sábado, 22 de abril de 2017

Fátima, altar do mundo


É um facto: Fátima tornou-se o maior centro de peregrinação do mundo. E, dentro do espírito do capitalismo selvagem que nos governa, estando o Homem escravo e ao serviço do dinheiro – quando o dinheiro deveria ser libertador e estar ao serviço do Homem – é uma óptima fonte de receitas para o turismo local e nacional e, obviamente, para a Igreja Católica: são milhões!
Mas o fenómeno é religioso. Tem origem numa suposta aparição da Virgem Maria a uns pastorinhos (bizarra aparição, pois só Lúcia ouve, vê e fala com a Virgem, Jacinta só a vê e Francisco só a ouve…), tudo envolto numa nebulosidade que só se percebe tendo em conta o factor religioso-turístico que acarretaria consigo. E, se os seus mentores fossem vivos, constatariam que as suas expectativas não só não foram goradas mas em muito suplantadas, contribuindo para isso o relevo que foi dado às supostas aparições, primeiro, pela Igreja local e nacional, depois, vendo a oportunidade religioso-monetária, já de grande sucesso em outros santuários de outras partes do globo, pela Igreja do Vaticano.
Muito já se escreveu sobre Fátima: uns em defesa, outros em acérrimos ataques. Tem predominado a sua “verdade”, pela Fé dos crentes e pelas emoções que a ida a Fátima – um local sagrado, onde o divino está presente! – provoca nos peregrinos. Grandes emoções onde a razão e a análise crítica ficam completamente de fora…
No muito que foi dito e escrito, têm-se referido fontes da época, relatos dos acontecimentos, relatos da Lúcia sobre o fenómeno (Francisco e Jacinta nunca abriram a boca…). Mas não vimos uma análise crítica ao teor da mensagem de Fátima, suposta mensagem enviada por Deus através da Virgem à humanidade. Ora, a nosso ver, é aí que se deve centrar o âmago da questão e da procura da Verdade. Vamos por partes:
1 – O Homem não pode acreditar que Deus anda por aí, de vez em quando, a enviar-lhe mensagens, directamente ou através da Virgem ou de anjos, de um modo nebuloso e sem qualquer credibilidade. Neste caso, através de umas crianças altamente dependentes de uma catequese a todos os títulos retrógrada e fundamentalista, como era a existente à época (1917). Ora, ser inteligente que se presume seja – a máxima inteligência! – de certeza que não seria tal processo que Deus utilizaria para se comunicar com os Humanos.
2 – Historicamente, existiu Maria, mãe de Jesus, mas a Virgem Maria, Mãe de Deus, não. Foi uma invenção dos primeiros cristãos e assim propagada através destes dois milénios. Isto é fácil de provar, histórica e racionalmente. Transcrevo o que escrevi, aqui, no meu texto de 04/03:
«Mateus refere, em 1,22-23, as palavras do Anjo para convencer José: “Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: Vede: a Virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado Emanuel, que quer dizer: Deus está connosco.” Mas os textos não batem certo. Mateus - ou o Anjo? - não foi exacto na transcrição do profeta Isaías que diz: “A jovem concebeu e dará à luz um filho (…)”; e, com toda a certeza, não era virgem!… Onde nos poderiam levar os comentários a tal pequena-enorme troca de “jovem” por “virgem”? Onde? No entanto, é esta passagem bíblica que está na base do cristianismo já que aponta para o acto essencial que foi o nascimento de Jesus, Filho de Deus, concebido, por obra e graça do Divino Espírito Santo, no seio de Maria Virgem (como se ensina no catecismo e se reza no Credo católico, nas missas). E é a esta Virgem-mãe inexistente que todo o cristianismo presta devoção e erigiu santuários e altares por todo o mundo… o que, embora comovente por nos fazer lembrar a nossa mãe e a mãe dos nossos filhos, não deixa de ser um enorme atentado à Verdade.»

3 – Analisando criticamente a mensagem de Fátima (toda ela revelando uma catequese fundamentalista e retrógrada imposta àquelas crianças, como já dissemos), constatamos a impossibilidade de ser uma mensagem vinda do Céu, significando Céu uma entidade de onde emanam mensagens cheias de humanidade e de verdade. Nem de um ponto de vista humano nem de um ponto de vista teológico, sendo de admirar como é que a própria Igreja a aceita como sua... Ambos os aspectos foram, aqui, escalpelizados, em 12 pequenos textos publicados entre 05/05 e 01/09 de 2011, sob o título “A (in)verdade de Fátima”. Sem mais delongas, remetemos para a sua leitura. (Ver arquivo do blog)

Em nome da VERDADE!

2 comentários:

  1. Com a vinda do papa Francisco a Fátima, agitam-se Igreja e comércio. Já parecem eclesiásticos a dizer que se trata de visões místicas e não de aparições e que a mensagem de Fátima tem de ser interpretada como se interpreta a Bíblia... Ora, visões são fenómenos emotivos criados no e pelo cérebro de crentes mais susceptíveis aos mistérios que a religião lhes impõe. E já sabemos como os teólogos interpretam a Bíblia: quando não se pode/deve interpretar à letra, socorrem-se de metáforas e de imagens. Uma falsidade e desonestidade intelectual!.

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  2. Alguém da Igreja me explica, por exemplo, como é aceitável que se reze e faça rezar no terço (um desfiar de Avé Marias que bem merecia uma análise crítica!) aquela oração supostamente ensinada às crianças pela Virgem: "Ó meu Jesus perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno e levai as almas todas para o Céu principalmente as que mais precisarem."? É que nem Jesus perdoa ou livra de seja o que for, nem há inferno, muito menos com fogo e diabos lá dentro, nem tão pouco céu para onde vão as almas. Mas, mesmo para os crentes nestas fantasias, porque levar para o céu, sobretudo as almas que mais precisarem? E as outras? E, tendo já "acabado" o Limbo para onde iam os inocentes não baptizados..., ainda "existe" o Purgatório onde as almas, não totalmente limpas dos pecados terrenais, se purificam para poderem "entrar na glória eterna"? Apetece exclamar: Meu Deus, como é possível pregar e acreditar em tantas coisas, bonitas umas (céu), tremendas outras (inferno) mas todas sem qualquer sentido de credibilidade!

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