À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS – 71/?
– Perante a espectacularidade dos fenómenos ocorridos
aquando da morte de Jesus na cruz, nós vamo-nos movendo entre o real e o
fantástico, entre o querer acreditar e o hesitar, ao ver tantos milagres feitos
em tão curto espaço de tempo – umas duas horas! – (lembrando-nos também de todos
os milagres dos três anos da vida pública de Jesus) com tão pouca gente a
acreditar que Ele era o Messias…
E se todos os milagres realizados durante a sua vida pública
nos merecem muitíssimas reservas quanto à sua veracidade, os fenómenos que
Mateus aqui descreve são tão incomuns que, mais do que aqueles, parecem, de
certeza, invenções da sua fértil imaginação. A invenção mais caricata é a
ressurreição de muitos mortos que, depois, passearam pela cidade e foram vistos
por muita gente. Quem consegue acreditar em tal afirmação sem qualquer prova ou
testemunho que a ateste? É que Mateus limita-se a narrar, a afirmar. Ora,
deveria saber que, para indivíduos analistas críticos, tal não é suficiente. Ou
talvez fosse mesmo essa a sua intenção: “Não provo, não apresento testemunhos,
mas se nem todos acreditarem, muitos terão pelo menos dúvidas de que tal tenha
acontecido. E, assim, confirmo na Fé os muitos crentes que é preciso cativar
para a nossa seita”. Cremos não estar
muito longe da realidade que assiste a este mágico no manuseamento das palavras
que é Mateus. Um artista malabarista da narrativa!
O povo, esse ora acreditava e aclamava Jesus, ora O repudiava,
como aconteceu na sua própria terra, Nazaré, ou quando preferiram Barrabás,
condenando-O à morte…
Aliás, poderíamos perguntar: Onde estavam para O defender
todos os inúmeros miraculados? Não eram eles o testemunho vivo da força divina
que emanava de Jesus? Porque não tiveram força para impedirem tal morte?
Voltamos às Escrituras… omnipotentes e omnideterminantes!
Assim, a confusão instala-se muito facilmente no nosso
espírito. Pois realmente quiséramos acreditar sem reservas em Jesus Cristo! E,
no entanto, continuamos cheios de dúvidas, não só quanto ao seu suposto poder
extraordinário, mas também quanto ao seu Pai, ao seu Céu, à sua eternidade…
E é desse Pai, desse Céu, dessa eternidade que andamos
afanosamente à procura…
Enfim, divertamo-nos um pouco, perguntando: Quem teria visto
realmente os ressuscitados? Porque perderam a excelente oportunidade de ficarem
a saber como era o “outro lado”? Que pena lá não termos estado! Que pena! Não
os deixaríamos voltar para os túmulos – se é que voltaram, pois Mateus é omisso
no assunto… - sem nos darem ali todas as informações de que precisamos tanto…
– “Também lá estavam muitas mulheres a observar de longe.
Elas tinham acompanhado Jesus desde a Galieia, servindo-O. Entre elas, estavam
Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José e a mãe dos filhos de Zebedeu.” (Mt
27,55)
– É notório e estranho que não se mencione Maria, a mãe de
Jesus. Não era ela a mulher mais importante naqueles momentos? A sua presença
também não é referenciada nem por Marcos, nem por Lucas. Como poderiam ter tido
tal lapso de memória? É que aparece expressamente em João: “Junto da cruz,
estavam sua mãe, a irmã de sua mãe (…).” (Jo 19,25)
Uma falha totalmente inaceitável que, mais uma vez, põe em
causa a veracidade da narrativa de Mateus.
Enfim, não conseguimos aceitar que, se todos os estranhos
fenómenos físico-naturais narrados por Mateus, aquando do último suspiro de
Jesus na cruz, tivessem sido verdadeiros, os judeus todos, incluindo escribas,
fariseus e todos os das outras seitas religiosas, não se tivessem dado conta da
real divindade de Jesus e que Ele era realmente o Messias, acabando-se pura e
simplesmente, naquele momento, o judaísmo ou religião judaica. Ou – ironia das
ironias! – Deus-Pai perdeu uma boa e última oportunidade para aclamar o seu
Filho como o Salvador da Humanidade em cuja mensagem de Céu e de eternidade
todo o Homem haveria de acreditar a partir daquele momento! E enquanto houvesse
humanidade sobre a Terra!
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