Glorificando o corpo
Glória
a ti, meu corpo, porque és tu que me mantens agarrado à vida! É por ti que eu
penso, que me emociono, que me liberto ou prendo às coisas boas ou más da mesma
vida, sendo tu o suporte do que eu sou, um cérebro multifuncional a que os
antigos, por ignorância da fisiologia do organismo dos seres vivos, chamavam de
alma ou espírito, “anima” para os latinos, “psyqué” para os gregos.
Ora,
isto a que chamo EU – as emoções, a inteligência e seus raciocínios elaborados,
as múltiplas capacidades, desde a música à matemática, à coordenação motora, ao
saber decidir, aos sentimentos de amor, de altruísmo, de solidariedade, mas
também de ódio, de inveja ou de egoísmo – é um quase-mistério. É que tudo está
no cérebro, a parte mais elaborada de um ser vivo, composto, no Homem, por
milhares de milhões de neurónios e de sinapses que os conectam entre si,
elaborando e propiciando todas aquelas funções.
Então,
como te devo tratar bem, meu corpo! Como devo não te sujeitar a movimentos
violentos, não te expor a perigos vários inúteis, a intempéries desnecessárias
para a manutenção da mesma vida! Mas também, como devo gimnasticar-te,
controlar-te nos teus instintos, manter-te em permanente equilíbrio, na
alimentação, no acesso ao prazer, proporcionando-te o melhor ar puro para
respirares, todo o descanso correspondente a qualquer esforço despendido! E
ainda: como devo manter equilíbrio entre a matéria que tu és e o “espírito” que
eu sou, não te sujeitando a stresses desnecessários nem a emoções traumatizantes
que arruínam a vida!
Por
tudo isso, como entender aqueles que, ao longo dos séculos, alimentaram a ideia
de que o sofrimento era o caminho para a glória, para a felicidade, para a vida
eterna? Ah, malfadadas religiões que tal impuseram aos seus fiéis,
incutindo-lhes tais mentiras! É que a vida eterna é mentira e o sofrimento para
alcançar a felicidade outra mentira não menos perversa, levando tantos e tantos
à clausura e ao martírio, os mártires dando a vida por, afinal, um grande NADA!
O
CORPO! É tudo o que nos resta. Quando ele desaparecer, na voragem do Tempo, Tempo
que tudo leva a quem teve a sorte e o privilégio de nele ter tido, um dia, o começo…,
desapareceremos para sempre. Para sempre… Por isso, glória a ti, meu CORPO,
enquanto tivermos VIDA!
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