À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
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– Jesus assume claramente que vai morrer e vai ressuscitar. Já
anteriormente, dissera que àquela geração má seria dado apenas um sinal: o de
Jonas no ventre da baleia, três dias e três noites. (Mt 12,40; 16,4) Aqui, fala
na sua própria ressurreição. A convicção é muita. As palavras são claras: ressurreição! Mas… porquê uma morte e
uma ressurreição? Não teríamos nós de entender tudo isto para acreditarmos sem
hesitações?
E somos tentados a perguntar-nos se não foi tudo “planeado”
no Céu: vinda de Jesus, anúncio da mensagem de amor ao próximo, a sua não-aceitação
por parte dos fariseus e sacerdotes, morte e ressurreição… Uma espécie de
destino que Jesus teve de cumprir com o corpo de homem, sendo afinal Deus…
É! Quando ultrapassamos a barreira do humano e entramos na
esfera do divino, tudo se torna possível, tudo se torna mistério… tudo se
complica para nós!
– Entretanto, outro milagre! Cristo volta a expulsar o diabo
dum possesso. Mas aqui, houve um problema: “Já o trouxe aos teus discípulos mas
eles não conseguiram curá-lo.” (Mt 17,16)
– Responde Jesus: “Gente sem fé e pervertida! Até quando
deverei ficar convosco? Até quando terei de vos suportar?” (Mt 17,17)
– E Jesus explica o impropério. “Gente sem fé” são a
multidão e os apóstolos que não tiveram suficiente fé para curar: “«Porque é
que nós não conseguimos expulsar o demónio?» «É porque não tendes bastante fé.
Eu vos garanto: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, podeis dizer
a esta montanha: “Vai daqui para acolá!” e ela vai. E nada vos será impossível.
Só a oração e o jejum podem expulsar este tipo de demónios.” (Mt 17,19-21)
– Tantas perguntas que saltam à nossa angustiada mente com esta
explicação/confusão!… Deixemos de parte o facto de se poder tratar de um
epiléptico e não propriamente de um possesso do diabo: “Ele é epiléptico e tem
ataques tão fortes que muitas vezes cai no fogo ou na água.” (Mt 17,15) e
interroguemo-nos: “Porque é que Jesus chama àquela gente “pervertida”? E porque
se lamenta de ter de ficar “connosco” mais algum tempo e de ter de nos
“suportar”? Estaria cansado? Sem paciência?…
A responder que sim, teríamos de perguntar que Deus era
Jesus que tinha tão pouca paciência e se “zangava” por tão pouca coisa… É que
aquele homem só queria a cura do filho, mais nada. Não tinha tido sucesso com
os discípulos, foi ao mestre. Que perversão há nisso? Onde a falta de fé?
Facto que continua a ser muito estranho é a falta de crença
em Jesus daquela enorme multidão, após terem presenciado tantos milagres. Mas
isso… é mais um mistério!
Depois, isto de ter ou não ter Fé, é tão complicado! O que é
realmente ter Fé? Será aquele acreditar interior, sem qualquer titubeação, de
tal modo que o que a gente pede, deseja, mas deseja fortemente… acontece?
E quando é que o milagre se realiza? Apenas quando é “útil”
aos olhos de Deus? Quem sabe qual é, quais são os desígnios de Deus para não
desejar algo que vá contra a sua vontade? Que valor têm então as nossas ideias,
os nossos desejos, as nossas convicções… as nossas orações? E não é humanizar Deus
dizer que Ele tem vontade de…?
É! Imaginemos que eu tinha uma Fé de arrasar montanhas. Se
não fosse desígnio de Deus que tal montanha fosse arrasada, acaso ela se
arrasaria por uma ordem minha, embora cheia de Fé: “Arrasa-te!”?
Mais prático: Imagina-te aí diante de um doente com sida,
com cancro ou outra dessas doenças que rapidamente destroem a vida de uma
pessoa. Com a tal Fé, ordenas: “Vá, fica curado! A tua e minha Fé te salvaram.”
Acaso, ele se curará? – Não! Não se curará porque tu não tens a Fé ou não tens
Fé que baste para que o milagre aconteça. Não dizes: “Acaso se curará?”
A Fé!… Dependerá de nós ou, como dizem os mentores dos
crentes, é dom de Deus? Se é dom de Deus, porque a não dera Jesus aos
discípulos para que também eles curassem? Ou ainda não estavam preparados para
realizarem tais maravilhas? E porque não no-la dá a nós, a todos os Homens e a
dá em abundância?
Quando começamos a interrogar-nos e a interrogar, as
perguntas parecem nunca mais ter fim e os mistérios avolumam-se na proporção
directa da nossa descrença na nossa capacidade de acreditar com a tal fé de
arrasar montanhas ou em Deus que tal Fé nos quisesse ter dado…
Últimas perguntas: “Porque só a oração e o jejum podiam
expulsar tal demónio? Que valor e força tem para Jesus a oração? Que valor tem
o sacrifício do jejum ou, simplesmente… o sacrifício? Que Deus é o de Jesus
Cristo que “exige” oração e… sacrifício?” E oração a quem? E rezar/pedir ou
agradecer o quê?
É! Nunca realmente sabemos se é Deus que “precisa” das
nossas orações para nos conceder o que Lhe pedimos, se somos nós que não
sabemos fazer de outra forma senão rezarmos e mortificarmo-nos, pensando que
Deus vai ouvir as nossas preces e ainda mais se forem “regadas” com o
sofrimento que nos impusemos voluntariamente… Como se não bastassem já os
outros sofrimentos que a vida nos impõe…
A vida ou o Destino, que bem nos pode dar a sorte na lotaria
ou o acidente de morte na curva da estrada…
Este Deus-Pai de Jesus Cristo que parece precisar de
louvores e orações dos humanos e o próprio Jesus que manda orar e jejuar são
mesmo complicados, não são? E tal complicação ajuda à Fé ou leva a total
descrença?
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