domingo, 17 de dezembro de 2017

É Natal! Alegremo-nos! Sorrindo à VIDA...


Esta época festiva faz-nos pensar, não na história do Natal, que é de todos conhecida, mas na sua autenticidade/veracidade.

Estive numa pequena cidade da Alemanha, Trier, e visitei a única igreja protestante aí existente: um enorme barracão rectangular, construído em tijolo, datando do séc. IV, chamando-se, aliás, de Constantino, imperador romano à época. Nada de imagens; apenas uma enorme cruz, no único altar, muitas cadeiras enfileiradas no vasto espaço e, na lateral direita, perto do altar, cinco bustos: o de Cristo e os dos quatro evangelistas, ladeando-o. Todos com ar sobranceiro ou seráfico, menos Lucas que se apresenta cabisbaixo. Interroguei-me e… cheguei ao Natal.
Confesso que senti um vazio pelo vazio do espaço. Embora percebendo o horror dos protestantes ao culto das imagens tão do agrado do mundo católico e ortodoxo, tantíssimas vezes mais de adoração (latria para Deus) que de veneração (hiperdulia para a Virgem, dulia para os santos), aprecio muito mais a exuberância escultórica e pictórica das igrejas e catedrais católicas e a sua arquitectura multiestilos.
Então, Lucas! Lucas é o inventor do Natal romântico. Tendo certamente lido as histórias do nascimento dos deuses antigos, nomeadamente as dos deuses solares egípcios, e apercebendo-se de que em Marcos nada se dizia a respeito do nascimento e da infância de Jesus e o que dizia Mateus era insuficiente, apesar de essencial (nascimento de uma Virgem, visita dos magos, a estrela que os conduziu ao menino, a fuga para o Egipto, a matança dos inocentes, o regresso a Nazaré), resolveu-se a romantizar e completar o cenário, com o nascimento milagroso de João Baptista, o precursor, o anjo a anunciar a Maria que estava grávida do Espírito Santo, o cântico de Maria, o nascimento de Jesus em Belém, numa manjedoira, os anjos cantando e aparecendo aos pastores, os pastores acorrendo…, (omitindo, certamente por não verídicos, a fuga para o Egipto, a matança dos inocentes ordenada por Herodes e o regresso a Nazaré, “factos” referidos em Mateus), terminando com a insólita aparição de Jesus, aos doze anos, a falar com os doutores do Templo, e com a frase lapidar: “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça diante de Deus e dos Homens”. Dos tempos de juventude e até ao início da sua pregação, trinta anos, nada foi achado relevante para ocupar a imaginação do evangelista.
Estamos, pois, perante uma bela história. História que cria simpatia e empatia, já que falamos do nascimento de uma criança, de uma mãe, de um mistério rodeando e rodeado por um cenário idílico.
O escultor, certamente protestante – e várias seitas de protestantes não celebram o Natal – quis pôr Lucas a pensar se não teria sido melhor nada ter inventado e ter deixado, para a posteridade, apenas o Jesus adulto com a sua forte mensagem de fraternidade universal, repetindo Marcos e Mateus.
Objectivamente, o escultor terá razão. Mas, analisando a História, quanto de beleza nas artes e na Fé não se teria perdido se não houvesse Natal! As músicas natalícias, os quadros natalícios, as esculturas natalícias, enfim os presépios que proliferam pelo mundo, desde o séc. XIII, em que Francisco de Assis lhe deu vida, corpo e forma…, não teriam feito o sonho das nossas mentes de criança, e não fariam o sonho de todas as crianças do mundo actual, filhas de crentes ou de não crentes.

Por isso, BOM NATAL! Mesmo que a sua mensagem não se cumpra, mesmo que saibamos que continuam a morrer, diariamente, milhares de crianças, por não terem que comer ou não terem medicamentos para se tratar ou, simplesmente, por serem vítimas das guerras desencadeadas pela avidez do lucro e do poder dos adultos que (des)governam o mundo! Mesmo que não haja nem prendas, nem paz, nem fraternidade entre os Homens! Mesmo assim…, BOM NATAL, com um largo SORRISO, emoldurando-nos a face!

2 comentários:

  1. Segundo o seu texto Lucas romanceou os acontecimentos e inventou. E que provas tem o sr para afirmar isso? Apresente 1 prova convincente. Já sabemos que o sr não é crente - e pode sê-lo à vontade - mas a dialéctica que apresenta nos seus escritos também não convence.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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