À procura da VERDADE
nos LIVROS
SAPIENCIAIS e POÉTICOS
Livro dos PROVÉRBIOS 4/4
Terminando, diz o “nosso” comentador: “Esta colecção de “palavras
dos
sábios” (Pr 22, 23 e 24) inspira-se claramente no livro egípcio
conhecido por
Sabedoria ou Ensinamentos de Amenemope que, por
volta do ano 1000 a.C., já
circulava pelo Médio Oriente. (…) São trinta
máximas que se inspiram na estrutura
do texto egípcio, adaptado à
perspectiva da religião javista.” E nós não
entendemos: Afinal a
inspiração veio de Deus, ou do povo egípcio ou,
simplesmente da
experiência de toda uma cultura? Quando se mistura o humano e o
sagrado, a confusão instala-se… Bem, eis algumas mais significativas:
- “Não explores o fraco (…) Não faças amizade com pessoa colérica
(…) Não
sejas como aqueles que se comprometem facilmente (…)
Não mudes os marcos das
terras (…) Não te empenhes em adquirir
riquezas (…) Não comas na casa do
injusto (…) Não percas tempo a
falar com o insensato (…) Disciplina a tua mente
(…) Não deixes
de disciplinar o jovem (…) Não tenhas inveja dos pecadores (…)
Não
te juntes aos beberrões e comilões (…) Não desprezes a velhice (…)
Não
conspires contra a casa do justo (…) Não te alegres quando o teu
inimigo cai e
não rejubiles quando ele tropeça (…)” (Pr 24,17) -
No geral, tudo bons propósitos, bons conselhos.
Nesta última, faz
lembrar Jesus Cristo quando diz: “Amai os vossos inimigos!”.
De
qualquer modo, contradiz-se totalmente com o anterior AT onde
se implora a
Javé que destrua o inimigo, inimigo a quem Javé
dedica muito do seu ódio…
Aliás, parecendo ter notado tal
incongruência, acrescenta: “Javé poderia ver isso, ficar
descontente e
retirar dele a sua ira.” (Pr 14,18) Estragou tudo!
E o motivo de Javé é,
simplesmente, perverso!!!
- “Nunca digas: Vou fazer-lhe o
mesmo que ele me fez a mim. Vou
pagar-lhe como ele merece.” (Pr 24,29) - A
ideia é não pagar o mal
com o mal. Aqui, sim! Ultrapassa-se a lei de Talião do
“Olho por
olho, dente por dente” Soberbo! Quase divino!... Raro no AT.
Mas…
quem poderá contestar que a lei de Talião não é justa? Se me
matas o meu filho,
não tenho o direito/dever de matar o teu? – Enfim,
perdoar é mais difícil mas, sem dúvida, bem mais “divino”…
- “Se encontraste mel, come apenas o suficiente para não ficares enjoado
e o vomitares.” (Pr 25,16) - Dirão mais tarde os latinos: “In médio, virtus.”
(No meio, está a virtude.)
- “Não frequentes demasiado a casa do teu próximo para que ele não se
canse e aborreça de ti.” (Pr 25, 17) - É como o sal na comida…
- “Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de
beber.” (Pr 25,21) - Já faz lembrar Jesus Cristo! E, mais uma vez, é uma
reviravolta total em relação aos livros anteriores. Mas, também mais uma
vez, o
autor parece arrepender-se: “Deste modo, fá-lo-ás corar de
vergonha e Javé te
recompensará!” (Pr 25,22).
- “É melhor uma repreensão franca do que uma amizade fingida.” (Pr27,5) -
Claro!
- “Goteira a pingar em dia de chuva e mulher desordeira são coisas
iguais.
Querer segurá-la é como segurar o vento ou reter o azeite com a mão.”
(Pr 27,15-16) - Decididamente, a mulher não era das simpatias deste autor
ou
destes sábios antigos eivados de um machismo primário! “Esta Bíblia
não é, de
certeza, de inspiração divina!” – dirá qualquer mulher que esteja
atenta à
vida… Ou… talvez não. É que o autor termina o seu livro com
um hino de suposto
louvor à mulher: “Quem poderá encontrar uma
mulher forte? Ela vale mais que as
pérolas. O seu marido confia nela e não
deixa de encontrar vantagens. Ela
traz-lhe a felicidade (…) Adquire lã e
linho (…) É como navio mercante (…) Ela
levanta-se ainda de noite (…)
Examina um terreno e compra-o (…) Prepara-se para
o trabalho (…) mesmo
de noite, a sua lâmpada não se apaga (…) Abre as mãos ao
pobre (…)
Tece mantas (…) Abre a boca com sabedoria (…) Supervisiona o
andamento da casa (…) e o seu marido elogia-a: Muitas mulheres são fortes
mas tu superaste-as a todas!” (Pr
31,10-29) - Será um elogio à mulher ou…
à escrava do lar e… escrava do marido?!
Afinal, qual o trabalho de tal
marido?!
- A propósito, comenta-se: “Mais do que o elogio a uma determinada
esposa,
o poema proclama a sabedoria personificada como esposa ideal que
encaminha o homem para a justiça, honra, prosperidade e vida. É a
companheira
ideal para todos, homens e mulheres.” (ibidem) Enfim… é
mais uma honesta
tentativa, deste exegeta, de salvar a face da Bíblia!
Salvará?! Aliás, os
exegetas são peritos em descortinar interpretações
metafóricas daqueles textos
da Bíblia que, se tivessem sido inspirados por
Deus, deixariam o mesmo Deus
ficar com péssima reputação. Por isso…
Contudo, é inadmissível, porque
intelectualmente desonesto, que os
exegetas, quando lhes “convém”, interpretem
a Bíblia em sentido literal; nos
outros casos – que são muitos! – socorrem-se
dos subterfúgios
interpretativos que normalmente dão para tudo…
- E… terminámos! Mais um livro! Cheio de verdades boas para a vida
do
Homem na Terra. Para a sua eternidade no céu, NADA!…
Também hoje começa a "Semana santa", também chamada "Semana maior" pelo significado que tem para os cristãos, já que se comemoram os fundamentos do Cristianismo: morte (para salvar a humanidade e redimi-la do pecado original) e Ressurreição (penhor da ressurreição de todos os crentes) de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
ResponderEliminarCompreende-se que assim seja. Quem tem fé naquilo que lhe "venderam" como Verdade deve chorar a morte de JC e festejar a sua ressurreição.
Mas... quem faz uma análise crítica e histórica do que realmente terá acontecido, não dando total credibilidade aos evangelhos, cujos originais se perderam, havendo apenas cópias do séc. III, o que permitiu toda a espécie de acrescentos e mutações, conforme as conveniências da doutrina então imposta, a começar por Paulo, logo pelos anos 50/60..., não pode deixar de encontrar inúmeras contradições nos relatos do supostamente acontecido, sobretudo no que respeita aos fenómenos extraordinários - milagres! - que acompanharam a morte de JC e a sua suposta ressurreição, aparições e subida ao Céu, indo para junto do Pai.
Tudo muito bonito, cativante, mas... simplesmente fruto da fantasia dos primeiros construtores/inventores do Cristianismo. Disso, falaremos a seu tempo. Já na próxima semana, introduziremos - fazendo uma pausa na análise dos livros bíblicos - o tema: "Os pés de barro das três religiões monoteístas."
A todos, crentes e não crentes, BOA PÁSCOA E FESTAS FELIZES!