À procura da VERDADE nos Evangelhos
Evangelho segundo
S. LUCAS – 8/?
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Constata-se mais uma vez que o impacto dos milagres de Jesus, como a
espectacular ressurreição do morto, narrada há pouco, e estas curas de doenças
e de expulsão de espíritos malignos, não parece ter sido muito grande junto das
multidões que os presenciaram. Porque não houve um povo inteiro mensageiro da
Boa Nova? E, aqui, apenas os doze e algumas mulheres que decidiram ajudar a
causa – certamente dando dinheiro, comida, vestuário e abrigo… – com os seus
bens?
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Embora semelhante ao envio dos doze, narrado por Mateus (10,5-15), Marcos
(6,7-13) e o próprio Lucas (9,1-6), Lucas é o único a referir o envio de
setenta e dois discípulos: “Escolheu setenta e dois discípulos e enviou-os à
sua frente a todos os lugares e cidades aonde Ele próprio devia ir: (…) «Ide!
Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem sacola, nem
sandálias e não pareis no caminho para cumprimentar ninguém. Em qualquer casa
onde entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa.’ Se ali morar alguém
de paz, a vossa paz irá repousar sobre ele; se não, ela voltará para vós.
Permanecei nessa casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador
merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade
e fordes bem recebidos, curai os doentes que nela houver. E dizei ao povo: ‘O
Reino de Deus está próximo de vós!’ Mas quando entrardes numa cidade e não
fordes bem recebidos, saí pelas ruas e dizei: ‘Até a poeira desta cidade que se
pegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. Apesar disso, sabei que o Reino de
Deus está próximo.’ Eu vos afirmo: no dia do julgamento, Deus será mais
tolerante com Sodoma do que com aquela cidade.»” (Lc 10,1-12)
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Setenta e dois! Muitos discípulos! Não entendemos porque é que iam para o meio
de lobos. Eram assim tão perigosas as gentes daqueles tempos, fundamentalistas
que matariam quem não fosse da sua cor religiosa? – Certamente! E talvez daí, o
não cumprimentarem ninguém no caminho…
Que
o trabalhador mereça o seu salário não há dúvida. No entanto, haveria muitos
que não reconheceriam como trabalho a pregação da chamada Boa Nova e do Reino
de Deus, mensagem que, afinal, Jesus Cristo nunca explicitou bem o que fosse.
Pelo contrário, julgá-los-iam – e com razão! – mais uns charlatães que não
teriam qualquer merecimento e quereriam viver à custa do real trabalho do seu
semelhante…
Mas…
não bastaria eles curarem um ou dois doentes, expulsar um ou dois demónios, em
cada cidade, para logo ali toda a gente lhes oferecer casa, comida, repouso e
conforto? Tinham tão pouca força aqueles milagres para que Jesus tivesse de
ameaçar aquelas cidades, comparando-as com a condenada Sodoma?
Aliás,…
quantos milagres teriam eles realizado? Quantas curas? Todo aquele discurso
teria sido evitado se Jesus pura e simplesmente lhes dissesse: “Fazei muitos milagres
e todos vos reconhecerão como enviados de Deus!”
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A resposta vem dos próprios discípulos: “Os setenta e dois voltaram muito
alegres dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedecem por causa do teu nome.»
Jesus respondeu: «Eu vi Satanás cair do céu como um relâmpago. Olhai que vos
dei poder de andar sobre cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo e
nada vos poderá fazer mal. Contudo, não vos alegreis porque os maus espíritos
vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu.»”
(Lc 10,17-20)
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Não se percebe porque é que Jesus refreia a alegria dos discípulos, sentindo
neles o poder de fazer milagres, embora não falem em curas mas em expulsão dos
demónios que abundavam por aquelas paragens, naqueles tempos… O Satanás a cair
do céu é suposta realidade que só nos confunde… O que terá Jesus visto
realmente? As cobras, os escorpiões e o inimigo certamente são símbolos do Mal,
mal que também não se entende muito bem o que seja. E o que será ter os nomes escritos
no Céu? É que, meu Deus, o Céu não existe! E o diabo também não!
Enfim,
novamente se fala em “julgamento” final, em que Deus será mais tolerante com
Sodoma do que com as cidades que rejeitaram a Boa Nova. Mas… novamente,
ficamo-nos pelas palavras, sem saber nem onde, nem quando, nem como será tal
julgamento…
Nem,
afinal, o que é a… Boa Nova!
Já criticámos aqui a abundância de milagres naqueles tempos de Jesus. E já pusemos em causa a sua veracidade. Nem real nem metafórica. Tudo leva a crer que todos eles foram uma perfeita invenção dos evangelistas – lembramos que falamos de judeus e judeus que queriam impor uma nova seita religiosa – e para atingir tal objectivo, todos os meios justificariam os fins. Inventar milagres – o poder divino a impregnar humanos que actuariam sobre outros humanos – foi uma óptima estratégia para ganhar a “guerra”. E… ganharam-na, embora a vitória final só se tivesse concretizado com Constantino, em 325 – Concílio de Niceia – em que a religião cristã foi eleita religião do Império Romano.
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