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SAPIENCIAIS e POÉTICOS
ECLESIASTES (ou Coélet) – 3/5
- “Debaixo do céu, há momentos para tudo (…): para nascer (…), morrer
(…),
plantar e arrancar (…), matar e curar (…), destruir e construir (…),
chorar
e rir (…), gemer e bailar (…), atirar e apanhar pedras (…), abraçar e
separar-se (…), ganhar e perder (…), guardar e deitar fora (…), rasgar e
coser
(…), calar e falar (…), amar e odiar (…), guerra e paz.” (Ecl 3,1-8)
Rol de contrários interessante e real mas pouco inovador…
- “ (…) Deus (…) colocou o senso da eternidade no coração do Homem
mas
sem que o Homem possa compreender (…) Então, compreendi
que não existe para o
Homem nada melhor do que alegrar-se e agir bem
durante a vida.” (Ecl 3,10-12)
De acordo, caro Coélet! Tal como no teu tempo, há cerca de dois mil e
quinhentos anos depois, realmente não se entende isto de o Homem
ter desejos de
ser eterno e de se continuar, de algum modo, em outra vida
após a morte. É que é
tão insensato para quem conhece a realidade
implacável que se aplica a quem
pertence ao tempo: aparecer num dado
momento e noutro, inexoravelmente, se
acabar e se integrar no “donde
veio” sem deixar qualquer rasto da sua
individualidade! Enfim, tal como
para ti, resta-nos a alegria de estar vivos.
Por enquanto…
- “Compreendi que tudo o que Deus fez dura para sempre (…). O que
existe
já existia; o que existirá também já existiu (…). Deus fez assim
para ser
temido (…) “ (Ecl 3,14-15)
É! Se a criação é eterna e se só Deus é eterno, a criação – onde nós
nos
inserimos – será o próprio Deus manifestando-se, no TODO que
roda, passando do
mesmo ao mesmo através do diverso, nada se
perdendo, tudo se transformando! Ou
abusarei da lógica do
raciocínio? Só não se vê que “interesse” tem Deus em ser
temido.
Vendo bem, nós somos partículas dele!
- “Em lugar do direito, encontra-se a injustiça e em lugar do justo, o
injusto.” (Ecl 3,16)
Infelizmente, é o que continua acontecendo
nas sociedades actuais.
Só quando o Homem conseguir criar a Fraternidade
Universal, será
o inverso…
- “De facto, o destino do Homem e do animal são idênticos: (…) vêm
do pó e
voltam para o pó. Quem pode saber se o sopro vital do
Homem sobe para o alto e
o do animal desce para debaixo da terra?
Percebo que não há nada melhor para o
Homem do que alegrar-se
com as suas obras (…) De facto, ninguém lhe fará ver o
que
acontecerá depois dele.” (Ecl 3,19-22)
A pura verdade! E lá se vai o nosso gostinho de eternidade… É que
nem
Jesus Cristo, três séculos mais tarde, com todo o seu carisma de
suposto Filho
de Deus, apregoando tal prerrogativa com a força dos
inúmeros supostos milagres,
conseguiu dar-nos provas irrefutáveis
a nós seres racionais, de que o Além
realmente existe e que a nossa
única preocupação nesta vida terrena, deveria
ser preparar, como
Ele nos ensinou, a… ETERNA! Assim, ficamos destroçados como
Coélet, sem certeza alguma de que não nos acontecerá exactamente
como aos
animais: “tudo” o que nós fomos, somos, seremos,
tudo para debaixo da terra…
sem contemplações… sem recordações…
Esta é a certeza absoluta que temos, porque
bem vivida, bem
sentida desde que o Homem se sente como ser pensante e enterra
os seus mortos. Só teríamos certezas se os mortos falassem e se,
acaso
estivessem na eternidade, Céu ou Inferno que fosse, viessem cá
dizer-nos o que
por lá se passa. Mas… nada! Assim, o Além é o total
desconhecido. O que temos
são meras tentativas de explicação de
alguns espíritos ditos iluminados que só
convencem os crentes
acríticos. Mesmo Jesus, a quem chamaram de Cristo, com as
suas
palavras de suposta vida eterna, não nos merece qualquer
credibilidade. A
pena é muita! Resta-nos o SORRISO!
- “ (…) Há o choro dos oprimidos e não há quem os console (…)
Então,
proclamei os mortos (…) mais felizes do que os vivos (…)
Mais feliz que ambos é
quem não nasceu ainda (…)” (Ecl 4,1-3)
É, sem dúvida, pessimismo a mais! Inexplicável! Que “Deus” inspirou
este Coélet? O dom da vida - dádiva de Deus ou do Destino -
só é
dado a quem se actualiza nas infinidades de hipóteses de ser que
ficam por
realizar. Um privilégio! Uma dádiva totalmente gratuita que
temos de fazer por
merecê-la! Então, digamos todos os dias:
“Bendito seja quem me permitiu ter
vida! Bendito o Sol que me aquece
corpo e alma, bendita toda a beleza que os
meus olhos vêem,
benditos os prazeres que os sentidos me oferecem!” Que bom ter
vindo
à VIDA! No entanto, há os que vivem sem consolação, na privação, no
contínuo sofrimento. E, quando a dor é muita, a vontade é de acabar
logo ali
com a luz dos dias e amaldiçoar o dia em que se nasceu!
Acaso, na desgraça,
haverá sempre uma luz ao fundo do túnel, uma
esperança em cada manhã, uma
janela que ao longe se abre,
conseguindo-se assim afastar lúgubres pensamentos?
De qualquer
modo, há que pensar: só porque temos vida, conseguimos tais
pensamentos e, enquanto há vida, há esperança…
- “ (…) Todo o empenho que o Homem põe nas suas obras é fruto de
competição recíproca (…) (Ecl 4,4).
Se já no seu tempo era assim, que diria Coélet, se pudesse voltar à
vida
nos tempos de hoje? Morreria de susto, ao ver a competição
desenfreada que
corre entre indivíduos e nações, competição que
se, por um lado, leva à
descoberta e ao desenvolvimento, por outro,
impede qualquer tentativa de criação
da desejada Fraternidade Universal,
do Oriente ao Ocidente, de Norte a Sul da
Terra!
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