À procura da VERDADE no livro de
ESTER 1/1
- “O livro de Ester apresenta-se em duas versões (…) Julga-se
que a
hebraica date da segunda metade do século IV a.C. (…)
Talvez contenha
pormenores intrigantes para nós: violências,
intrigas palacianas, mortandades
indiscriminadas… Há contornos
exigidos pela convenção literária, outros serão
colados à realidade
histórica monstruosa que os humanos são muito bem capazes
de
erguer em qualquer tempo ou lugar.” (Introdução ao Livro de Ester,
ibidem)
- Esta introdução levar-nos-ia a dizer: “Sem comentários!…”. Mas
não
resistimos a frisar que até o “nosso” comentador parece estar
abismado com
tantas e tais monstruosidades impróprias de uma
Bíblia! E vamos ao texto!
Imagem retirada do filme com o mesmo nome
- Começa-se por uma pérfida história bem urdida, com traidores a serem
Imagem retirada do filme com o mesmo nome
- Começa-se por uma pérfida história bem urdida, com traidores a serem
denunciados e logo mortos, longos e faustosos banquetes para
alardear o poder e
a glória do rei… Interessante a recusa da linda rainha
Vasti em se apresentar
perante o rei bêbado e sua corte, embora tal
desobediência lhe acarretassse a
perca do trono real e desse origem ao
decreto machista “ordenando que o marido
fosse o chefe da casa.”
(Est 1,22)
- Intrigas de corte entre Mardoqueu e Amã levam à ameaça de morte e
extermínio do povo judeu habitando no reino de Assuero. Mais uma vez!
E mais
uma vez, a oração, a penitência e o jejum são a solução que este
povo encontra
para escapar à morte. Mas… porquê penitência? Porquê
jejum? Porquê não apenas
uma súplica ardente para uma inspiração de
golpe, imitando Judite? Porquê fazer
um Deus “gostar” do sofrimento e
da humilhação dos homens?
- O que é certo é que Ester substitui Vasti nas graças do rei todo-poderoso
e será com um ardil seu - talvez mais elegante, mais palaciano que o
usado por
Judite - que salvará o seu povo do extermínio, levando o rei a
mandar executar
Amã na forca que ele havia preparado para enforcar
Mardoqueu.
- O decreto de abolição da ordem de extermínio dos judeus tem frases
dignas de menção: “Muitos homens, quanto mais honrados pela
generosidade dos
benfeitores, mais se ensoberbecem e (…) tramam
armadilhas contra os próprios
benfeitores. (…) Embriagados pelo elogio
de quem ignora o bem, orgulham-se de fugir
de Deus que tudo vê, e da
sua justiça que odeia o mal. (…) Muitas vezes
aconteceu que um mau
conselho dessas pessoas (...) tornou muitos daqueles que
detêm o
poder corresponsáveis por acções sanguinárias reprováveis, provocando
assim calamidades irremediáveis.” (Est 8,12c-12e)
- Mas… de ameaçados de extermínio passam os judeus a exterminadores:
“Os
judeus passaram a fio de espada todos os seus inimigos. (…) Só na
fortaleza de
Susa, os judeus mataram e exterminaram quinhentos homens e
os dez filhos de Amã.”
(Est 9,5 e 12)
- E pasmem com o pedido macabro de Ester: “Se parecer bem ao rei,
conceda que os judeus de Susa (…) enforquem os
cadáveres dos dez filhos
de Amã. O rei ordenou que assim fosse feito.” (Est
9,13-14)
- Escandalosa vingança! Repugnante até! Puro sadismo? Euforia
macabra
pelo sucesso do seu ardil ao encantar com seus ais e lágrimas,
o rei? “Ester
tornou a falar com o rei. Caiu a seus pés e chorou (…)”
(Est 8,3)
- E há mais mortandades! “Os judeus das outras províncias (…) mataram
setenta e cinco mil adversários (…)” (Est 9,16). Não sabemos se isso
corresponde a qualquer verdade. Mas mais uma vez constatamos que esta
Bíblia se
alimenta de morte e de sangue e pouco ou nada tem de divino.
- O final é estranho: Ester não levanta para Javé um cântico de louvor.
Apenas “Mardoqueu comenta: Estas coisas
aconteceram por obra de Deus.
(…) Sim, o Senhor salvou o seu povo. (…) Deus
lembrou-se do Seu povo
e fez justiça à sua herança.” (Est 10,3a-3j)
- A pergunta mantém-se: como pode Deus fazer tais coisas? Como pode
mandar aniquilar uns para salvar os outros? Isto não é de certeza de Deus
mas
dos Homens. Por isso, caro Mardoqueu, não fales em Deus! Fala na
tua ganância
de vida, de riqueza, de poder… a qualquer preço, ou seja,
ao preço da vida dos
que tal não te permitem! Assim, sim! Esta é a pura
verdade!
- E foi mais um livro bíblico onde não encontrámos nada de divino nem,
obviamente, a
VERDADE que procuramos!
Sem comentários:
Enviar um comentário