇÃO – pois, no dizer correcto de Paulo, “Se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé”.
Numa primeira abordagem, filosófica e científica, claramente se vê que a realidade dos factos desmente tal possibilidade concedida aos humanos, seja a ressurreição apenas da alma, seja a do corpo e alma, como defendem os mais fantasiosos ou mais românticos, ali, com carninha nova, todos como se tivéssemos vinte anos!... Os factos manifestam, porém, que não há nenhuma prova credível de qualquer ressurreição. Pelo contrário, constata-se que todos os que morreram e vão morrendo se integram na terra de onde afinal vieram, transformando-se, qual matéria inerte, em átomos e moléculas de outros seres vivos ou de matéria amorfa. A morte não é mais que o fim de um ser vivo – animais e plantas – ser que foi matéria impregnada de energia e que, quando a matéria deixou de ter as capacidades de se renovar, a energia – alma, se quiserem – libertou-se ou... apagou-se! Aliás, é o que acontecerá ao nosso Sol e o que acontece com todas as estrelas: nascem, vivem e... morrem! Mas a morte, nossa ou das estrelas, é apenas transformação. Pois, para onde poderia ir a matéria e a energia consumida se nada se pode escapar do espaço sideral?
O Homem não pode ter a presunção de ser excepção!
O conceito de ressurreição está directamente relacionado com o de imortalidade e de eternidade. Para se ser imortal ou eterno, a morte real, de algum modo, teria de ser aparente, uma passagem para o outro lado da... Vida! E não há dúvida de que todo o ser racional, por um instinto vital de sobrevivência mais agudo e pensado do que nos irracionais, não admite, sem estremecer, que, como eles, possa acabar sem deixar rasto ou sem se prolongar pelo não-tempo que é a eternidade. Então, todas as religiões, de uma ou de outra forma, fantasiaram tal possibilidade, conquistando com tal simpática e romântica fantasia, muitos adeptos.
Em próximos textos, analisaremos o mito da ressurreição na Bíblia do AT e do NT, onde a ressurreição de Jesus, a quem chamaram o Cristo, pontifica sobre todas as outras...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Deus das religiões conhecidas não pode existir (5/6)

Que Deus-Pai, o de Jesus Cristo!
Jesus, pondo de parte o carácter sanguinolento e violento de Javé do AT – assunto que ignora completamente, segundo transpira dos evangelhos que, como sabemos, pouca credibilidade histórica nos merecem, visto terem sido escritos não como documento histórico, mas como manifesto-base da religião nascente – faz do seu Deus o seu “Pai que estais no Céu”, misericordioso e pronto a perdoar os pecados dos Homens arrependidos, sentado majestaticamente lá em cima no Céu, servido de anjos e arcanjos, louvado por santos que, mesmo não sabendo cantar – invenção romântica minha! – entoavam hossanas sem cessar..., Pai esperando todo o ser humano que tendo tido vida santa na Terra iria para o pé dele, após a morte, por toda a eternidade sem fim, amen!... Isto, após um enigmático Juízo Final onde diria aos bons: “Vinde para a minha direita!” E aos maus: “Ide para as profundezas dos Infernos fazer companhia aos demónios para todo o sempre”!
Mas é um Pai, no mínimo, estranho! E, aqui, entroncamos num assunto da máxima importância para o cristianismo: Deus ter um Filho e submetê-lo ao vexame da tortura seguida da morte de cruz, tudo contra a sua vontade, sendo ele, segundo a enigmática teologia da Igreja, um só com o Pai: “Pai, se é possível afasta de mim este cálice, mas faça-se a tua vontade e não a minha”, fazendo-o um Cristo sofredor, como cordeiro imolado, para que se cumprissem as Escrituras. Um Deus-Pai que tal fez não só caiu no ridículo como se tornou, obviamente, impossível! Então, não tinha, na sua infinita sabedoria melhor para oferecer a seu único Filho do que uma morte e morte de cruz, contra a sua vontade? E se era uno com o Pai, havia entre eles duas vontades antagónicas? As Escrituras (escritas, como sabemos, sem qualquer intervenção de Deus e nas quais se podem encontrar argumentos para quase tudo...) eram assim tão potentes que Lhe impunham tal decisão? Onde, afinal, esteve a Misericórdia deste Pai de J.C.? Só no meio de um povo afectado pelo síndroma da ocupação romana, sequioso de um Messias que o viesse libertar, poderia conceber-se tal aberração: é que, como a libertação política real era impossível, restava a libertação espiritual com a criação de um Rei com um Reino que “não era deste mundo”... E é pena! Pois quem não quisera poder acreditar no misericordioso Pai de J.C., com o seu Céu, os seus anjos, a sua eternidade? Quem?
O Cristo crucificado mereceria todo um texto! Mas basta dizer o quão deprimente é esse crucifixo, símbolo das religiões cristãs, que pontifica em todas as igrejas e ao peito de todos os monges e reverendos, o do papa, obviamente, de oiro, o dos pobres, de madeira ou ferro! Pobre Cristo! Como deturparam a tua real mensagem de amor ao próximo e de fraternidade universal! Como te fizeram triste e inútil e estático sem nada poderes fazer em tantos nichos e altares, além de anunciares o teu sofrimento!... Como terias sido muito mais humano se não te tivessem feito Cristo e Cristo sofredor!...
Da tua suposta ressurreição falaremos no próximo texto. Então, até lá e Boa Páscoa!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Deus das religiões conhecidas não pode existir (4/6)

Falemos, hoje, de Javé!
Javé dos Judeus, que Deus é? – Um Deus inventado pelos patriarcas daquele tempo, destacando-se entre eles Moisés, séc. XII a.C., como meio de aglutinação e de controle do povo de Israel, povo de “cabeça dura”, como é referido várias vezes na Bíblia do AT, fazendo face ao deus ou deuses dos povos que eles queriam anexar ou aos quais queriam usurpar a terra, os fenícios e cananeus que, entre outros, adoravam e prestavam culto ao deus Baal. A invenção de Javé proporcionou a Moisés e aos patriarcas que lhe sucederam um fácil controle do povo, apoiados numa forte classe sacerdotal que ditava as leis provindas do mesmo Javé. O momento mais carismático é o descrito no Êxodo (Ex 20,3-17), quando, aparecendo a Moisés numa sarça ardente, lhe dita o decálogo, os actuais Dez Mandamentos, mandamentos já alterados e chantagiados pela Igreja Católica: compare-se o original, em boa tradução, e o catecismo! Claro que os Dez Mandamentos não foram ditados por Javé a Moisés, mas são uma cópia mais ou menos literal do Código de Hamurabi, rei da Babilónia, c. séc. XVII a.C.
Podemos imaginar o modo como os judeus, melhor, o povo hebreu, “tratava” ou privava com Javé. Seria certamente semelhante ao modo como os muçulmanos hoje se exprimem: “Alá assim o quer!”, “Seja tudo por Alá!”, “Alá é grande!” E, ao som de tais ritos e slogans, cometiam algumas das maiores carnificinas de que há memória ou de que reza a História. Veja-se este significativo elenco:
Gn 19,26; 38,7.10 / Ex 32, 27-28 / Lv 24, 10-23 / Nm 15, 32-36; 16, 27,35.49; 25,9; 31, 1-35 / Js 7, 24-2; 8, 1-25 / Jz 1,4; 3, 15-22; 3, 28-29; 7, 2-22; 14, 19; 15, 14-15; 16, 27-30; 20, 44-46 / 1Sm 6, 19; 14, 12; 15, 32-33; 35, 28 / 2Sm.6,6-7; 12,14; 21,6-9; 24,13 / 1Rs. 20,30; 20,35-36 / 2Rs.1,9; 2,23-24; 7,17-20; 9,33-37; 17,14 / 2Cr 13,15-17; 13,20; 21,14-19 / Ez 24,15-18.
Caracterizando tão antipático Deus, fazendo fé na Bíblia do AT., Javé era um deus ciumento, epíteto que Ele próprio não se cansava de repetir logo que o “seu” povo “eleito” lhe era infiel e adorava outros deuses ou se desviava do culto imposto pelos levitas e servidores do Templo, tudo ao redor da Arca que guardava as Tábuas da Lei! Mas não só: era sedento de sangue, pois, "servindo-se" da boca dos patriarcas reinantes, ordenava carnificinas e ditava as leis que lhes permitiam ter várias mulheres, escravos e escravas, tendo o patriarca, muitas vezes, direito de vida ou morte sobre eles. Era também ignorante! Altamente ignorante, nada sabendo nem das origens do Universo nem do começo da vida nele, nem da evolução das espécies, desembocando no Homem actual, nem da configuração da Terra no espaço sideral, etc., etc. Isto é: nada mais sabia do que aquilo de que as culturas dos povos vizinhos se faziam eco! E mais! Mas... será necessário acrescentar algo mais para dizer com toda a certeza que este Javé é um deus impossível?
Tirem-se, então, as devidas conclusões! Filósofos e teólogos! Por favor!

domingo, 3 de abril de 2011

O Deus das religiões conhecidas não pode existir (3/6)

Convencidos que estamos de que convencemos “meio mundo” da impossibilidade da existência dos deuses de todas as religiões até hoje aparecidas nas diversas civilizações que fazem parte da História do Homem, resta-nos referir que a ideia de Deus, a sua existência ou a explicação da sua existência tem sido transversal ao longo dos séculos, e tema abordado por filósofos e teólogos de todos os tempos, sobretudo os mais próximos. Aliás, continua: teólogos de todas as religiões continuam a tentar provar o “impossível”, normalmente construindo pelo telhado, i.é., admitindo sem discussão, a revelação divina dos livros ditos sagrados. Provas? – Nenhumas!
De uma forma ou de outra, todos se esforçaram, ou se esforçam, por apresentar provas da existência de Deus, um único Deus, obviamente, tendo já desaparecido as causas ou razões que provocaram o aparecimento de inúmeros deuses e deusas, com um Olimpo criado ou fantasiado ao modo humano, fazendo-nos sorrir aquele Zeus lá pontificando ou aquela Vénus voluptuosa dando voltas à cabeça dos seus pares...
Assim, desde Sto Agostinho na sua “Civitas Dei” a Descartes nos seus “Princípios de Filosofia”, passando por S. Tomás de Aquino na sua “Suma Teológica”, foram apresentadas provas de cariz lógico-dedutivo, partindo do movimento ou da causalidade – se há movimento, houve primeiro um Motor – ou da contingência dos seres – se somos seres contingentes tem de haver um Ser absoluto – ou dos graus de perfeição – se há imperfeição, tem de haver a Perfeição – ou da existência do mundo e do Universo – se há algo criado tem de haver um Criador, pois do Nada nada vem – chegando-se assim à necessidade absoluta de um Ser Criador, um Ser Superior, Infinito e Eterno..., a quem se chama Deus! Em todos os argumentos, no entanto, esquece-se a incontornável verdade de que, se esse Ser é infinito e eterno, tem de ser Ele a Causa e o efeito, o Perfeito e o imperfeito, o Absoluto e o contingente, o Motor e o movimento...
Realmente, o único Deus racionalmente credível é aquele de quem já aqui falámos e voltaremos a falar: o Deus da Harmonia Universal que tudo integra e onde tudo se integra, Espaço e Tempo, nós também, obviamente! Um Deus fantástico, não?!