De como de uma história infantil
nasceu uma religião
Tudo começa no Génesis, o primeiro livro da
Bíblia – Antigo Testamento (AT).
A Bíblia – AT para os cristãos, Tora para
os judeus – na diversidade dos seus “livros” – foi escrita por levitas judeus,
essencialmente durante os oitenta anos de cativeiro, na Babilónia, no séc. VI
AC, compilando muitas tradições orais quer históricas quer mitológicas e/ou de
carácter religioso. A Bíblia dos cristãos inclui também o Novo Testamento
(evangelhos e epístolas) que foi escrito por discípulos de Jesus a partir dos
anos 60 DC.
E a história conta-se em poucas palavras,
como, aliás, é alegremente contada às crianças da catequese:
«Depois de
ter criado o Céu e a Terra e tudo o que neles existe, Deus criou o homem para
tomar conta, na Terra, do que ali havia criado.
Sentindo-se
só, o homem pediu uma companhia a Deus e Deus deu-lhe uma linda mulher. Foram
chamados de Adão e Eva e colocados no Paraíso de todas as delícias. Mas… havia,
nesse Paraíso, uma macieira – a árvore do Bem e do Mal – cujas maçãs não
poderiam comer. Era a única proibição! Ora, como era fruto proibido, Eva não
resistiu a comer uma maçã e dar de comer dela ao “pobre” do Adão. O seu pecado
– transgressão da regra divina! – foi punido com atroz severidade: expulsos do
Paraíso e condenados, ele a ter de comer o pão com o suor do seu rosto, ela a
ter de gerar na angústia e na dor.
Este pecado
– o pecado original – ficou afectando todos os descendentes destes primeiros
humanos Adão e Eva que, entretanto, se multiplicaram, não permitindo ao Homem a
sua salvação eterna.
Então, Deus,
uns milhares de anos mais tarde, e durante mais de mil anos, inspirou umas
Escrituras nas quais se profetizava a vinda de um Messias Salvador e Redentor
da Humanidade atingida por esse horrendo e terrível pecado original.
O “milagre”
aconteceu, há dois mil anos, no seio do povo judeu – o povo eleito por
Javé-Deus para escrever as Escrituras e nele nascer o Messias – materializado num
homem chamado Jesus, filho de uma Virgem chamada Maria.
Em Jesus se
cumpriram as Escrituras: pregou a Palavra de Deus durante três anos e, depois,
cumprindo as mesmas Escrituras, foi condenado à morte e morte de cruz,
redimindo assim, com o seu atroz sofrimento, toda a Humanidade do seu pecado
original e de todos os outros pecados, salvando os Homens de se condenarem
eternamente… É o Jesus Redentor e Salvador!
Mas… o mais
importante é que, ao fim de três dias de ter morrido, Jesus ressuscitou dos
mortos e subiu ao Céu para junto de Deus, seu Pai, sendo a sua ressurreição
penhor e certeza da nossa própria ressurreição para a vida eterna, junto de
Deus, se nos portarmos bem nesta vida e não cometermos pecados ou,
cometendo-os, os confessarmos e deles nos arrependermos.
É que, além
dos anjos bons – os que perenemente louvam a Deus no Céu – há os anjos maus, os
demónios, os diabos que desobedeceram a Deus, pois queriam ser iguais a Ele,
sendo condenados ao Inferno e a passarem a vida a atormentar os Homens e a
levá-los ao pecado, para os condenarem para sempre ao mesmo fogo do Inferno que
é para onde vão, por toda a eternidade, os que se portarem mal nesta vida
terrena, uma vida que pouco importa porque é apenas uma passagem para a
verdadeira vida: A VIDA ETERNA!»
A história é
candidamente infantil, cheia de afirmações sem qualquer prova da sua veracidade
e, portanto, sem qualquer crédito. Um delírio completo que a Ciência veio pôr a
nu, com a descoberta da idade e origem do Universo e, nele, a Terra, planeta de
uma estrela entre milhares de milhões de outras, Terra onde, por evolução de um
ramo dos primatas, apareceu o Homem.
As datas em
que tudo isto se processa são tão colossais que não deixam qualquer hipótese de
credibilidade à história bíblica de um Deus-Criador: c. de 13,5 mil milhões de
anos para o Universo observável; c. de 5 mil milhões de anos para o sistema
solar e a Terra; c. de 3,5 mil milhões para o aparecimento da Vida; c. de 4
milhões para o hominídeo; c. de 50-100 mil para o sapiens sapiens do qual somos nós os brilhantes descendentes.
O que é
certo é que o Cristianismo continua sendo a religião com mais seguidores, no
mundo, não querendo os fiéis saber se os seus fundamentos são ou não credíveis.
Nem discutem a Fé! Acreditam e pronto: são felizes!!!
Os vários
ramos em que o Cristianismo se dividiu, os cimas, as lutas dentro das respectivas igrejas
pelo poder e supremacia, os desmandos, escândalos e crimes cometidos, ao longo
destes 2 mil anos de existência, as mentiras propaladas como verdades eternas
pelos seus mentores… atestam o carácter puramente humano da sua criação,
escondendo-se os seus mentores atrás da capa de um divino misterioso primitivo,
obviamente falso, divino que comanda os destinos dos Homens.
As outras
religiões fizeram ou fazem o mesmo ou semelhantemente…
ResponderEliminarEstamos convencidos de que, quando todos os humanos tiverem cultura e espírito crítico suficientes, as religiões verão o seu fim, já em ninguém colhendo as mentiras e mistérios com que os seus mentores vão ainda “embalando” (e explorando…) os fiéis.
Veremos – quem cá estiver, claro, pois isto vai levar muitos e muitos anos, dado o atraso civilizacional da Humanidade – o que as irá substituir. É que o Homem necessita da “religião”, com os seus deuses, anjos e santos e fetiches, para se aguentar física e psicologicamente perante as agruras e injustiças da VIDA. Sobretudo, perante a certeza da morte com as suas tremendas incertezas…
A religião católica, centrando-se em Roma, praticamente desde o início, sempre com o apoio do poder político, “revestiu” o cristianismo, através dos seus “doutores”, com mistérios e dogmas e crendices, tornando-se mais hermética, logo, mais apelativa e convincente: “Não importa não perceberes; acredita simplesmente; são mistérios insondáveis do Bom Deus que é Amor…” - dizem às crianças da catequese.
ResponderEliminar...acredita simplesmente; são mistérios insondáveis do Bom Deus que é Amor…”
EliminarMuito verdade; e logo vinha a ameaça do inferno e demónio que muito me atemorizava enquanto criança totalmente desprotegida e sugestionável.
Eram resquicios da inquisição, penso eu.
Felizmente que atualmente parece já não ser assim.
As crenças católicas estão exaradas no Credo católico, rezado em todas as missas, desde 325, elaborado no Concílio de Niceia, com o alto patrocínio do imperador Constantino.
ResponderEliminarA análise crítica deste Credo foi aqui feita, sob o título “O inacreditável Credo católico”, em seis textos, de 12 de Março a 16 de Abril de 2012.
Vale a pena reler o que então se escreveu. Aliás, numa próxima oportunidade voltaremos ao assunto, tal é a sua relevância do ponto de vista da Fé.
O poder da Igreja católica romana chegou a ser tão grande (devido sobretudo às inúmeras riquezas acumuladas, provenientes de senhores que, para garantirem a sua vida eterna no Céu – como prometido! – deixavam todos os seus bens à Igreja) que até os reis tinham de pedir autorização ao Papa para serem empossados nos seus cargos. Isto, não falando nas Cruzadas, na Inquisição, nas guerras aquando da Reforma de Lutero e Calvino, no “fazer” de santos suportados em supostos milagres, no aceitar como verdadeiras supostas aparições sobretudo da Virgem, gerando-se santuários por todo o mundo, santuários que são uma choruda fonte de receitas para a Igreja, etc, etc, etc.
ResponderEliminarE viva a Boa Vida de quase todos os eclesiásticos, a começar e a acabar na rica e pomposa Cúria romana, com a sua Guarda suíça!
Sobra de tudo isso pelo menos uma parte importantíssima... O Cristianismo nas suas estruturas foi ao longo dos Séculos o guardião dos saberes filosóficos e científicos que a partir do renascimento ganharam um ímpeto imparável. A actual ciência é um produto do Cristianismo apesar de Galileo... Newton e muitos outros que se seguiram aprenderam nas bases de conhecimento guardadas pelo Clero e suas instituições... veja-se o que aconteceu com o Islão...
ResponderEliminarCaro J Gabriel, totalmente de acordo. Nem tudo foi mau nos movimentos gerados no seio do Cristianismo. Apesar do non-sense dos conventos e congregações religiosas que proliferaram por toda a parte, sobretudo na Idade Média, foram realmente eles os guardiães dos saberes clássicos, base de muita da Ciência moderna. E os valores da dita Civilização Ocidental, judaico-cristã, são incomparavelmente superiores aos do islão, por exemplo.
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