À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
– 74/?
Mas… voltemos à ressurreição de Cristo!
Muitos são - ou parecem ser - os testemunhos dos que viram
Jesus ressuscitado, a acreditar na historicidade dos Evangelhos, escritos,
segundo parece, entre o ano 60 e o ano 95, mas dos quais não temos originais,
apenas cópias dos finais do séc. III. Primeiro, as mulheres - sendo Maria
Madalena a primeira, o que não deixa de colocar a pergunta: “Porque não sua
mãe, Maria?” - depois, os discípulos, lá na Galileia. Os soldados não O viram
mas foram contar aos chefes dos sacerdotes o que acontecera ao túmulo: pedra
removida e túmulo vazio…
Alguns analistas pensam que o tema do túmulo vazio foi
introduzido mais tarde nos Evangelhos, para fazer face às heresias gnósticas
que, pelos anos 70, negavam a humanidade de Cristo, afirmando que a
corporeidade de Cristo era apenas aparente. Assim, Cristo não ressuscitou
porque não chegou a morrer. Como o seu corpo era apenas uma aparência, fingiu
que morria.
Será então interessante recolher o mais importante que os quatro
evangelistas nos contam deste pós-ressurreição de Jesus. Mateus repete o que
diz Marcos no seu evangelho, uma dezena de anos mais antigo. Lucas diz que
“Pedro correu até ao sepulcro e viu apenas ligaduras”; diz ainda que Jesus
falou com os discípulos de Emaús, se sentou à mesa com eles, tomou o pão,
abençoou-o e partiu-o e… desapareceu da sua presença; e que apareceu a Simão e
depois a todos os discípulos dizendo-lhes: “Vede as minhas mãos e os meus pés:
sou Eu mesmo. Tocai-Me e vede: um espírito não tem carne e ossos como podeis
ver que Eu tenho. (…) Tendes alguma coisa para comer?” E Jesus comeu diante
deles. (Lc 24,12-43) João acrescenta “o outro discípulo” à ida de Pedro ao
sepulcro, constatando ambos que apenas havia panos no chão; refere ainda o
encontro de Jesus com Maria Madalena; depois, diz que Jesus entra com a porta
fechada no local onde estavam os discípulos e fala com eles, sendo ele o único
a narrar o episódio do incrédulo Tomé, episódio que é paradigmático: “Chega
aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu lado.”
(Jo 20,5-27)
– Então… que fazemos com este corpo de Jesus Cristo? Corpo
que fala e tem boca e língua, que passa portas fechadas como se fora espírito,
mas come como se fora corpo de verdade, corpo que tem fome e sede? E afirmando
o próprio Cristo que não é espírito mas de carne e osso? E que convence Tomé exactamente pelo lado material e físico do seu corpo?
Entramos completamente na esfera da confusão-milagre. E já
não sabemos o que é mais milagre: se é com um corpo passar uma parede, se com
um espírito com forma de corpo comer e beber…
Um analista crítico não admite tais confusões. Duvida, sim,
que toda a narrativa seja de factos verídicos, todos os pormenores lhe parecendo
ter sido inventados pela magia da pena do escriba, escriba que pretendia
atingir um objectivo muito concreto: firmar na fé os primeiros convertidos do
judaísmo. Então, os factos reais deixaram de lhe interessar, dando primazia ao
que de sensacional pudesse evidenciar a divindade e a messianidade de Jesus. Um
feito histórico bem sucedido, a avaliar pelo sucesso da Igreja ou igrejas cristãs!
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