Evangelho segundo
S. JOÃO – 3/?
Mas
mais estranho é que Natanael tenha exclamado, logo ali: “Tu és o Filho de
Deus.”, só porque Jesus dissera que o vira debaixo da figueira antes de Filipe
o chamar. Até o próprio Jesus fica algo admirado com tal rapidez, nem fazendo
apelo a seu Pai como o fará mais tarde com Pedro: “Não foi a carne nem o sangue
que to revelaram mas o meu Pai que está nos Céus.” (Mt 16,17)
–
É! Aquela ainda não deveria ser a sua hora. E não sabemos como interpretar o
“tempo” de Jesus Cristo. Durou três anos a sua pregação. Porque tanto tempo?
Ou… porque tão pouco? “Deus” também estaria assim condicionado pelo tempo?
Realmente,
quando nos colocamos numa perspectiva de tempo universal, custa-nos ver Deus
ali confinado a um tempo, a um lugar, a um povo!… No entanto, não temos
alternativa senão aceitar a narrativa. Analisando-a criticamente, claro!
–
Só mais uma pergunta: O que entenderia Natanael por “rei de Israel”? Rei
material ou… espiritual? É que, o que o levou a tal exclamação foi um acto de
adivinhação – sobrenatural? – de Cristo que o vira debaixo da figueira…
A
impressão que nos fica é que João já começou a inventar e a pôr frases na boca
das personagens que vai “criando”, tenham ou não alguma veracidade histórica,
para atingir os seus fins pedagógicos em relação à divinização de Jesus.
–
O milagre da transformação da água em vinho, nas bodas de Caná, coloca-nos
inúmeras e interessantes questões. Diz João: “A mãe de Jesus estava lá. Jesus e
os seus discípulos também foram convidados. (…) Foi assim que, em Caná da
Galileia, Jesus realizou o seu primeiro milagre. Deste modo, mostrou o seu
poder divino e os discípulos acreditaram nele.” (Jo 2,11) Acreditando que foi o
primeiro milagre e que também Mateus lá tenha estado, porque não o narra no seu
Evangelho? Não o considerou importante? Não foi, ao ver tamanho prodígio, que
também ele acreditou em Jesus? É difícil aceitar tal “histórico” esquecimento…!
–
Em boa verdade, parece que só os criados, os discípulos e Maria se terão
apercebido do milagre. O noivo e convidados apenas terão notado que o bom vinho
fora guardado para o fim… Talvez por isso, Mateus tenha omitido o milagre que
tão poucas repercussões tivera…
–
“Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Já não têm vinho.» Jesus
respondeu: «Mulher, que temos nós a ver com isso? A minha hora ainda não
chegou.» (Jo 2,3-4) O que é certo é que fez o milagre, embora a sua hora ainda
não tivesse chegado… Era assim tão flexível? Ou foi porque Maria, sua Mãe, lho
havia pedido?
–
Causa, pelo menos, estranheza, Jesus não chamar “Mãe” a Maria. Porque diz
“Mulher” e não “Mãe”? Faz-nos lembrar a sua rebeldia e quase insolência quando
aos doze anos, ficando no Templo, diz a seus pais que O procuravam
ansiosamente, por toda a parte: “Não sabíeis que tenho de Me ocupar das coisas
de meu Pai? (Lc 2,49)
Ou
a outra: “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?” (Mt 12,46-50)
–
É! Jesus parece não “conviver” muito bem com a sua condição de humano – um
humano que tem laços familiares – e de divino simultaneamente… Aliás, qual
seria a sua real percepção de tal suposto facto?
Quanto aos milagres – ser este o primeiro não importa – já abordámos o assunto, aquando da análise crítica do evangelho de Mateus, Mateus o inventor máximo de milagres atribuídos a Jesus: umas dezenas!
ResponderEliminarÉ óbvio que não houve milagres. Nunca houve milagres! Houve – e há – factos que, saindo fora do normal ser dos humanos, serão de difícil explicação por esses mesmos parâmetros. Mas têm de certeza uma explicação humana. Quer de natureza física quer, sobretudo, de natureza psicológica em que o espírito ou mente comanda o corpo que, por exemplo, pode sofrer de uma grave enfermidade.
E é neste sentido que é sintomático o diálogo de Jesus com um dos seus curados: “Acreditas que eu te posso curar? – Acredito! – Então, vai: a tua fé te salvou!”. Isto é: “A tua fé, a tua convicção na cura te curou”.
Portanto, não há nenhuma razão para acreditarmos em milagres de origem divina. Aliás – brincando – diríamos que Deus tem mais que fazer com todo o Universo, ou pluriversos, que tem para governar, do que andar por aí a fazer milagres e só a uns certos humanos, sem qualquer critério de justiça para com os outros a quem não os faz… Mas para os crentes, tudo é possível de acreditar. Então acreditem e que sejam felizes!...
Comentário
ResponderEliminarO Homem, cada um de nós, já é um insignificante pontinho na Terra. Mas a Terra é um insignificantíssimo pontinho perdido no imensíssimo Universo conhecido, sendo o infinitamente desconhecido um total mistério para a Ciência.
Apenas, dois exemplos dessa magnitude: a nossa galáxia, a Via Láctea, tem mais de cem mil milhões de estrelas do tipo do nosso Sol e de diâmetro cem mil anos-luz; a galáxia mais próxima, Andrómeda, fica a dois milhões de anos-luz de distância.
São realidades absolutamente inatingíveis para o intelecto do ser humano.
Portanto, é, no mínimo, ridículo pensar que o Deus – chame-se-Lhe ou não Senhor e Criador – se interessaria por esse ser insignificante que dá pelo nome de Homem, apaparicando uns quantos com milagres… Que insensatez, santo Deus de todos os deuses!
ResponderEliminarOs milagres, a terem existido, seriam de uma tremenda injustiça para com todos os que, coexistindo ao tempo, não foram contemplados. Quem pode acreditar que Deus cometeria tamanha injustiça? E, depois, só naquele povo? E naquele tempo? – Ó meu Deus, como tudo isto revolta ao pensar que tantos crentes são enganados na sua boa fé…