À procura da
VERDADE nos livros Sapienciais – 123/?
O ECLESIÁSTICO – 15/15
- Estamos aproximando-nos do fim da análise de mais
um livro
bíblico.
Antes de terminar o seu livro, Ben Sirá olha à sua
volta e para
o céu e tece um hino à grandeza de Deus que se manifesta na
Natureza e no firmamento, concluindo: “Ele é tudo”.
(Eclo 42; 43,27) Depois,
recorda a História, evocando mais de
três dezenas de antepassados hebreus,
entre os quais, Noé,
Abraão, Isaac e Jacob, Moisés, Josué, Samuel, David,
Salomão
(Eclo 44-50). Pura História que apenas interessará ao povo judeu!
Fazem
ainda parte do livro, um apêndice com dois textos
acrescentados ao livro, para
o encerrar com o tema do
agradecimento e o da procura da Sabedoria. Estes
acrescentos ao
original revelam, no mínimo, a inspiração instável da divindade…
Causando alguma perplexidade a expressão “Ele é tudo”,
expressão que pode apontar para um panteísmo natural, onde Deus
estaria
presente em tudo e em toda a parte, tudo sendo partículas
dele…, apressa-se o
“nosso” comentador a dizer: “ (…) Não
em leitura panteísta, mas na sua
transcendência, estando acima de
tudo e sendo o Senhor de tudo, Senhor que
nunca ninguém viu
(cf Ex 33,20; Jo 1,18; 1Jo 4,12). De todos os seres, o Homem
é o
único que pode tomar consciência de Deus, que é o mistério supremo
escondido por trás de todos os outros mistérios. Paulo dirá que o
sentido
último da vida é louvar a Deus (cf Ef 1,5-6).” (ibidem)
Embora compreendendo o “nosso” comentador, já que
está
hipotecado à doutrina da Igreja, tendo os exegetas cristãos de
encontrar
explicações para tudo o que a Bíblia diz, dentro dos
cânones estabelecidos…,
não vemos que falta de lógica haverá em
considerar que tudo seja Deus, já que,
por ser Infinito, tudo está
nele, tudo faz parte dele, sendo Ele mesmo o TODO
EXISTENTE!
Não é muito melhor concepção do que considerar Deus um ser
invisível, misterioso, da fé? Porque não somos nós partículas
do TODO que é
Deus, um TODO visível e invisível, temporal,
para as coisas que têm tempo ou
vivem no tempo, eterno para as
realidades desconhecidas que estão fora do
tempo, e infinito para o
espaço que só o é por uma relação entre uma coisa e
outra? Acaso,
poderemos algum dia, conhecer os limites do Universo? E
mesmo que
os conhecêssemos, outra pergunta permaneceria
exactamente como hoje: “O que há
para além dos limites?”
Ora, repugna à nossa inteligência dedutiva que haja dois
infinitos:
um o Universo, outro Deus. Aliás, imaginemos uma linha recta
que
passe diante de nós. Acaso conseguimos ver-lhe o princípio
ou o fim? Dizemos,
por isso, que é mistério ou dizemos que é infinita?
Ora, se é infinita,
pertence ao único infinito possível de existir e
a quem podemos chamar, com
toda a propriedade, DEUS!
Finalmente, e pondo em causa a autoridade de Paulo –
realmente, o
grande criador do cristianismo – perguntamos o que é isso de
“o
sentido último da vida ser louvar a Deus”. Deus precisa de ser
louvado? Deus
quer ser louvado? “Precisar”, “querer” não são verbos
puramente humanos? Põe-se
sempre a mesma questão de definirmos
Deus. O cristianismo definiu-o como um
Pai/Amor/Criador que se
interessa pelos Homens e interfere na sua História;
antropomorfizou
Deus, atribuindo-lhe, à moda do Javé dos judeus, sentimentos,
não
de ódio e de vingança, como eram os daquele, mas de ternura,
compaixão e
amor. No entanto, tal definição, embora o torne um
ser simpático que leva à
emoção, não cabe na mente racional do
Homem que pensa. Esse Deus nunca poderá
ser o Deus Infinito e
Eterno, mas – mais uma vez – um Deus criado à imagem e
semelhança do Homem; logo, um Deus inexistente, tal como o
Javé que
supostamente inspirou a Bíblia – sendo pois a palavra
de Deus! – que, afinal,
iria ser corrigida por Jesus, o seu suposto filho…,
já não falando na Bíblia do
NT, interpretada, acrescentada, adulterada
pelos padres dos primeiros três
séculos, a começar pelos evangelistas.
Diríamos mesmo que inventar um
Deus-Pai-Amor, Criador do
Homem e que interfere na sua História, é amesquinhar
a ideia de
Deus: ser infinito e eterno que, forçosamente, tem de estar fora
desta
mesquinhez em que o tornaram. É nitidamente uma concepção
medieval,
revelando completa ignorância do que é a realidade Terra,
dentro da realidade Universo.
Agora, sabemos que o Homem não é
mais que o elo de uma cadeia de vida que
apareceu há c. de 3.500
milhões de anos no planeta Terra, também ela pequena
partícula
perdida na imensidade do espaço onde pontuam milhões de galáxias,
cada uma delas com biliões de estrelas semelhantes ao nosso Sol.
Que presunção,
santo Deus, querer um Deus a interessar-se por essa
partícula absolutamente
irrisória para o Universo/Espaço e Tempo!
Enfim, tudo uma invenção trapalhona e
bem humana que não merece
qualquer credibilidade…
E acabámos a análise crítica de mais um livro que,
apesar de algumas
ideias interessantes, são ideias que não passam o campo
puramente
humano. A suposta inspiração divina esfumou-se na imaginação de
quem
o disse inspirado…
Pensamento da semana, no rescaldo de várias mortes "sonantes" que aconteceram no final de 2016:
ResponderEliminar«A morte, tabu? Porquê? – Ora, a morte é coisa mais natural do mundo: tudo o que vive, vive a prazo, pois, se começou um dia, noutro irá inexoravelmente acabar: hoje aquele, amanhã, tu, eu, nós... Então porque não se fala dela, para melhor apreciarmos a VIDA, esta dádiva maravilhosa que recebemos gratuitamente, enquanto há luz para os nossos olhos e as energias não nos faltam no corpo – este maravilhoso sustentáculo da mesma VIDA, para rir, cantar, dançar…?
Antes de iniciar a análise crítica de mais um livro da Bíblia - Isaías - façamos uma pausa para nos enquadrarmos nesta época em que a Natureza apressa, de algum modo, o termo da vida de seres vivos mais fracos, humanos e não só. E - escândalo! - vamos propor cerimónias, no mínimo discutíveis - para a realização de um funeral de alguém que foi agnóstico ou ateu; claro, que também um crente teria tudo a ganhar se tal aceitasse em vida que lho fizessem... Não percam!
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