À procura da VERDADE
nos LIVROS
SAPIENCIAIS e POÉTICOS
O livro de JOB 5/6
- Aparece então um outro contraponente que “ficou indignado com Job
porque este pretendia ter razão contra Deus.” (Job 32,2), argumentando:
“ (…)
Eu digo que tu não tens razão porque Deus é maior que o Homem.”
(Job 33,12)
“Deus fala ora de um modo ora de outro, mas as pessoas
não prestam atenção. Ele
fala em sonhos. (…) Às vezes, Deus também
corrige o Homem com o sofrimento. (…)
Longe de Deus praticar o mal,
longe do Todo-poderoso praticar a injustiça! Deus
paga ao Homem
conforme as suas obras, (…) não age de modo injusto, (…), nunca
viola
o direito. (…) Quem é inimigo do direito conseguiria governar?
(…) Deus
não é parcial a favor dos poderosos nem favorece o rico contra
o pobre. (…) Job
não sabe o que diz. (…) Ao pecado, junta a revolta,
(…) semeia a dúvida entre
nós e multiplica os seus protestos contra
Deus.” (Job 33 e 34). E repete o que
outros já disseram: “Se pecares, que
mal fazes a Deus? Se és justo, o que é que
Lhe estás a dar?” (Job 35) E
envaidece-se: “Os meus argumentos não são falsos;
tens diante de ti um
sábio consumado.” (Job 36,4) E termina, repetindo: “Deus é
poderoso e
não despreza o coração sincero. Ele não deixa viver o ímpio e faz
justiça
aos pobres. Não afasta os seus olhos dos justos (…)” (Job 36,5-6)
- Aqui, Job talvez cansado de argumentar, nada disse, embora certamente
lhe apetecesse gritar: «Comigo, Deus faz exactamente o contrário do
que dizes!»?
Na realidade, todos sabemos que os mais corruptos e
criminosos deste mundo são
os que, em princípio, vivem mais
faustosamente e sem quaisquer problemas de
subsistência.
- Então, perante o inusitado silêncio de Job, o outro acrescenta:
“Deus,
porém, salva o pobre através da aflição e abre-lhe os ouvidos por
meio do
sofrimento.” (Job 36,15). É, obviamente, uma afirmação de
total nonsens! Não é
exactamente isto que Job reprova em Deus? Não
é contra o sofrimento que todo o
Homem luta, lutando sempre pela
sobrevivência e por uma vida feliz no corpo e
na alma, afastando a morte
até não a poder vencer mais, pela velhice inexorável?
- Mas diz mais: “Não te voltes para a injustiça porque foi por causa dela
que foste provado através da aflição. Vê como Deus é sublime. (…) Quem
é que
Lhe ensina o caminho ou pode acusá-Lo de injustiça?”
(Job 36,21-23). Ora, acusá-Lo
de comprovada injustiça é o que Job tem
estado a fazer desde o início das suas
lamentações…
- Job tanto invectivou Javé que Este lhe respondeu, “do meio da
tempestade” (para criar um maravilhoso distante e… temeroso!), em desafio:
“Se
és homem, prepara-te; vou interrogar-te e tu responder-Me-ás.”
(Job 38,1-3) E
Javé começa, altivo, Todo-poderoso: “Onde é que estavas
quando Eu lancei os
fundamentos da Terra? (…) Sabes quem (…) ? Quem (…)?
Quem (…)? Alguma vez na
tua vida, deste ordens ao amanhecer (…)?
Acaso deste ordens à Terra (…)? Já
desceste às fontes do mar (…)?
Já examinaste (…)? Já entraste (…)? Quem (…)?
Quem (…)? És tu que (…)?
És tu que (…)? Conheces (…)? És capaz de (…)?
Porventura a tua voz (…)?
Quem pôs (…)? Quem está (…)? És tu que (…)? Sabes
quando (…)? Quem
solta (…)? (Job 38-39)
- E muitas mais perguntas o Criador faz a Job, concluindo de forma
sarcástica: “O adversário vai querer continuar a discutir com o
Todo-poderoso?
Quem critica a Deus irá responder?” (Job 40,2) Perante
tamanha avalanche de
invectivas de Javé, Job suspira: “Sinto-me arrasado.
Que posso eu replicar?!”
(Job 40,4)
- Mesmo assim, Javé não desiste, insistindo: “Se és homem, prepara-te:
vou
interrogar-te e responder-Me-ás. Atreves-te a anular a Minha justiça e a
condenar-Me para te justificares a ti mesmo? Tens um braço semelhante
ao braço
de Deus? A tua voz (…)? Então, reveste-te de majestade (…)
Espalha o ardor da
tua ira (…) Humilha com o teu olhar arrogante e esmaga
os injustos (…)
Enterra-os (…) amarra-os (…)”. E termina, ironizando:
“Então, também Eu te
louvarei (…)” (Job 40,7-14)
- É, pelo menos, triste para um Deus ironizar assim com um justo como
era
Job!… Depois, este Deus - “inventado”, claro, pelo autor! - dá uma
ideia de Si
mesmo tão, tão, tão mesquinha! Que ideia fará realmente, como
autor
clarividente que parece ser, do Deus da História dos seus antepassados?
Não é
este afrontar de Deus a Job um caricaturar o Deus bélico, irado, o Deus
forte e
guerreiro, o Deus dos Exércitos, o Todo-poderoso que a todos
vence e ordena
chacinas e mortandades? Não pretende exactamente
o ridículo?
- Fica a pergunta. Uma acha mais para a fogueira da nossa condenação,
condenação da religião judaica e do seu Javé sanguinolento, irado,
ciumento,
bem como da religião cristã cujos autores e fundadores
deturparam, perversamente
e a seu belo prazer, a mensagem de Jesus,
para atingirem os seus objectivos de
domínio dos povos e das consciências.
E nasceu o mito de Deus ter vindo à
Terra, encarnando em Jesus, com
todo aquele cerimonial inventado pelo evangelista
Lucas, tornando Jesus
FILHO REAL DE DEUS, um deus que – vá-se lá saber porquê! –
já não
era o sanguinolento Javé que, portanto, acabava ali de… morrer!
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