domingo, 22 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo testamento (AT) - 122/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 14/15



- “Ó morte, como é amarga a tua lembrança para o Homem que vive 
tranquilo entre os seus bens (…) Tu, porém, não temas a sentença da 
morte. (…) Esta é a sentença do Senhor para todo o ser vivo (…) Quer 
vivas dez, cem ou mil anos, na mansão dos mortos ninguém discutirá 
sobre a vida. (…) Na hora da morte, (…) os injustos irão da 
maldição para a ruína (…) mas o bom nome permanece para sempre.” 
(Eclo 41,1-13)
- Que a morte é amarga para todo o ser vivo, sendo por um lado uma 
necessidade inerente ao acto de ter vindo à vida, num dado 
momento do Tempo, por outro, o interromper mais ou menos doloroso 
do instinto mais forte do ser vivo: preservar a mesma vida…, não há 
dúvida. Já a última afirmação parece-nos gratuita ou baseada na 
certeza da fé que, afinal, não é certeza nenhuma. Certo é que ficam 
votados ao esquecimento eterno tanto os injustos como os de “bom 
nome”. E, se alguma memória perdura, ela perdura tanto para os 
malvados como para os santos, tanto para os Hitlers como para as 
Madres Teresas de Calcutá!
- “Envergonha-te (…) por dirigires olhares para uma prostituta (…), 
por dirigires olhares cobiçosos para uma mulher casada (…), por 
ter relações sexuais com uma escrava (…). Não te envergonhes 
de discutir o preço com o comerciante, nem de corrigir os 
filhos com severidade, nem de ensanguentar as costas do escravo 
preguiçoso. Com a mulher curiosa é bom lacrar os documentos e 
usa a chave onde houver muitas mãos. Conta e pesa bem tudo o que 
deixares em depósito e anota por escrito tudo o que deres ou 
receberes (…)” (Eclo 41,22-24; 42,5-7)
- Tudo à… “judeu”! Sem ponta de divino! E perguntamos, com 
óbvia ironia: ocupar-se-ia Deus a dar/inspirar assim conselhos de 
tão comezinho viver do dia-a-dia, seja do senso comum, seja do 
trivial saber-viver? Depois, qualquer homem gosta de apreciar a 
beleza feminina, seja mulher solteira, casada ou prostituta. 
Confrange o desprezo manifestado em relação aos escravos. 
Aqui, foi certamente o diabo que inspirou o autor e não Deus! 
Nem falta o toque machista, no quotidiano desconfiar da 
curiosidade da mulher…
- “Uma filha é para o pai uma preocupação (…): se é virgem, receia 
que seja violada e fique grávida (…); se tem marido, receia (…) 
que seja estéril. Vigia bem a filha libertina para que não faça de ti 
objecto de zombaria dos inimigos, assunto da cidade, 
envergonhando-te diante de todos. Não te detenhas na beleza de um 
ser humano, nem te sentes no meio das mulheres, porque da roupa 
sai a traça e da mulher, a malícia feminina. É melhor a maldade 
do homem do que a bondade da mulher: a mulher causa vergonha 
e chega a expor ao insulto.” (Eclo 42,9-14)
- Tresloucou, de vez, o autor! Que mulher desculpará tais 
vexatórias afirmações a uma Bíblia dita sagrada? O autor – ou 
supostamente Deus através dele – atingiu o auge do absurdo! E 
diz o “nosso” comentador: “Os costumes fazem parte do contexto 
cultural e não perdoam. O autor cede à mentalidade antifeminista 
até ao paradoxo. Jesus veio corrigir muitas coisas. Descobrimos 
hoje que só integrando a dimensão feminina, a humanidade pode 
reencontrar a sua alma e a sua sensibilidade criadora.” (ibidem). 
Estas palavras sensatas em nada apaziguam a nossa revolta. 
Aliás, são próprias dos exegetas das suas religiões, neste caso, 
o cristianismo: tudo o que na Bíblia é absurdo ou totalmente 
inaceitável, desculpa-se com a cultura da época, esquecendo-se 
que antes afirmaram que “Toda a Bíblia é de inspiração 
divina”. Para nós uma parcialidade imperdoável! Depois, que 
dizer de uma Bíblia, inspirada por Deus, mas que tem de ser, mais 
tarde, corrigida por Jesus Cristo? E que religião é esta que só hoje 
descobre que a humanidade precisa da dimensão feminina para 
reencontrar a sua alma? E como é que a inspiração divina não 
se sobrepõe aos costumes que “não perdoam”?

A beleza de um ser humano é certamente a mais bem conseguida pela Natureza, no seu processo criativo. E a beleza do corpo é abrilhantada pela beleza da alma, obviamente quando esta cria arte, fraternidade, amor, equilíbrio no ser de que faz parte e nos seres que a rodeiam.



1 comentário:

  1. Pensamento da semana:
    Proponho-vos um diálogo reflexivo entre a alma (o eu, o self, o espírito, o sopro vital que nos anima) e o corpo que a suporta e, sem o qual, ela não perdura – dicotomia de que nos ocuparemos brevemente:
    Eu – Que queres de mim, meu lindo corpo?
    Corpo – Simples: deitares-me quando chega a noite e deixares-me dormir umas oito horas sossegadas; alimentares-me saudavelmente; não me stressares com ninharias que nada interessam para a vida; não me deixares adoecer, expondo-me a situações perigosas; não me deixares abusar dos prazeres; dares-me movimento a todos os órgãos que me compõem, para não adormecerem, nem definharem; que, de vez em quando, te lembres de que tenho um coração que nunca pára e que leva o sangue até ao cérebro onde tu arquitectas tudo o que te constitui: pensamento e emoção, desejo e vontade, decisão… Lembra-te: sem ti, não enquanto espírito mas enquanto sopro vital, eu não vivo; mas tu também só existes por mim e por estares comigo, tendo sido criada no momento exacto em que eu fui concebido.
    Eu – Sim, lembrar-me-ei! Prometo-o, beijando-me as mãos, num acto de amor e respeito por ti.

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