À procura da VERDADE nos Evangelhos
Evangelho segundo
S. JOÃO – 4/?
– Não podemos deixar de
referir a violência com que Jesus expulsa do Templo os vendedores e negociantes
de gado e dinheiro, à boa moda judaica: “Fez um chicote de cordas e expulsou-os
a todos do Templo, juntamente com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e
derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo
daqui! Não transformeis a casa de meu Pai num mercado.» (Jo 2,15-16)
A que ponto os sacerdotes -
os iluminados do povo! - tinham deixado degradar o Templo! Como foi possível
tanto abuso!
Ou teria sido, como mais
tarde acontecerá com a doença de Lázaro, para que a glória de Deus-Filho se
manifestasse nesta sua fúria em proteger a casa de seu Pai?
– “Casa de meu Pai”!… Este
confinar de Deus a uma casa… - permitam-nos a repetição - coloca-nos tantas
dúvidas! Depois, qual é o real significado de “Pai” para Jesus? Mesmo chamando
Pai a Deus – como dirá na oração do “Pai nosso” – isso não quer dizer que ele
se sentisse Filho ontológico de Deus, como o fizeram mais tarde, mas apenas que
acreditava que Deus era o Criador de todos os Homens.
Os judeus, claro, não ficaram
contentes: “«Que sinal nos mostras para provares que tens o direito de fazer
tudo isto?» Jesus respondeu: «Destruí este Templo e em três dias Eu o
levantarei.» E eles disseram-Lhe: «A construção deste Templo demorou quarenta e
seis anos e Tu levantá-lo-ás em três dias?» Mas o templo de que Jesus falava era
o seu próprio corpo.” (Jo 2,18-21)
– Esta conclusão de João
poderá não passar de… uma interpretação tardia das palavras de Jesus. Por isso,
de validade reduzida ou… nula. E se era esse o significado que Jesus pretendia
dar às suas palavras, como poderiam os que O escutavam entendê-Lo? E se Jesus
não pretendia que O entendessem, porque falou?
Ou… porque não falou de outra
maneira? É que as palavras vêm em desafio! Razões para este desafio a Jesus não
faltavam: o Templo ou era casa de oração ou… mercado de negócios! Mas não se
esperaria mais de um Jesus que veio salvar o que estava perdido? Não estavam
estes judeus - seus irmãos na pátria - perdidos e bem perdidos? Tão perdidos
que O irão matar, não certamente só porque lhes roubava seguidores mas porque realmente
nunca conseguiram compreender a sua mensagem, mesmo com aquela avalanche de
milagres? (Se é que os milagres aconteceram mesmo… Aliás, tivessem acontecido e
não haveria judeu que não se convertesse perante tais maravilhas que só
poderiam ser realizadas por um ser realmente divino…)
– O encontro de Jesus com o
chefe dos fariseus Nicodemos é tremendo. Jesus não “perdoa” a Nicodemos que não
compreenda o que Ele diz: “Tu és um dos mestres do povo de Israel e não sabes
estas coisas?”(Jo 3,10)
– Há algo de não disfarçada
ironia nesta admoestação de Jesus… Porquê? A nós, também as suas palavras nos
deixam cheios de perplexidade e de dúvidas e consideramo-nos pelo menos
medianamente cultos e inquisidores da Verdade, facto que, aliás, pouco importa…
Talvez, ou certamente, por
dificuldade de entendimento e receio de uma reprodução não exacta das palavras
de Jesus, Mateus, Marcos e Lucas omitem este encontro com Nicodemos. É que
Jesus aqui excede-se em enigma e mistério:
“«Fica sabendo que ninguém
pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo. (…) Só quem nascer da água e do
Espírito é que pode entrar no Reino de Deus. Quem nasce de pais humanos é
apenas humano, quem nasce do Espírito é espírito. Não te admires por Eu te
dizer que todos devem nascer de novo. (…) Repara bem no que te vou dizer:
quando falamos é porque sabemos e quando afirmamos qualquer coisa é porque
vimos, mas vós não quereis aceitar o que Eu digo. Se não acreditais quando vos
falo das coisas deste mundo, como podeis acreditar quando vos falo das do Céu?
Ninguém subiu ao Céu a não ser o Filho do Homem que desceu do Céu. Assim como
Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do
Homem seja levantado para que todo aquele que acreditar nele tenha a vida
eterna. Deus amou de tal modo a humanidade que lhe entregou o seu Filho único,
para que todo aquele que creditar nele, não se perca mas tenha a vida eterna.
Não foi para condenar o mundo que Deus lhe enviou o seu Filho mas sim para o
salvar. Quem acreditar nele não é condenado, mas o que não acredita já está
condenado, por não querer acreditar no Filho único de Deus. A condenação
consiste nisto: Deus enviou a luz ao mundo, mas os Homens preferiram as trevas
à luz porque as suas obras eram más. Os que fazem o mal detestam a luz e fogem
dela para que as suas más obras não sejam descobertas. Mas os que agem conforme
a verdade, aproximam-se da luz, mostrando publicamente que as suas obras foram
feitas segundo a vontade de Deus.»” (Jo 3,3-21)
(Análise crítica, no próximo
texto, a tão enigmática dissertação)
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