À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MARCOS
– 1/?
Nota prévia:
Não vamos alongar-nos em repetições do que em Marcos é
semelhante a Mateus. Por isso, seremos breves, na análise deste evangelho,
frisando apenas o que nele há de novo, o que, sendo sinóptico com Mateus e dado
como escrito antes dele, é muito pouco, embora extremamente significativo
quanto a uma provável interpretação da palavra “milagre”. Comecemos, pois!
– “«Cala-te e sai desse homem.» O espírito mau sacudiu
fortemente o homem, deu um grande grito e saiu dele.” (Mc 1,25-26)
– Já atrás perguntámos: afinal, era possesso do diabo ou
apenas… epiléptico? E quem é que gritou: o diabo ou o homem? Se foi o diabo, com
que voz? Quem ouviu tal voz? – A narrativa é omissa nesta importante questão.
–“Jesus levantou-Se e foi rezar num lugar deserto.” (Mc
1,35)
– Repetindo-nos, perguntaríamos: “Porque é que Jesus tem
necessidade de rezar? Que pediria ou agradeceria Ele a Deus, seu Pai? Não era
Ele Deus com o Pai? Como entender tal dependência?” Dependência incompreensível
que vai culminar com o “Faça-se a tua vontade e não a minha”, com suor de sangue,
no jardim de Getsémani… ou ainda, com o incompreensível grito na cruz: “Meu
Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?”. Tal necessidade de rezar leva-nos a
concluir que Jesus não tinha qualquer noção de si próprio como filho de Deus-Pai
e muito menos, Deus com Ele, como, mais tarde, lhe foi atribuído.
– Estranha é a cura do surdo-mudo, quando Jesus ia a caminho
da Galileia: “Pôs os dedos no ouvido do homem, cuspiu e com a sua saliva
tocou-lhe na língua. Depois, olhou para o Céu, suspirou e disse: “Abre-te!»
Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, a língua soltou-se e ele começou
a falar sem dificuldade.” (Mc 7,33-35)
– Há todo um ritual próprio de um curandeiro, evoque-se ou não
o divino: saliva, um olhar o Céu, um suspirar… Que significa exactamente todo
este ritual? Para impressionar a assistência? Se tinha o poder de fazer
milagres, porque não disse simplesmente: “Ouve e fala!”?
– Mais estranha é a cura do cego de Betsaida: “Levou-o para
fora do povoado, chegou-lhe saliva aos olhos, colocou as mãos sobre ele e
perguntou-lhe: «Vês alguma coisa?» O homem abriu os olhos e disse: «Vejo sim,
vejo pessoas que parecem árvores a andar!» Jesus pôs-lhe de novo as mãos nos
olhos e quando o homem os voltou a abrir, já via perfeitamente tudo quanto
estava à sua volta.” (Mc 8,23-25)
– É! Ninguém perceberá porque é que o homem não viu perfeitamente
ao primeiro impor de mãos. E, mais uma vez: foi milagre ou foi uma acção/magia
de curandeiro? – Pela descrição de Marcos, parece-nos
muito mais credível a segunda que a primeira hipótese.
– E, depois de o curar, ainda lhe ordena: “Não entres na
aldeia!” (Mc 8,26)
– Porquê?… Porque se queria esconder Jesus? Com medo de
quem? Afinal, que ideia tinha Jesus de si próprio, ao ver-se com o poder
curativo de várias enfermidades? Há aqui um largo campo de interpretação
psicológica da personalidade a explorar mas que não é objecto desta nossa
análise crítica.
– “«Mestre, vimos um homem que expulsa demónios em teu nome
e nós proibimos-lho, porque não é dos nossos.» Jesus disse-lhes: «Não lho
proibais pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois vai dizer mal de Mim.
Quem não está contra nós está a nosso favor. Eu vos garanto: quem vos der um
copo de água porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa.»”
(Mc 9,38-41)
– Ficamos, então, a saber que havia outro homem com o poder
de expulsar demónios. Ou… curar a epilepsia, como já vimos anteriormente. Um
outro “Cristo”, outro milagreiro ou curandeiro! Teria o mesmo poder e carisma
de Jesus? – Uma resposta afirmativa levanta inúmeras questões quanto à
exclusividade milagreira de Jesus.
Por outro lado, diz-se claramente que o expulsar demónios
era fazer um milagre, o que nos leva a perguntar o que é realmente um milagre.
Enfim, gostaríamos de saber onde e como será aquela
recompensa por dar um copo de água…
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