À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
– 73/?
– E… “abraçando-Lhe os pés”!
– Que pés sentiriam, abraçariam elas? Os mesmos que
palmilharam a Galiléia, pés de carne e osso, ou outra realidade que, sendo
imaterial, gloriosa, espiritual, elas sentiam - por milagre, claro! - como se
fora matéria?
E Jesus fala-lhes! Com que voz? Também a mesma de antes ou
outra que sairia de uma boca de um corpo que não sendo matéria era forçosamente
espiritual? Ou aquele corpo era mesmo matéria, corpo ressuscitado, carne e
osso, tal qual Lázaro que se levantara do túmulo? É que uma voz para se fazer
ouvir a ouvidos humanos tem de ser vibrada em cordas vocais reais… E foi, há
pouco, a voz dos anjos, agora a voz de Cristo glorioso…
Ai os problemas que um corpo ressuscitado coloca à nossa
racionalidade!… No entanto, dizem-nos que a ressurreição de Jesus Cristo é a
única esperança que temos da nossa ressurreição.
Paulo também estava consciente destes problemas e ensaia uma
explicação: “Se não há ressurreição dos mortos, então também Cristo não
ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação e vã a
vossa fé. (…) Se a nossa esperança em Cristo é só para esta vida, nós somos os
mais infelizes de todos os Homens. (…) Todavia alguém dirá: «Como é que os
mortos ressuscitam? Com que corpo voltarão?» Insensato! Aquilo que semeias não
volta à vida a não ser que morra. (…) O mesmo acontece com a ressurreição dos
mortos: o corpo é enterrado corruptível, mas ressuscita incorruptível; é
enterrado sem beleza mas ressuscita glorioso; é enterrado na fraqueza mas
ressuscita cheio de força; é enterrado corpo animal, mas ressuscita corpo
espiritual. Se existe um corpo animal também existe um corpo espiritual (…). A
carne e o sangue não podem receber em herança o Reino de Deus, nem a corrupção
herdar a incorruptibilidade. (…) De facto, é necessário que este ser
corruptível seja revestido de incorruptibilidade e que este ser mortal seja
revestido de imortalidade.” (1Cor 15,13-53)
– Alongámo-nos de propósito. O assunto é o culminar e o
fulcro central da religião cristã. A sua origem, o seu suporte. Estamos de
acordo com Paulo: “Se Cristo não ressucitou, é vã a nossa fé.” No entanto, a
tentativa de explicação de Paulo da nossa ressurreição e necessidade de
incorruptibilidade ou de imortalidade, não passa disso mesmo: tentativa com
afirmações que bem quiséramos - bem ele quisera, certamente! - que fossem
verdadeiras, mas que não pôde provar. Afinal, limita-se a afirmar, o que, em última
análise, de nada lhe vale, de nada nos vale! Diríamos que são argumentos de
total nonsense, embora cheios de boa
vontade...
Paulo tenta ainda encontrar provas nas Escrituras, que não
são de modo algum convincentes porque também as Escrituras fazem afirmações que,
embora postas na boca de Javé, não passam de opiniões de escritores bíblicos,
sendo necessário ter fé para acreditar que tal lhes tenha sido revelado e que
seja, por isso, incontestavelmente verdade, porque vindo de Deus que não se
pode enganar. Mas… como é que, com palavras de fé, quer Paulo provar-nos e
convencer-nos racionalmente, até com imagens de semente que morre ao cair à
terra, ressurgindo em nova planta e novo fruto?… O que é certo é que, apesar do
nonsense dos seus argumentos, estes
continuam a ser, hoje, pregados nas igrejas, nos sermões da Páscoa da
Ressurreição: “Alegremo-nos, irmãos e irmãs, Cristo ressuscitou, alleluia, alleluia!”
Admira-nos, no entanto, a fé deste Paulo e de todos os
primeiros cristãos (na sua maior parte, judeus convertidos) que, não entendendo
de modo algum, como nós também não entendemos, as próprias palavras que
proferiam, davam a vida pelas suas “certezas” de fé e morriam por um Cristo que
os deixou com tantas dúvidas, em relação ao mais importante da vida humana: o
Além-desta mesma vida!
As nossas desculpas pelo atraso na publicação. Coisas do Covid 19...
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