À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
– 38/?
– Mas as perguntas voltam em catadupa: “O que é realmente
seguir Jesus Cristo? O que é renunciar a si mesmo? O que é tomar a nossa cruz e
seguir a Jesus? O que é salvar a vida? O que é perder a vida por causa de
Jesus?”
E como é que a perdemos se a quisermos salvar e a ganhamos
se a perdermos por amor de Cristo?
– O trocadilho é bonito. Até parece cheio de significado.
Mas ficamos sem saber se seguir a Cristo é entregar-se aos irmãos e à
comunidade; se tomar a cruz é simplesmente aceitar resignadamente o sofrimento
e as intempéries da vida - e às vezes são tantas!…; se o ganhar o mundo inteiro
é o deixar-nos levar pelas preocupações das riquezas, do bem-estar, dos
prazeres desta vida, querendo “servir a dois senhores: a Deus e ao dinheiro”
(Mt 6,24; 10,24; Lc 16,13)… tendo que seguir o tremendo conselho: “Se o teu
olho ou a tua mão te levam ao pecado, arranca-os e deita-os fora, pois é melhor
entrar no Céu sem um olho ou sem uma mão do que ser lançado no inferno com o
corpo inteiro.”… (Mt 5,29; 18,8)
Ou… seguir a Cristo será apenas o cumprir os mandamentos da
Lei mosaica – lei que repete o antigo Código de Hamurabi – que é bem evidente
que se devem cumprir para sermos dignos da nossa condição de Homens que querem
ou precisam de viver em sociedade e para quem a liberdade de uns acaba onde
começa a liberdade dos outros, tendo todos os mesmos direitos?
Enfim, porque é que - grande e incontornável pergunta! - as
palavras de Jesus Cristo nos deixam sempre com tantas interrogações a que
ninguém sabe responder? Porquê? Que objectivos? Não parece contradizer-Se a Si
e à sua própria mensagem? Não vinha Ele para nos salvar? Veio afinal para nos
confundir? Deu-nos com uma mão - a sua mensagem de amor ao próximo, os seus
milagres, o seu poder interventor junto das forças da Natureza, curando tudo
quanto era doença, e junto dos espíritos malignos, expulsando tudo quanto era
demónio, começando por repeli-lo quando Ele próprio foi tentado no deserto (Mt
4,1)… - e tirou-nos com a outra toda a esperança no Céu, ao deixar-nos nesta
montanha de dúvidas que diria inultrapassáveis?
Dúvidas do Céu, do Pai, do Paraíso, da eternidade que
apregoa nas palavras e até nas obras mas a Ele parecem confinar-se, nada
sobrando para nós…
É tudo muito complicado, não é? Que pensarão todos aqueles
que tiveram a “boa vontade” de nos ler até aqui e acompanhar-nos em todas estas
nossas ansiosas buscas da VERDADE?
Finalmente, e quase repetindo-nos, outra angustiante
pergunta: “Resistirá” a divindade de Jesus Cristo, em que realmente quiséramos
acreditar, a tantas perguntas sem resposta?…
– Mas voltemos à frase fantástica: “Que adianta ao Homem
ganhar o mundo inteiro se vem a perder a sua alma?”. Entende-se a vida eterna,
está claro, a vida da alma, que do corpo parece não interessar falar… E
realmente nada interessa, absolutamente nada ganhar uma vida terrena, bens
terrenos, tão passageiros e efémeros, eles e a vida, que aliás deixamos para os
outros que nem sabemos bem quem são ou serão, como já se queixava Coélet no Eclesiastes…
(Ecl 2,18-19) O que interessa é a vida eterna, não há dúvida! Aliás, Cristo
repete a ideia de “Não acumuleis riquezas na Terra, perecíveis, esforçai-vos
por acumular riquezas no Céu.” (Mt 6,20)
Valerá a pena repetir que é dessa vida que andamos à
procura, melhor, da certeza de que ela existe realmente? E que Jesus ainda não
nos deu nenhuma certeza convincente de que tal vida exista? Só palavras?!…
Depois, com franqueza, mutilar o corpo, arrancando mãos e
olhos – ou, no limite, suicidando-nos – para não perdermos a vida eterna até
teria sentido se essa vida fosse uma evidência. Mas como tudo – TUDO! –
leva a crer que é uma miragem, uma total fantasia, seríamos
realmente muito pouco inteligentes se tal fizéssemos ou se de qualquer modo
maltratássemos este nosso querido corpo que nos traz vivos…
Causam moça em qualquer espírito crítico aquelas palavras dramáticas de JC. É que foram tais palavras que levaram muitos - agora ditos santos e mártires - ao sacrifício desta vida, ou deixando-se matar ou ciliciando-se ou enclausurando-se, abstendo-se de tantos agradáveis prazeres que a vida comporta.
ResponderEliminarAcredita-se que JC estivesse totalmente convencido de que a vida eterna e o seu Céu junto de Deus-Pai existiam mesmo. Problema é que, pelo facto dele acreditar nisso não significa que o objecto da sua crença fosse/seja real. Então - e perdoem-me os crentes - JC cometeu um gravíssimo erro e uma gravíssima injustiça para com todos aqueles que, acreditando nele, sofreram tantos martírios no corpo e na alma, afinal, por causa nenhuma: eternidade e Céu simplesmente não existem e, com a morte, acaba tudo pois tudo - alma e corpo - pertencendo ao Tempo, se teve um início tem forçosamente de ter um fim equivalente: veio do NADA e regressa ao NADA! Mas viva o SORRISO enquanto há vida!...