quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 71/?


À procura da VERDADE no livro de ESTER 1/1

- “O livro de Ester apresenta-se em duas versões (…) Julga-se 
que a hebraica date da segunda metade do século IV a.C. (…) 
Talvez contenha pormenores intrigantes para nós: violências, 
intrigas palacianas, mortandades indiscriminadas… Há contornos 
exigidos pela convenção literária, outros serão colados à realidade 
histórica monstruosa que os humanos são muito bem capazes de 
erguer em qualquer tempo ou lugar.” (Introdução ao Livro de Ester, 
ibidem)
- Esta introdução levar-nos-ia a dizer: “Sem comentários!…”. Mas 
não resistimos a frisar que até o “nosso” comentador parece estar 
abismado com tantas e tais monstruosidades impróprias de uma 
Bíblia! E vamos ao texto!


                                       Imagem retirada do filme com o mesmo nome

- Começa-se por uma pérfida história bem urdida, com traidores a serem 
denunciados e logo mortos, longos e faustosos banquetes para 
alardear o poder e a glória do rei… Interessante a recusa da linda rainha 
Vasti em se apresentar perante o rei bêbado e sua corte, embora tal 
desobediência lhe acarretassse a perca do trono real e desse origem ao 
decreto machista “ordenando que o marido fosse o chefe da casa.” 
(Est 1,22)
 - Intrigas de corte entre Mardoqueu e Amã levam à ameaça de morte e 
extermínio do povo judeu habitando no reino de Assuero. Mais uma vez! 
E mais uma vez, a oração, a penitência e o jejum são a solução que este 
povo encontra para escapar à morte. Mas… porquê penitência? Porquê 
jejum? Porquê não apenas uma súplica ardente para uma inspiração de 
golpe, imitando Judite? Porquê fazer um Deus “gostar” do sofrimento e 
da humilhação dos homens?
- O que é certo é que Ester substitui Vasti nas graças do rei todo-poderoso 
e será com um ardil seu - talvez mais elegante, mais palaciano que o 
usado por Judite - que salvará o seu povo do extermínio, levando o rei a 
mandar executar Amã na forca que ele havia preparado para enforcar 
Mardoqueu.
- O decreto de abolição da ordem de extermínio dos judeus tem frases 
dignas de menção: “Muitos homens, quanto mais honrados pela 
generosidade dos benfeitores, mais se ensoberbecem e (…) tramam 
armadilhas contra os próprios benfeitores. (…) Embriagados pelo elogio 
de quem ignora o bem, orgulham-se de fugir de Deus que tudo vê, e da 
sua justiça que odeia o mal. (…) Muitas vezes aconteceu que um mau 
conselho dessas pessoas (...) tornou muitos daqueles que detêm o 
poder corresponsáveis por acções sanguinárias reprováveis, provocando 
assim calamidades irremediáveis.” (Est 8,12c-12e)
- Mas… de ameaçados de extermínio passam os judeus a exterminadores: 
“Os judeus passaram a fio de espada todos os seus inimigos. (…) Só na 
fortaleza de Susa, os judeus mataram e exterminaram quinhentos homens e 
os dez filhos de Amã.” (Est 9,5 e 12)
- E pasmem com o pedido macabro de Ester: “Se parecer bem ao rei, 
conceda que os judeus de Susa (…) enforquem os cadáveres dos dez filhos 
de Amã. O rei ordenou que assim fosse feito.” (Est 9,13-14)
- Escandalosa vingança! Repugnante até! Puro sadismo? Euforia 
macabra pelo sucesso do seu ardil ao encantar com seus ais e lágrimas, 
o rei? “Ester tornou a falar com o rei. Caiu a seus pés e chorou (…)” 
(Est 8,3)
- E há mais mortandades! “Os judeus das outras províncias (…) mataram 
setenta e cinco mil adversários (…)” (Est 9,16). Não sabemos se isso 
corresponde a qualquer verdade. Mas mais uma vez constatamos que esta 
Bíblia se alimenta de morte e de sangue e pouco ou nada tem de divino.
- O final é estranho: Ester não levanta para Javé um cântico de louvor. 
Apenas “Mardoqueu comenta: Estas coisas aconteceram por obra de Deus. 
(…) Sim, o Senhor salvou o seu povo. (…) Deus lembrou-se do Seu povo 
e fez justiça à sua herança.” (Est 10,3a-3j)
- A pergunta mantém-se: como pode Deus fazer tais coisas? Como pode 
mandar aniquilar uns para salvar os outros? Isto não é de certeza de Deus 
mas dos Homens. Por isso, caro Mardoqueu, não fales em Deus! Fala na 
tua ganância de vida, de riqueza, de poder… a qualquer preço, ou seja, 
ao preço da vida dos que tal não te permitem! Assim, sim! Esta é a pura 
verdade!

- E foi mais um livro bíblico onde não encontrámos nada de divino nem, 
obviamente, a VERDADE que procuramos! 

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