quarta-feira, 4 de maio de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 96/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

 ECLESIASTES (ou Coélet) – 3/5

- “Debaixo do céu, há momentos para tudo (…): para nascer (…), morrer (…),
 plantar e arrancar (…), matar e curar (…), destruir e construir (…), chorar 
e rir (…), gemer e bailar (…), atirar e apanhar pedras (…), abraçar e 
separar-se (…), ganhar e perder (…), guardar e deitar fora (…), rasgar e 
coser (…), calar e falar (…), amar e odiar (…), guerra e paz.” (Ecl 3,1-8)
Rol de contrários interessante e real mas pouco inovador…
- “ (…) Deus (…) colocou o senso da eternidade no coração do Homem 
mas sem que o Homem possa compreender (…) Então, compreendi 
que não existe para o Homem nada melhor do que alegrar-se e agir bem 
durante a vida.” (Ecl 3,10-12)
De acordo, caro Coélet! Tal como no teu tempo, há cerca de dois mil e 
quinhentos anos depois, realmente não se entende isto de o Homem 
ter desejos de ser eterno e de se continuar, de algum modo, em outra vida 
após a morte. É que é tão insensato para quem conhece a realidade 
implacável que se aplica a quem pertence ao tempo: aparecer num dado 
momento e noutro, inexoravelmente, se acabar e se integrar no “donde 
veio” sem deixar qualquer rasto da sua individualidade! Enfim, tal como 
para ti, resta-nos a alegria de estar vivos. Por enquanto…
- “Compreendi que tudo o que Deus fez dura para sempre (…). O que 
existe já existia; o que existirá também já existiu (…). Deus fez assim 
para ser temido (…) “ (Ecl 3,14-15)
É! Se a criação é eterna e se só Deus é eterno, a criação – onde nós 
nos inserimos – será o próprio Deus manifestando-se, no TODO que 
roda, passando do mesmo ao mesmo através do diverso, nada se 
perdendo, tudo se transformando! Ou abusarei da lógica do 
raciocínio? Só não se vê que “interesse” tem Deus em ser temido. 
Vendo bem, nós somos partículas dele!
- “Em lugar do direito, encontra-se a injustiça e em lugar do justo, o 
injusto.” (Ecl 3,16)
 Infelizmente, é o que continua acontecendo nas sociedades actuais. 
Só quando o Homem conseguir criar a Fraternidade Universal, será 
o inverso…
- “De facto, o destino do Homem e do animal são idênticos: (…) vêm 
do pó e voltam para o pó. Quem pode saber se o sopro vital do 
Homem sobe para o alto e o do animal desce para debaixo da terra? 
Percebo que não há nada melhor para o Homem do que alegrar-se 
com as suas obras (…) De facto, ninguém lhe fará ver o que 
acontecerá depois dele.” (Ecl 3,19-22)
A pura verdade! E lá se vai o nosso gostinho de eternidade… É que 
nem Jesus Cristo, três séculos mais tarde, com todo o seu carisma de 
suposto Filho de Deus, apregoando tal prerrogativa com a força dos 
inúmeros supostos milagres, conseguiu dar-nos provas irrefutáveis 
a nós seres racionais, de que o Além realmente existe e que a nossa 
única preocupação nesta vida terrena, deveria ser preparar, como 
Ele nos ensinou, a… ETERNA! Assim, ficamos destroçados como 
Coélet, sem certeza alguma de que não nos acontecerá exactamente 
como aos animais: “tudo” o que nós fomos, somos, seremos, 
tudo para debaixo da terra… sem contemplações… sem recordações… 
Esta é a certeza absoluta que temos, porque bem vivida, bem 
sentida desde que o Homem se sente como ser pensante e enterra 
os seus mortos. Só teríamos certezas se os mortos falassem e se, 
acaso estivessem na eternidade, Céu ou Inferno que fosse, viessem cá 
dizer-nos o que por lá se passa. Mas… nada! Assim, o Além é o total 
desconhecido. O que temos são meras tentativas de explicação de 
alguns espíritos ditos iluminados que só convencem os crentes 
acríticos. Mesmo Jesus, a quem chamaram de Cristo, com as suas 
palavras de suposta vida eterna, não nos merece qualquer 
credibilidade. A pena é muita! Resta-nos o SORRISO!
- “ (…) Há o choro dos oprimidos e não há quem os console (…) 
Então, proclamei os mortos (…) mais felizes do que os vivos (…) 
Mais feliz que ambos é quem não nasceu ainda (…)” (Ecl 4,1-3)
 É, sem dúvida, pessimismo a mais! Inexplicável! Que “Deus” inspirou 
este Coélet? O dom da vida - dádiva de Deus ou do Destino - só é 
dado a quem se actualiza nas infinidades de hipóteses de ser que 
ficam por realizar. Um privilégio! Uma dádiva totalmente gratuita que 
temos de fazer por merecê-la! Então, digamos todos os dias: 
“Bendito seja quem me permitiu ter vida! Bendito o Sol que me aquece 
corpo e alma, bendita toda a beleza que os meus olhos vêem, 
benditos os prazeres que os sentidos me oferecem!” Que bom ter vindo 
à VIDA! No entanto, há os que vivem sem consolação, na privação, no 
contínuo sofrimento. E, quando a dor é muita, a vontade é de acabar 
logo ali com a luz dos dias e amaldiçoar o dia em que se nasceu! 
Acaso, na desgraça, haverá sempre uma luz ao fundo do túnel, uma 
esperança em cada manhã, uma janela que ao longe se abre, 
conseguindo-se assim afastar lúgubres pensamentos? De qualquer 
modo, há que pensar: só porque temos vida, conseguimos tais 
pensamentos e, enquanto há vida, há esperança…
- “ (…) Todo o empenho que o Homem põe nas suas obras é fruto de 
competição recíproca (…) (Ecl 4,4).

Se já no seu tempo era assim, que diria Coélet, se pudesse voltar à 
vida nos tempos de hoje? Morreria de susto, ao ver a competição 
desenfreada que corre entre indivíduos e nações, competição que 
se, por um lado, leva à descoberta e ao desenvolvimento, por outro, 
impede qualquer tentativa de criação da desejada Fraternidade Universal, 
do Oriente ao Ocidente, de Norte a Sul da Terra!

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