segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A impossível imortalidade da alma humana (1/2)

A alma humana não pode ser imortal nem... eterna Razões lógicas, ontológicas, históricas e... racionais São incontáveis as páginas que filósofos de todos os tempos dedicaram à alma humana, tentando encontrar-lhe o âmago e a essência sem jamais o conseguir, vindo as religiões a apropriarem-se de algumas dessas ideias e a defenderem a sua imortalidade com a consequente eternidade. Mas, como veremos, muito sintecticamente, mais uma vez as religiões criaram apenas mitos ou efabulações. Vejamos! 1 – Lógicas: Qualquer ser provido de alma – definindo-se alma como “O sopro vital”, pertencente ao reino do invisível, do espiritual e que, por isso, não se sente, não se vê, não se apalpa, mas apenas se percebe pelos seus efeitos, quer intelectuais, quer emocionais, distinguindo-se ainda a racional da animal e da vegetal – adquiriu essa alma no acto de nascer ou de ser concebido. Logicamente, esse ser possui um “sopro vital” aparecido num dado momento do tempo. E é indubitável que o facto de começar um dia tem acoplado a si, impreterivelmente, inexoravelmente, o reverso: acabar num outro dia mais distante. Se quisermos, ao acto de nascer está indelevelmente ligado o acto de morrer. Pensar eterno um ser começado no tempo, seria admitir o impossível: uma meia eternidade, o que forçosamente se perderá nas fronteiras do mito e da fantasia... 2 – Ontológicas: O “sopro vital de um ser” só existe enquanto é suporte do mesmo ser que o contém. Quando este deixa de existir, o sopro desaparece com o mesmo encantamento como apareceu no acto de ser. Seria absurdo que subsistisse para além dele! Ou, dito de outro modo: um corpo vivo que morre arrasta forçosamente consigo o sopro vital que o animava: a alma. Mesmo que se considere espiritual! Mesmo que se saiba que o cérebro – todo ele matéria a ter de estar em pleno desempenho para que a alma “funcione” – produza ideias, emoções, sentimentos que nos aparecem revestidos de imaterialidade! 3 – Históricas: Quando falamos em “as almas dos antepassados, as almas dos nossos entes queridos, as almas do outro mundo”, etc., etc., sentimo-las como que realidades bem distintas, bem vivas e, por isso, realmente existentes, independentes dos corpos que as sustiveram, vivendo algures no etéreo, na fantasia, no pensamento individual ou colectivo, figurando-se-nos, com facilidade, aqueles corpos. Mas essas almas não passam disso mesmo: figurações, fantasias, evocações, memórias que existirão apenas enquanto perdurarem na mente de alguém. Depois, esfumar-se-ão, desaparecerão inexoravelmente no... nada, como aconteceu com as almas dos muitos biliões de seres inteligentes que já viveram a sua saga de vida na Terra, desde que o Homem é Homem, dos milhões que diariamente vão desaparecendo. Então, se nada delas resta e apenas permanece a recordação de algumas delas na memória individual ou colectiva – e apenas por um pouco de tempo – será totalmente insensato decidirmo-nos pela imortalidade e consequente eternidade da alma humana. 4 – Racionais: Sejamos racionais, pois a razão é a nossa máxima prerrogativa, a característica que nos distingue dos outros animais, animais que apelidamos, por isso, de irracionais – por enquanto, pois com a evolução, não sabemos quantos animais terão atingido tal estado, por exemplo, daqui a um milhão ou mil milhões de anos! Ora, raciocinando, olhando o mundo e as circunstâncias que nos rodeiam e que o Tempo consolida, constatamos uma Verdade insofismável, indiscutível, sem qualquer possibilidade de ser posta em causa. E é esta: desde que o Homem tem consciência de si, e portanto tem consciência da sua morte, não há nenhuma prova de que qualquer dos muitos milhares de milhões que já morreram tenha dado qualquer sinal da existência de outra vida – chame-se eterna ou imortal! – em que a alma humana que, por uns tempos habitou um corpo como suporte para se manifestar como um diabo ou um santo, continue a existir, seja sob que forma ou em estado for. Logo, afirmar que a alma sobrevive para além do corpo que a suportou é uma total falácia ou, se quiserem, é uma total efabulação. Isto não impede que milhões creditem em tal suposto facto: é que cada um é livre de acreditar naquilo que quiser. Eu diria, naquilo que lhe der mais jeito para ser mais feliz aqui nesta vida, a única que sabemos absolutamente certa porque nos apalpamos, nos sentimos viventes a cada dia que passa, a cada manhã que se levanta. Até um da, em que, acabado que foi o tempo, já não haverá mais manhãs nem dias, tudo se perdendo para sempre para esse ser que um dia foi...

2 comentários: