Tempos de Páscoa, tempos de reflexão filosófico-religiosa!
Por
muito que sobrevalorizemos a Ciência e a Razão, o que nos leva a não aceitar
qualquer conceito, afirmação ou ideia que não possam ser comprovados, usando o
método científico da experimentação, devemos, dentro da honestidade intelectual
que prezamos, ser realistas e não fechar os olhos ao mundo que nos rodeia.
Tal
atitude leva-nos a constatar a mais-valia que a fé representa para os crentes,
obviamente, do ponto de vista emocional, não ignorando que as emoções são parte
fundamental da constituição do ser humano. Evocaríamos, aqui, o filósofo
Descartes com o seu “Penso, logo existo” opondo-o ao neurologista português
António Damásio, no seu “Emociono-me, logo existo”.
Não
interessando saber se primeiro pensamos ou primeiro nos emocionamos, fica-nos a
certeza de que somos feitos de razão e emoção. E a verdade é que agimos levados
pela emoção muito mais vezes do que levados pela razão. Isso é evidente, nas
reacções que temos ao que nos vai acontecendo ao longo da vida. Assim, no amor,
no espectáculo (e ele há tantos, desde a música ao desporto, ao cinema, ao
teatro…, onde se desenrolam, comédias, tragédias, performances, suspense…,
gerando adrenalinas incontidas em participantes ou actores e espectadores), no
afã do dia-a-dia, cheio de imprevistos que temos de resolver, nem sempre
optando pelas melhores soluções…, nos mais pequenos pormenores da vida.
Diríamos que desde o acto da concepção e nascimento até à morte, a nossa vida é
feita toda de emoções, muitas delas dando-nos o gostinho da Vida, outras
arruinando-nos a saúde por causa da ansiedade e do stress inerentes. E serão as
emoções que nos levam aos actos de bravura, de coragem, de solidariedade, mas
também ao cometimento de crimes propiciados por um ódio descontrolado que não
deixa nem dá tempo à reflexão própria da razão. Sorrisos e lágrimas!
Ora,
as religiões encontram-se no patamar das emoções e não no da razão. É
intelectualmente honesto reconhecer que o DIVINO, com os seus mistérios – e
quanto mais mistérios, mais atractivo se torna, porque mais emocionante! – é o
que sustenta a alma dos crentes, sejam ignorantes ou sábios, ricos ou plebeus.
O DIVINO em que acreditam sustenta-lhes a alma e dá-lhes a esperança numa vida
melhor, num Além qualquer, vida onde não haja sofrimento nem incertezas, nem
stress, nem ansiedade, nem tristezas ou injustiças, encontrando assim um
sentido para esta vida, já que, sem esse DIVINO, será totalmente indiferente
que se exista ou não, face ao conhecimento que temos do Homem, da Terra, do
Sistema solar, da Galáxia, do Universo.
(Sobre o sentido da Vida, reler texto publicado, aqui, no blog, em 04/11/2017)
Ao
racionalista, resta ter a certeza da sua pertença ao todo-poderoso Tempo, tendo
começado um dia, vindo do NADA, melhor, do tudo existente em átomos e moléculas
– matéria e energia – e voltando impreterivelmente ao mesmo NADA donde veio,
sem deixar qualquer rasto como indivíduo que um dia foi. Fácil é constatar tal
facto, tal realidade: basta olhar para o que aconteceu aos nossos antepassados
próximos ou longínquos: todos voltaram ao donde vieram: o NADA como indivíduos,
ou seja, a Terra feita dos tais átomos e moléculas que estarão sempre prontos
para integrarem novos seres, no eterno retorno do mesmo ao mesmo através do
diverso.
Então,
a pergunta fica: “Não é o crente muito mais feliz, com a sua fé num Além eterno
desconhecido mas tão apetecido, que o racionalista na sua certeza
físico-científica? Que adiantam ao racionalista as suas certezas? Que faz ele
dos sonhos, das emoções, dos gostinhos da VIDA projectados para fora do Tempo?
Que faz ele da esperança num Além de justiça, de paz, de eternidade feliz?”
Perante
uma tão difícil/impossível resposta, até dá vontade de ser crente. É que, tanto
para o crente como para o racionalista, esta é a única oportunidade que lhe foi
dada e, como tal, nunca mais se repetirá…
Sem comentários:
Enviar um comentário