À
procura da VERDADE nos livros Sapienciais
O ECLESIÁSTICO – 14/15
- “Ó morte, como é amarga a tua lembrança para o
Homem que vive
tranquilo entre os seus bens (…) Tu, porém, não temas a sentença
da
morte. (…) Esta é a sentença do Senhor para todo o ser vivo (…) Quer
vivas
dez, cem ou mil anos, na mansão dos mortos ninguém discutirá
sobre a vida. (…)
Na hora da morte, (…) os injustos irão da
maldição para a ruína (…) mas o bom
nome permanece para sempre.”
(Eclo 41,1-13)
- Que a morte é amarga para todo o ser vivo, sendo
por um lado uma
necessidade inerente ao acto de ter vindo à vida, num dado
momento do Tempo, por outro, o interromper mais ou menos doloroso
do instinto
mais forte do ser vivo: preservar a mesma vida…, não há
dúvida. Já a última
afirmação parece-nos gratuita ou baseada na
certeza da fé que, afinal, não é
certeza nenhuma. Certo é que ficam
votados ao esquecimento eterno tanto os
injustos como os de “bom
nome”. E, se alguma memória perdura, ela perdura tanto
para os
malvados como para os santos, tanto para os Hitlers como para as
Madres
Teresas de Calcutá!
- “Envergonha-te (…) por dirigires olhares para uma
prostituta (…),
por dirigires olhares cobiçosos para uma mulher casada (…), por
ter relações sexuais com uma escrava (…). Não te envergonhes
de discutir o
preço com o comerciante, nem de corrigir os
filhos com severidade, nem de
ensanguentar as costas do escravo
preguiçoso. Com a mulher curiosa é bom lacrar
os documentos e
usa a chave onde houver muitas mãos. Conta e pesa bem tudo o
que
deixares em depósito e anota por escrito tudo o que deres ou
receberes (…)” (Eclo 41,22-24; 42,5-7)
- Tudo à… “judeu”! Sem ponta de divino! E
perguntamos, com
óbvia ironia: ocupar-se-ia Deus a dar/inspirar assim conselhos
de
tão comezinho viver do dia-a-dia, seja do senso comum, seja do
trivial
saber-viver? Depois, qualquer homem gosta de apreciar a
beleza feminina, seja mulher
solteira, casada ou prostituta.
Confrange o desprezo manifestado em relação aos
escravos.
Aqui, foi certamente o diabo que inspirou o autor e não Deus!
Nem
falta o toque machista, no quotidiano desconfiar da
curiosidade da mulher…
- “Uma filha é para o pai uma preocupação (…): se é
virgem, receia
que seja violada e fique grávida (…); se tem marido, receia (…)
que seja estéril. Vigia bem a filha libertina para que não faça de ti
objecto
de zombaria dos inimigos, assunto da cidade,
envergonhando-te diante de todos.
Não te detenhas na beleza de um
ser humano, nem te sentes no meio das mulheres,
porque da roupa
sai a traça e da mulher, a malícia feminina. É melhor a maldade
do homem do que a bondade da mulher: a mulher causa vergonha
e chega a expor ao
insulto.” (Eclo 42,9-14)
- Tresloucou, de vez, o autor! Que mulher desculpará
tais
vexatórias afirmações a uma Bíblia dita sagrada? O autor – ou
supostamente
Deus através dele – atingiu o auge do absurdo! E
diz o “nosso” comentador: “Os
costumes fazem parte do contexto
cultural e não perdoam. O autor cede à
mentalidade antifeminista
até ao paradoxo. Jesus veio corrigir muitas coisas.
Descobrimos
hoje que só integrando a dimensão feminina, a humanidade pode
reencontrar a sua alma e a sua sensibilidade criadora.” (ibidem).
Estas
palavras sensatas em nada apaziguam a nossa revolta.
Aliás, são próprias dos
exegetas das suas religiões, neste caso,
o cristianismo: tudo o que na Bíblia é
absurdo ou totalmente
inaceitável, desculpa-se com a cultura da época, esquecendo-se
que antes afirmaram que “Toda a Bíblia é de inspiração
divina”. Para nós uma
parcialidade imperdoável! Depois, que
dizer de uma Bíblia, inspirada por Deus,
mas que tem de ser, mais
tarde, corrigida por Jesus Cristo? E que religião é
esta que só hoje
descobre que a humanidade precisa da dimensão feminina para
reencontrar a sua alma? E como é que a inspiração divina não
se sobrepõe aos
costumes que “não perdoam”?
A beleza de um ser humano é certamente a mais bem conseguida pela Natureza, no seu processo criativo. E a beleza do corpo é abrilhantada pela beleza da alma, obviamente quando esta cria arte, fraternidade, amor, equilíbrio no ser de que faz parte e nos seres que a rodeiam.
Pensamento da semana:
ResponderEliminarProponho-vos um diálogo reflexivo entre a alma (o eu, o self, o espírito, o sopro vital que nos anima) e o corpo que a suporta e, sem o qual, ela não perdura – dicotomia de que nos ocuparemos brevemente:
Eu – Que queres de mim, meu lindo corpo?
Corpo – Simples: deitares-me quando chega a noite e deixares-me dormir umas oito horas sossegadas; alimentares-me saudavelmente; não me stressares com ninharias que nada interessam para a vida; não me deixares adoecer, expondo-me a situações perigosas; não me deixares abusar dos prazeres; dares-me movimento a todos os órgãos que me compõem, para não adormecerem, nem definharem; que, de vez em quando, te lembres de que tenho um coração que nunca pára e que leva o sangue até ao cérebro onde tu arquitectas tudo o que te constitui: pensamento e emoção, desejo e vontade, decisão… Lembra-te: sem ti, não enquanto espírito mas enquanto sopro vital, eu não vivo; mas tu também só existes por mim e por estares comigo, tendo sido criada no momento exacto em que eu fui concebido.
Eu – Sim, lembrar-me-ei! Prometo-o, beijando-me as mãos, num acto de amor e respeito por ti.