À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
– 16/?
–“Vendo as multidões, Jesus (…) disse: «A seara é grande mas
os trabalhadores são poucos! Por isso, pedi ao dono da seara que mande
trabalhadores para a sua seara.” (Mt 9, 36-38)
– É a força da oração! Mas se em Mt 6,32, Deus-Pai sabe tudo
o que nós precisamos, não sabe que a sua seara é grande e necessita de muitos
trabalhadores?
A oração, seja de louvor seja de petição a Deus, não deixa
de criar confusão na nossa mente inquisidora. Que sentido tem essa necessidade
de Deus precisar que O louvem ou que Lhe peçam qualquer coisa? Estamos, para
já, a humanizar Deus; depois, não estamos a inverter os dados? Não é o Homem
que necessita de ser louvado nas suas boas acções e de levantar as mãos em
prece para o Deus que é o TODO ONDE TUDO SE INTEGRA, quando na Terra já não
encontra respostas?…
No entanto, a oração será uma constante em Jesus Cristo. Uma
constante que perdura no cristianismo e nas suas catequeses e igrejas. Uma
constante incompreensível, tal como é formulada, fazendo-se de Deus um
humanóide todo poderoso que necessita que o louvem, i.é, que o bajulem, o
adorem, lhe peçam humildemente resolução de necessidades que o Homem sente. Ora, na verdade, tais necessidades é o próprio Homem que as tem de resolver, trabalhando… Resta o efeito psicológico da oração: quem reza e "é atendido" nas suas preces, fica feliz e agradecido...
–“Então Jesus chamou os discípulos (…). Ide e anunciai: «O
Reino dos Céus está próximo.» Curai os doentes, ressuscitai os mortos,
purificai os leprosos, expulsai os demónios.” (Mt 10,1-8)
– Os milagres - inúmeros, pois a multiplicar por doze!… Até
Judas Iscariotes, que foi o traidor, recebeu o mesmo poder!…
Mas os inúmeros milagres não tiveram força suficiente para
elevar a heróis, na época, todos aqueles discípulos. Custa acreditar em tal “fracasso” divino!
E que Jesus tenha sido “obrigado” a dizer: “Eis que vos envio como ovelhas para
o meio de lobos. Portanto, sede prudentes (…), tende cuidado (…). O irmão
entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos levantar-se-ão
contra os pais e matá-los-ão. Sereis odiados por toda a gente por causa do meu
nome, mas aquele que perseverar até ao fim, será salvo.” (Mt 10,16-22)
– Estamos perante um texto catastrofista. Serão palavras de
Jesus ou do escrivão Mateus? Então:
1 - Espanta os inúmeros diabos que andavam “à solta” por
aquelas bandas, nos tempos de Cristo, não espanta?!
2 - Como usaram realmente os discípulos, aquele enorme poder
que Cristo lhes outorgou de fazer milagres? Como?
3 - O catastrofismo instalado entre irmãos, pais e filhos
relembra a Bíblia do A.T. e não se percebe porque é que uma mensagem de amor ao
próximo gera tais ódios, tais mortandades, tais crimes! Porquê?
4 - Que realmente houve muita mortandade e perseguições sem
conta, sobretudo às mãos dos romanos, havendo um sem-número de mártires, é
histórico! Mas isso nada tem a ver com a mensagem de fraternidade universal. Era apenas política…
5 - E aquele que perseverar até ao fim, será salvo de quê? –
Certamente irá para o Céu de Deus-Pai, tão prometido por Jesus, ao longo da sua
curta vida… Mas que céu?!
Foi pena ter sido tão curta a sua vida! Bem precisávamos que
tivesse estado mais tempo connosco para nos arrancar do montão de dúvidas em
que nos deixou. Se é que conseguia…
–“Se alguém não vos receber bem e não escutar a vossa
palavra, ao saírdes dessa casa e dessa cidade, sacudi a poeira dos vossos pés.
Eu vos garanto: no dia do julgamento, as cidades de Sodoma e Gomorra serão
tratadas com menor rigor do que aquela cidade.” (Mt 10, 14-15)
– As palavras são… tremendas! Por outro lado, parece não
haver escolha: ou aceitas a mensagem que te é apresentada e recebes bem quem ta
apresenta, ou…
Sodoma e Gomorra foram arrasadas com o fogo do céu! (Gn
19,24) O que aconteceu, ou acontece, ou acontecerá àqueles que não receberam,
recebem ou receberão a mensagem de Jesus será pois ainda pior… E será esse pior
que nos acontecerá a nós que vamos por aqui questionando tanto toda esta
intervenção de Jesus Cristo na História… Ai, tanto medo, meu Deus!
(Desculpem-me a não disfarçada ironia!)
Outra interpretação possível – e bem mais plausível – é que
aquele tremendismo tenha sido inventado por Mateus para que os novos cristãos
recebessem de braços abertos os mensageiros da Boa Nova, pois bem precisariam
de alimentar um corpo faminto e de descanso, ao fim de um dia quente,
calcorreando caminhos pedregosos, andando de cidade em cidade… É que nunca
saberemos quando é que é Jesus a falar ou o narrador evangélico.
Do “dia do julgamento” falaremos no próximo texto.
Quando se duvida do que Mateus narra e do que põe na boca de Jesus, estamos bem cientes de que:
ResponderEliminar1 - Mateus escreve, de cor, tendo já passado umas quatro dezenas de anos sobre o acontecido.
2 - O objectivo do seu evangelho é firmar na Fé os muitos que se iam convertendo ao já chamado cristianismo, portanto, sem grandes pruridos de índole histórico-factual.
Vai dar tudo ao livre arbítrio concedido aos homens, ou não?
ResponderEliminarÉ uma boa pergunta! O Homem raramente é livre. Estará sempre condicionado por si próprio - seu corpo e seu espírito (cérebro - centro da racionalidade e das emoções) e pelas circunstâncias, Tempo e sociedade onde se integra. Portanto, a liberdade de se fazer o que lhe apetece é muito relativa. Talvez o mesmo aconteça com a liberdade de acreditar. Acreditar sem questionar, não é liberdade: quem acredita não questiona, pois sujeita-se a perder a Fé. A Fé aliena a razão.
Eliminar