quarta-feira, 2 de março de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 90/?

À procura da VERDADE
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

Livro dos PROVÉRBIOS 1/4

“Os provérbios são ensinamentos deduzidos da experiência que o povo 
tem da vida. (…) A maioria deles (…) passou de boca em boca e foi 
depois recolhida, burilada e editada por sábios (…) desde Salomão 
(950 a.C.) até dois séculos depois do exílio (400 a.C.) (…). Também 
este livro é Palavra de Deus que transmite vida.” (Introdução ao Livro
 dos Provérbios, ibidem)
- Este início é pouco ou nada prometedor para quem procura a 
VERDADE.  É que é totalmente gratuita a afirmação de que este 
livro é “Palavra de Deus”. Teremos de aceitar como VERDADE que 
Vox populi, vox Dei!”? Será a voz do povo, a voz de Deus? Que 
tem realmente Deus a ver com os ensinamentos que tiramos da nossa 
experiência e… da vida? Que sábios burilaram estes provérbios para 
que sejam considerados de inspiração divina? Mas… coragem! Vamos 
à descoberta!
- “Provérbios (…) para adquirir disciplina e sensatez, justiça, direito e 
rectidão; para ensinar sagacidade aos ingénuos, conhecimento e reflexão 
aos jovens (…) O temor de Javé é o princípio do saber (…) (Pr 1,1-7)
- Belos, belíssimos propósitos mas… simplesmente humanos! E porque 
é que “o temor de Javé é o princípio do saber”? – A resposta até parece 
fácil: quem não O teme, não cumpre as suas Leis. Já viram alguém 
cumprir uma lei se não tiver medo do castigo no caso de a infrigir? 
Problema é que estas supostas leis divinas foram escritas por 
Homens e apenas por Homens que alguns consideraram – sem qualquer 
fundamento, claro! – inspirados por Deus.
- “Tal é o destino do ganancioso: a cobiça acaba com o cobiçoso.” 
(Pr 1,19).
- Nem sempre! Basta olhar à nossa volta e veremos que os gananciosos 
prosperam e os honestos e solidários vivem, muitas vezes, de migalhas…
- “A Sabedoria grita pelas ruas: (…) Recusastes os meus conselhos 
e não aceitastes o meu aviso. Por isso, também eu vou rir da vossa 
desgraça (…) Recusastes o conhecimento e não escolhestes o temor de 
Javé (…) Pois bem! Comereis o fruto do vosso comportamento (…)” 
(Pr 1,20-29)
- Que conselhos? Que aviso? Que conhecimento? – Certamente os da 
nossa experiência, pois que Deus… Só se considerarmos Deus a parte 
boa e positiva do Homem. Mas sê-lo-á?
- “De facto é Javé quem dá a sabedoria e da sua boca vêm o conhecimento 
e o entendimento.” (Pr 2,6)
- Onde o fundamento de tal afirmação? – Simplesmente… não há!
- “A Sabedoria livrar-te-á da mulher estrangeira (…) que seduz com 
palavras (…)” (Pr 2,16)
- Pobre da mulher! A Bíblia contribuiu perversamente para a desumanização 
da mulher, ao longo da História da civilização judaico-cristã, sobretudo 
ao atribuir-lhe o primeiro pecado da Humanidade, dando a Adão a maçã 
proibida, ilibando – obviamente por machismo – o homem de qualquer 
culpa! Se a Bíblia tivesse sido escrita por mulheres, qual seria a sorte do 
homem na civilização ocidental? E porque se alimenta, neste caso, a 
discriminação em relação à mulher não judaica? É tão pouco divino, não 
é?! Mas – infelizmente para todas as mulheres do mundo – depois da 
Bíblia do AT, e com algumas exepções no NT – apareceu o cúmulo do 
total desrespeito pela mulher: o Corão de Maomé. Já abordámos aqui este 
tema. Voltaremos a ele quando nos ocuparmos do Corão, numa análise 
objectiva, como estamos fazendo agora.
- “Não te consideres sábio: teme a Javé e evita o mal. Isto trará saúde ao teu 
corpo (…)” (Pr 3,7)

- A humildade e sensatez são fonte de vida, claro! Continua-se é a apelar 
para o temor de Javé, sem qualquer sentido objectivo.

4 comentários:

  1. Caro Francisco, vou expor três observações.
    1) "Temor", no sentido bíblico, não significa "medo". Significa o sentimento que experimentamos perante o infinito e o absoluto de Deus. E, perante a Sua perfeição, que nos ultrapassa completamente, sentimos a nossa pequenez. A Lei de Deus e a Sua Sabedoria entendem-se como a proposta para realizarmos em plenitude, na perfeição, as nossas potencialidades de seres humanos. O "temor de Deus", no sentido bíblico, une-se ao amor de Deus: perante a grandeza, o absoluto, o infinito de Deus, sentimos amor por Ele que é a PERFEIÇÃO.
    2) A Bíblia não é machista e o fruto de que fala a Bíblia não é uma maçã (leia o texto bíblico - Génesis, capítulo 3). Fala-se apenas de "fruto da árvore que está no meio do jardim". Na descrição bíblica da criação da mulher (atenção ao estilo literário que é utilizado. Não é para ser interpretado em sentido literal). A mulher é criada a partir do lado de Adão ("Adão" significa "tirado da terra, homem"). Que se quer dizer? Que homem e mulher são do "mesmo barro", da mesma natureza, com igualdade de direitos e deveres. E parece que são poucos os que entendem isto. Caro Francisco, já entendeu agora?
    3) O pecado é atribuído a Eva? Se lermos a Carta aos Romanos, no capítulo 5, versículo 12, encontramos "Por isso, tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram". Então, quem pecou? Foi Eva ou Adão? A resposta é simples: o pecado atingiu toda a humanidade. E aqui não há primeiro nem segundo. Há uma coisa que deveria saber, caro Francisco. Nenhuma passagem da Bíblia pode ser interpretada isoladamente. Somente no seu todo e integrada no todo.
    Termino por aqui. Desejo-lhe um bom dia e apresento cumprimentos amigos. Por favor, continue a alimentar essa boa vontade de descobrir o que de melhor a humanidade tem e seja sensível à presença de Deus no mundo e na sua vida. A ciência responde a muitas coisas. Mas nunca responde ao sentido que as coisas têm.

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  2. Obrigado pelas explicações, caro Miguel. Respondo sintecticamente:
    1 - É interessante a sua explicação para a palavra "temor". Na minha opinião, não se pode ler a Bíblia só em sentido literal, mas também não se pode ler só em sentido metafórico ou alegórico, que é o que fazem os exegetas. Pior: quando o sentido literal é supostamente claro, aceita-se; quando o não é, interpreta-se. Não há coerência aceitável por um crítico.
    2 - Não concordo. O machismo na Bíblia é palpável, no decorrer de toda ela, aliás como reflexo da cultura machista das civilizações circundantes de Israel. Apesar de se considerar o Génesis como uma alegoria, o sentido literal não pode ser desprezado: "A mulher que tu me deste, deu-me "a maçã" e eu comi." (Cito de cor)
    3 - Não considero Paulo - o grande construtor do cristianismo dogmático e teológico, antes de João - como um bom intérprete da Bíblia do AT. Aproveitou o que quis e do modo como quis para defender a sua religião que ele queria construir. Tentarei provar isso quando aqui fizer a análise crítica das Cartas. Depois também falarei desse suposto pecado original que afectou toda a humanidade...
    Abr. cordial!

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  3. "Já viram alguém cumprir uma lei se não tiver medo do castigo no caso de a infringir?"

    Com esta frase, caro Francisco Domingues, você está a justificar as religiões, todas as religiões que associam um castigo ou uma recompense numa "outra vida" ao comportamento que tivermos nesta vida (que, até prova do contrário, é a única).

    Devemos cumprir as regras por estarmos convencidos que essas regras são justas e necessárias à vida em sociedade e não por causa de quaisquer prémios ou castigos.

    Infelizmente a humanidade ainda está longe de pensar assim.

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  4. Concordo, caro Carlos! Há muita gente que cumpre as leis por as pensar justas e convenientes à boa vivência em sociedade. (Embora haja leis que são injustas ou promíscuas...) Talvez na sociedade judaica de então, fosse mais o primeiro caso.
    Obrigado pelo reparo.

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