2 - O
cristianismo
As origens objectivas do Cristianismo
são mais claras e mais conhecidas, pelo menos na civilização ocidental, que as
do Judaísmo ou Islamismo:
1 – Historicamente, o judeu Jesus nasceu
de uma mulher chamada Maria, de pai desconhecido, supondo-se que tenha casado,
já grávida de Jesus, com José, do qual teve outros filhos.
2 – Jesus, pelos trinta anos, sentiu-se
inspirado para pregar uma nova doutrina, em parte oposta à da sua cultura
judaica, baseada num princípio: o da Fraternidade Universal de todos os Homens,
já que todos filhos do mesmo Deus a quem ele não chamava Javé (o Deus dos
judeus) mas Pai. E isto contra a sociedade de então, baseada na escravatura e
nas classes dominantes e exploradoras dos mais fracos, imperando a lei do
sábado e a lei de Talião, do “olho por olho, dente por dente”, cortando com
ambas, defendendo que “o sábado foi feito para o Homem e não o Homem para o sábado”
e o “dar a outra face” perante uma agressão. (Diga-se, em abono da verdade, que
a Lei de Talião é totalmente justa – “Amor com amor se paga!” – embora em nada
ajude à acalmia entre desavindos…)
3 – O ambiente histórico de então era
propício ao aproveitamento de ideias revolucionárias, como esta da Fraternidade
Universal:
3.1 – Israel estava sob o domínio romano.
3.2 – Havia várias seitas religiosas que
se queriam impor ao povo, como a dos fariseus, a dos saduceus, a dos essénios e
até a dos zelotas, esta de cariz mais guerreiro, organizando-se para lutar
contra o ocupante romano.
3.3 – Havia, entre o povo, a ideia de
que o Messias anunciado, desde séculos, pelos profetas, estaria prestes a vir
salvar Israel do seu opressor.
3.4 – O povo humilde e trabalhador era
subjugado por impostos e pelas classes dominantes quer políticas quer
religiosas, quando não escravizado.
4 – Jesus consegue reunir uma dúzia de
discípulos à sua volta, discípulos que começam a considerá-lo como o Messias, o
salvador, o prometido por Javé nos tempos passados, Messias que viria instaurar
o reino definitivo de paz e prosperidade para Israel. É provável que Jesus se
tenha convencido de tal prerrogativa: ser ele o Escolhido, o Eleito de Javé, já
que possuía alguns poderes invulgares, como os de curandeiro e de adivinho. No
entanto, declarou: “O meu reino não é deste mundo…”, criando a desilusão já
entre os discípulos, já entre o povo que, depois de o aclamar: “Hossana,
hossana ao Filho de David!”, gritou, perante Pilatos: “Crucifica-o,
crucifica-o!”, considerando-o um impostor…
5 – Jesus morre. E cerca de 20 anos mais
tarde, pelo ano 50, aparece Paulo de Tarso que, de perseguidor dos primeiros
seguidores de Jesus, se torna um apóstolo, construindo a primeira teologia
baseada num Jesus suposto filho de Deus que desceu do Céu à Terra para salvar a
humanidade: judeus e gentios. Paulo - um homem culto e certamente com pretensões a ficar na História... - é, sem dúvida, o criador do Cristianismo,
uma seita religiosa a que ele teria o orgulho de presidir, organizando
comunidades, com ou sem a colaboração dos discípulos.
6 – Entre 70 e 100 dC, escrevem-se os
quatro evangelhos, dos quais não possuímos nenhum original mas apenas cópias do
séc. III dC. Ali se elaborou toda uma história de um Jesus divinizado e,
“obviamente!”, Filho de Deus.
É interessante constatar que os
evangelistas – ou os copistas durante os dois séculos em que os originais se
perderam – inventaram tudo o que puderam para divinizar Jesus e firmar na fé os
entretanto muitos crentes que foram aderindo à nova religião, sobretudo os das
classes mais baixas, escravizadas e exploradas, pois era sumamente convidativa
a ideia da “Fraternidade Universal”, ao contrário do que acontecerá com o islamismo,
600 anos mais tarde, cujo convencimento foi feito pela espada. O resto das
crenças ou… “crendices”, dogmas e credos, quer naquele tempo, quer ao longo dos
séculos, veio por acréscimo. Aliás, a nova religião, para sê-lo, tinha de
“meter” Deus e os seus mistérios no meio daquele revolucionário conceito. Outro
conceito, este mágico: a Fé! “Quem crê em mim e na minha palavra terá a vida
eterna!”; “Quem me vê a mim vê o Pai que me enviou!”; etc.
Os exemplos da tentativa de divinização
de Jesus são notórios em cada passagem evangélica. Estão patentes sobretudo nos
inúmeros milagres atribuídos a Jesus, milagres obviamente falsos e inventados,
pois a terem sido verdadeiros, não teria havido ser humano à face da Terra
então conhecida, desde Roma à Índia, que não tivesse vindo a Israel ver tal
“fenómeno” produtor de milagres. Nem tão pouco os seus irmãos judeus o teriam
odiado tanto a ponto de pedirem a sua morte e morte de cruz. É que isto de
ressuscitar mortos com um abrir e fechar de olhos e de pôr cegos de nascença a
ver ou coxos a andar… não é para qualquer um! E nada desta procissão de humanos
consta da História! Assim, Lucas ocupou-se de divinizar Jesus ao modo dos
deuses solares, fazendo-o nascer de uma virgem, com fenómenos celestiais a
acompanhar tão fantástico acontecimento: Deus vindo do Céu à Terra, tomando a
carne humana, em forma de menino… Marcos e Mateus encarregaram-se da invenção
de milagres, mais este que aquele, culminando nos milagres que rodeiam a morte
e ressurreição de Jesus, um deles totalmente fantasmagórico: os mortos terem-se
levantado dos túmulos e terem passeado pela cidade… Sucedem-se as narrativas
contraditórias do chamado fenómeno da ressurreição! E João empenhou-se, na
esteira de Paulo, em elaborar uma teologia a condizer com os “factos” narrados
pelos seus antecessores.
O cristianismo teve o seu grande impulso,
quando o imperador Constantino, nos princípios do séc. IV, o declarou como
religião oficial do Império, tornando-se imparável, a partir desse momento,
espalhando-se por todo o vasto Império.
E aí temos uma religião que, após dois
milénios de ter sido inventada, é praticada ou seguida por cerca de dois mil
milhões de seres humanos, tendo-se, entretanto, dividido em três: católicos,
ortodoxos e protestantes, divisão símbolo das lutas pelo poder: o de Roma, o de
Constantinopla e o de Inglaterra, havendo inúmeras seitas de um e de outro
lado. Todas estas cisões só revelam que Deus anda bem arredado dos que dizem –
desonestamente, senão perfidamente! – pregá-lo, adorá-lo, segui-lo: os gurus ou
“papas” de todas essas seitas.
Uma religião verdadeira e credível? –
Não, obviamente! Aliás, os Homens “da Igreja”, com as suas hierarquias,
adulteraram a mensagem original de Fraternidade Universal de Jesus, Jesus a
quem, arrogando-se de possuir a VERDADE, chamam Filho de Deus e Nosso senhor!
Tudo o que fica dito será explanado aquando da análise crítica do Novo Testamento, análise que se seguirá à que estamos fazendo ao Antigo Testamento.
ResponderEliminarNo próximo texto, abordaremos as origens do Islamismo. No outro - e para finalizar - tiraremos as conclusões que se impõem, fazendo, em comentário, alusão aos inúmeros crimes praticados em nome do Deus "clemente e misericordioso, um Deus de amor" que os gurus religiosos apregoam nas suas religiões. Haverá maior e mais convincente argumento contra a suposta verdade das religiões do que estes crimes que fazem parte indelével da História antiga e actual?
ResponderEliminar"Historicamente, o judeu Jesus nasceu..."
ResponderEliminarPelo que tenho lido não é assim tão histórico que o judeu Jesus tenha existido.
Parece-me mais credível que, num processo semelhante ao da bíblia, a personagem literária de Jesus Cristo seja uma amálgama de várias pessoas, reais ou imaginarias.