Esta época
festiva faz-nos pensar, não na história do Natal, que é de todos conhecida, mas
na sua autenticidade/veracidade.
Estive
numa pequena cidade da Alemanha, Trier, e visitei a única igreja protestante aí
existente: um enorme barracão rectangular, construído em tijolo, datando do
séc. IV, chamando-se, aliás, de Constantino, imperador romano à época. Nada de
imagens; apenas uma enorme cruz, no único altar, muitas cadeiras enfileiradas
no vasto espaço e, na lateral direita, perto do altar, cinco bustos: o de
Cristo e os dos quatro evangelistas, ladeando-o. Todos com ar sobranceiro ou
seráfico, menos Lucas que se apresenta cabisbaixo. Interroguei-me e… cheguei ao
Natal.
Confesso
que senti um vazio pelo vazio do espaço. Embora percebendo o horror dos
protestantes ao culto das imagens tão do agrado do mundo católico e ortodoxo,
tantíssimas vezes mais de adoração (latria
para Deus) que de veneração (hiperdulia
para a Virgem, dulia para os santos),
aprecio muito mais a exuberância escultórica e pictórica das igrejas e
catedrais católicas e a sua arquitectura multiestilos.
Então,
Lucas! Lucas é o inventor do Natal romântico. Tendo certamente lido as
histórias do nascimento dos deuses antigos, nomeadamente as dos deuses solares egípcios,
e apercebendo-se de que em Marcos nada se dizia a respeito do nascimento e da
infância de Jesus e o que dizia Mateus era insuficiente, apesar de essencial
(nascimento de uma Virgem, visita dos magos, a estrela que os conduziu ao
menino, a fuga para o Egipto, a matança dos inocentes, o regresso a Nazaré),
resolveu-se a romantizar e completar o cenário, com o nascimento milagroso de
João Baptista, o precursor, o anjo a anunciar a Maria que estava grávida do
Espírito Santo, o cântico de Maria, o nascimento de Jesus em Belém, numa
manjedoira, os anjos cantando e aparecendo aos pastores, os pastores
acorrendo…, (omitindo, certamente por não verídicos, a fuga para o Egipto, a matança
dos inocentes ordenada por Herodes e o regresso a Nazaré, “factos” referidos em
Mateus), terminando com a insólita aparição de Jesus, aos doze anos, a falar
com os doutores do Templo, e com a frase lapidar: “E Jesus crescia em sabedoria,
em estatura e graça diante de Deus e dos Homens”. Dos tempos de juventude e até
ao início da sua pregação, trinta anos, nada foi achado relevante para ocupar a
imaginação do evangelista.
Estamos,
pois, perante uma bela história. História que cria simpatia e empatia, já que
falamos do nascimento de uma criança, de uma mãe, de um mistério rodeando e
rodeado por um cenário idílico.
O
escultor, certamente protestante – e várias seitas de protestantes não celebram
o Natal – quis pôr Lucas a pensar se não teria sido melhor nada ter inventado e
ter deixado, para a posteridade, apenas o Jesus adulto com a sua forte mensagem
de fraternidade universal, repetindo Marcos e Mateus.
Objectivamente,
o escultor terá razão. Mas, analisando a História, quanto de beleza nas artes e
na Fé não se teria perdido se não houvesse Natal! As músicas natalícias, os
quadros natalícios, as esculturas natalícias, enfim os presépios que proliferam
pelo mundo, desde o séc. XIII, em que Francisco de Assis lhe deu vida, corpo e
forma…, não teriam feito o sonho das nossas mentes de criança, e não fariam o
sonho de todas as crianças do mundo actual, filhas de crentes ou de não
crentes.
Por isso,
BOM NATAL! Mesmo que a sua mensagem não se cumpra, mesmo que saibamos que
continuam a morrer, diariamente, milhares de crianças, por não terem que comer
ou não terem medicamentos para se tratar ou, simplesmente, por serem vítimas
das guerras desencadeadas pela avidez do lucro e do poder dos adultos que
(des)governam o mundo! Mesmo que não haja nem prendas, nem paz, nem
fraternidade entre os Homens! Mesmo assim…, BOM NATAL, com um largo SORRISO,
emoldurando-nos a face!
Segundo o seu texto Lucas romanceou os acontecimentos e inventou. E que provas tem o sr para afirmar isso? Apresente 1 prova convincente. Já sabemos que o sr não é crente - e pode sê-lo à vontade - mas a dialéctica que apresenta nos seus escritos também não convence.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar