“Afinal, de quê, como e onde viveram Jesus e os seus discípulos, durante aqueles 3 anos de vida pública?” – 1/2
Nada sabemos – apenas
conjecturas as mais diversas – de como e onde viveu Jesus, dos 12 aos 30 anos. Se
trabalhou como carpinteiro junto de seu pai José, apenas aprofundando o estudo
das Escrituras, se ganhou algum dinheiro e o guardou, pensando na sua vida
futura de pregação do Reino, se viajou pelo mundo conhecido de então, indo até
ao Egipto, ali mais perto, ou até à longínqua Índia ou Tibete onde terá
aprendido artes de curandeiro e contactado com os ensinamentos de Confúcio e
Buda. Aqueles ter-lhe-iam permitido realizar os inúmeros “milagres” de que os
evangelhos são eco; estes, a inspiração para os seus ensinamentos, nos quais se
destacam o amor ao próximo, o perdão, a compaixão e as Bem-aventuranças.
Aliás, em que momento da vida
terá Jesus decidido o que seria mais tarde? Logo, aos doze anos, a avaliar pelo
que disse a seus pais, quando ficou no Templo a discutir com os doutores: “Não
sabíeis que me deveria ocupar das coisas de meu Pai?” (Lc 2, 41-52). A frase é
de um adolescente rebelde que quer afirmar a sua personalidade. Mas poderia
revelar algo de mais profundo, revelando inusitada maturidade.
Os evangelhos, única fonte de
que nos socorremos, apesar de poderem justamente ser apelidados de
pseudo-históricos, já que não lhes interessavam propriamente a verdadeira
história de Jesus mas uma história que o divinizasse e fizesse dele um líder
carismático, um Cristo, um Messias, um Filho de Deus, ocupando-se apenas dos
“factos” relevantes para atingirem esses objectivos…, pouco dizem sobre o
assunto: de como viviam, de quê e como e onde se alimentavam, vestiam,
calçavam, dormiam. Apenas, e esporadicamente, referem alguns repastos em casa
de conhecidos ou amigos.
As perguntas são pertinentes:
Se não trabalhavam – “os discípulos deixaram tudo e seguiram-no!” – como se
sustentavam, tanto Jesus como os doze apóstolos? Aliás, todos tinham família.
Como resolveu cada apóstolo – quanto a Jesus é provável que não tivesse
qualquer compromisso matrimonial, embora tal situação não se enquadrasse na
cultura judaica – o problema do seu sustento?
Sabemos que havia um dos
doze, Judas, que tinha a seu cargo a gestão dos “fundos” recolhidos, guardados
na célebre “bolsa de Judas”. Logo, deduzimos que viveriam de dádivas, esmolas e
doações que simpatizantes do movimento, que entretanto se gerou, outorgavam.
Mas… foram três anos a esmolar e a viver à custa da caridade alheia!
Será caso mais de condenar
que de louvar. Até porque Jesus criticava furiosamente fariseus e escribas e
sacerdotes por explorarem o povo com impostos devidos ao Templo e com os
negócios que por lá se faziam sobretudo em tempos de festas e de oferendas das
primícias.
Ora, Jesus e os doze teriam podido
perfeitamente trabalhar algumas horas por dia para ganharem sustento para si e
família, se a tivessem, e pregar a dita Boa Nova da vinda do Reino de Deus, ao
fim do tarde e princípio da noite.
Um fantástico exemplo que,
infelizmente, não aconteceu! É que este esmolar prolongou-se pelos séculos,
vivendo hoje as igrejas e seus eclesiásticos das inúmeras dádivas dos fiéis, algumas
tendo um património invejável, permitindo vidas faustosas, contrastando com o
exemplo de Jesus que não tinha sequer “uma pedra onde reclinar a cabeça ao fim
do dia”… (E nunca é demais recordar que à custa da Fé e venda de indulgências,
pregando o medo do inferno, o papado de Roma chegou a ter, em tempos medievais
e até à Reforma de Lutero, poder sobre os impérios e reinos europeus, exigindo-lhes
impostos para poderem ser empossados como reis ou imperadores que, depois, eram
coroados, em cerimónias solenes nas catedrais de seus países… E aí temos ainda
o riquíssimo Vaticano herdeiro desses áureos tempos, mais do que as igrejas
ortodoxas e protestantes, excepção feita à Igreja Universal do reino de Deus do
Brasil, dirigida actualmente pelo seu extravagante e rico bispo Macedo… Nem
vale a pena falar dos muitos crimes praticados pelas igrejas, tudo em nome de
Deus…, tal como ainda hoje fazem os muçulmanos radicais.)
No entanto, não há dúvida que
o modelo escolhido por Jesus facilitou a todos o desempenho da missão para a
qual se julgavam fadados por… Deus-Pai, defendendo inclusive Jesus que a
pregação era um trabalho pelo qual deveriam ser remunerados: “Todo o
trabalhador tem direito ao seu salário” (Mt 10,10 e Lc 10,7), mote que já vinha
das antigas Escrituras e repetido depois por Paulo, em 1Tm 6,5!
E, mal ou bem, certamente
vivendo sem quaisquer luxos, lá sobreviveram, tanto eles como suas famílias
que, a partir do “Deixaram tudo e seguiram-no”, ficaram sem o principal braço de
trabalho que as alimentava.
(Continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário