sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo testamento (AT) - 187/?



À procura da VERDADE no livro de MIQUEIAS – 2/4

- “Ai daqueles que deitados na cama planeiam a injustiça e tramam o 
mal! (…) Cobiçam (…) roubam (…), apoderam-se (…), oprimem 
(…) É por isso que assim diz Javé: Eis que planeio contra esta gente 
uma desgraça (…)” (Mq 2,1-3)
- Diz-se em comentário: “Com a implantação da realeza e das cortes, 
a igualdade e fraternidade primitivas foram cedendo lugar à oposição 
(…) entre uma elite ciosa de lucros e a massa dos pequenos. O povo 
trabalhador (…) era reduzido à escravidão, enquanto os senhores 
exploravam os pobres (…) Ora isso opunha-se aos compromissos da 
aliança no seu ideal de comunhão e fraternidade.” (ibidem)
 - E oferece-se-nos perguntar: Quando é que estes ideais, estes 
compromissos de igualdade e fraternidade foram “vida” em Israel? E a 
oposição entre elites e povo explorado não existiu - não existe! - 
desde sempre, em Israel e no mundo? E as ideias - talvez mais ideais 
porque inalcançáveis! - de igualdade e de fraternidade são de Deus ou… 
dos Homens? A “Liberdade, igualdade e fraternidade” da Revolução 
Francesa, os Direitos Universais do Homem, não são criações do 
Homem? Claro que ninguém nos impede de dizer que são ou que
foram de inspiração divina. Mas - e já perguntámos noutro lugar - 
que há de bom na Terra ou entre os Homens que não seja de inspiração 
divina ou que não se atribua a Deus, quer Deus exista quer não?
E mais uma vez, na visão do profeta, tal situação é propícia - exige! - o 
castigo de Javé! É isto que não se entende: Porquê considerar um castigo 
de Javé por esses “pecados” a invasão de Israel e de Judá pelos 
exércitos sírios? Não queriam os sírios a guerra somente para - como 
acontece com todas as guerras! - apoderar-se de mais território, de mais 
riqueza, alargando fronteiras e domínios? Trata-se, pois, apenas de mais 
uma interpretação teológica dos acontecimentos por um visionário, sem 
que fosse necessária qualquer revelação divina.
- “Eu reunir-te-ei todo, ó Jacob, recolherei os teus restos, ó Israel” 
(Mq 2,12)
- Aparece aqui - o que já noutros livros aconteceu - um aditamento. E 
diz-se em comentário: “ (…) aditamento típico do exílio ou do pós-exílio 
(…)” (ibidem)
Ficamos sem saber o que dizer deste e de outros aditamentos. Também 
foram revelados por Deus? A quem e… duzentos anos mais tarde? Uma 
tremenda confusão! Mas Miqueias continua:
- “Ouvi bem, chefes (…) governantes (…)! Inimigos do bem, amantes 
do mal, esfolais o povo e descarnais os seus ossos (…), devorais (…) 
arrancais (…), quebrais (…), despedaçais (…). Depois, invocareis Javé 
mas Ele não vos responderá. (…) Assim diz Javé aos profetas que 
extraviam o meu povo (…)” (Mq 3,1-5)
- Comenta-se: “Estamos num tempo em que os profetas deixaram de ser 
arautos de Deus e defensores da justiça e da verdade para servirem os 
interesses de quem lhes paga melhor.” (ibidem)
Esta afirmação leva-nos à permanente pergunta de saber quem afinal é 
profeta de Deus e quem o não é. E se pregar a justiça e a verdade - que 
verdade? - é, por definição, acto divino ou simplesmente humano, 
simplesmente a parte boa do Homem que não pode ser - não é, santo 
Deus! - apenas maldade e egoísmo mas também compaixão pelos mais 
sofredores e solidariedade para com os mais fracos.
Depois, não houve, não haverá sempre, antigamente como hoje, 
aproveitadores de Deus para com Ele fazerem negócio e ganharem 
melhor a vida terrena que a eterna é da fé naquele Deus que apregoam 
aos outros mas em quem certamente não acreditam?
E que castigo não merecem aqueles que esfolam, devoram, quebram, 
despedaçam os ossos e a carne do povo?
A expressão “meu povo” é que não se entende - aliás nunca se entendeu - 
embora se aceite que sejam os oprimidos, os deserdados, os que não 
têm o poder das armas ou do dinheiro. Mas, porquê hão-de ser esses 
o “povo de Deus”, o “meu povo”? Aliás, esta dicotomia: maus, ricos, 
governantes tiranos, juízes corruptos, profetas e sacerdotes gananciosos 
versus povo escravizado e oprimido, povo pobre e inculto, tem-se 
mantido ao longo da História, não sendo as nações de hoje muito 
diferentes das de então, apesar das apregoadas democracias que 
proliferam pelo mundo…

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