À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. LUCAS –
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– É episódio também apenas
narrado por Lucas. A profecia de Simeão realizar-se-á. Mas, quando Lucas escreve,
tudo isto já tinha acontecido, umas dezenas de anos antes: Jesus, sinal de contradição,
a dor de Maria vendo Jesus morrer na cruz, etc.… Só resta perguntar quem terá constatado
toda esta cena devota e dela reteve memória.
– A encerrar a narrativa da
infância de Jesus – narrativa que os outros três evangelistas omitem – vem o
episódio talvez o mais pitoresco de todos os Evangelhos, mas não deixando de
nos intrigar pela sua imprevisibilidade: “Quando o menino completou doze anos,
subiram a Jerusalém para a festa da Páscoa. Passados os dias da Páscoa,
voltaram mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem.
Pensando que o menino estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois,
começaram a procurá-lo e, não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém. Três
dias depois, encontraram-no no Templo. Estava sentado no meio dos doutores a
ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. (…) Ao vê-lo, sua mãe disse-lhe: «Meu filho,
porque fizeste isto connosco? Olha que teu pai e eu andávamos angustiados à tua
procura.» Jesus respondeu: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que eu devia
estar na casa de meu Pai?» Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de
lhes dizer.” (Lc 2,42-51)
– Poderíamos dizer que nós
também não compreendemos. Aliás, que pais compreenderiam? E como saberiam que Ele
deveria estar na casa de seu Pai? E é com algum sentimento de crítica que
constatamos tal atitude de Jesus e tal resposta sem um pedido de desculpas,
como se os sentimentos de uns pais aflitos e angustiados fossem assim para
deitar fora… Não o são para os Homens, porquê o seriam para Deus?
É! Lá que tivesse as suas
razões “divinas” (teria?!), aceita-se, embora devesse ter delas avisado os seus
pais. Agora que nem desculpa peça por tal acto, para Ele plenamente justificado,
não se admite…
E porque é que o Templo é a
casa do Pai de Jesus Cristo? Mesmo simbolicamente, porque atribuir uma casa a Deus?
Em vez de “casa de meu Pai”, Jesus deveria ter dado o exemplo e ter desmistificado
tal realidade que, se levou a que se construíssem tantas obras de arte que são
património da humanidade, também deturpou a ideia de Deus, humanizando-O,
localizando-O, fechando-O em Igrejas e sacrários, quando Deus tem de estar em
toda a parte, em todo o lugar, em todo o tempo, em todas as coisas, porque é
eterno e infinito e tudo o que existe nele está contido e não o contrário…
Enfim, que perguntas faria
Ele aos doutores? Não conhecia Ele, como Deus, desde toda a eternidade, tudo o
que os doutores sabiam? Ou… era já para os experimentar? Já para lhes exacerbar
corpo e alma e O levarem à morte, como levaram vinte e um anos mais tarde,
cumprindo assim as tais Escrituras, inspiradas por aquele seu Pai?
A ser verdade a dicotomia
Deus-homem em Jesus, isso constituiria sempre um mistério. Aprenderia Ele como
homem aquilo que já sabia como Deus? Aliás, que cérebro informaria Jesus, aos
12 anos? Um cérebro em desenvolvimento, como o de qualquer jovem, e que se ia
apercebendo de que era informado por uma realidade… divina ou um já “Deus em
corpo pequeno”?
Mais uma vez, a resposta mais
sensata é a de que estamos não no campo histórico, mas no campo da fantasia,
construindo-se uma personagem que viria a tornar-se o centro de uma religião
nascente.
No final do texto anterior, ficou por assinalar uma coincidência relevante: também o nascimento dos deuses solares antigos, como os deuses egípcios Íris e Osíris, foram acompanhados de manifestações celestiais, vozes vindas do Céu, sinais luminosos rasgando o firmamento, etc. Aqui, como os judeus haviam inventado os anjos, já presentes no AT, Lucas, inspirado naquelas lendas, socorreu-se deles para introduzir o maravilhoso no nascimento de Cristo.