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SAPIENCIAIS e POÉTICOS
ECLESIASTES (ou Coélet) – 2/5
- “Então, examinei as coisas que se fazem debaixo do Sol (…). Decidi
conhecer a sabedoria (…) e compreendi que (…) onde há muita sabedoria,
há
também muita tristeza e onde há mais conhecimento, há também
mais sofrimento.”
(Ecl 1,14-18)
- Não há dúvida! Se não soubesses tantas coisas! Se não tentasses
tanto
em compreender Deus, a ti, ao Universo, não te preocuparias tanto
com o que
vais encontrar no Além, nem viverias a angústia
permanente de não saber com
certeza no que te tornarás e com que
consciência, quando estes teus dias
chegarem ao fim. A
clarividência - sabedoria! - de saber isto com a precisão de
um
matemático, é… angustiante, irritante, sofredora! Quanto mais feliz não
viverá o que simplesmente acredita no Céu para os bons, no Inferno para
os
maus, fazendo-se então justiça, colmatando-se nesse Céu, com
Deus e os seus
anjos, tanta sede de felicidade, sobretudo para quem
vive uma vida de
sofrimentos e privações…
Mas também já dissemos, noutros contextos, que, já que o termo dos dias
do ser vivente é irrevogável, já que o tempo se escoa com a impávida e
serena
monotonia síncrone de um dia suceder a outro dia, numa cadência
absolutamente
metrificada, sem que possamos pedir a um segundo que
ande mais devagar ou a
outro que ande mais depressa…, o melhor mesmo
é gozar a vida, adorar este Sol
que nos aquece o corpo e a alma que ele
contém, gritando a toda a gente a nossa
alegria de viver connosco e com
eles e com todas as flores da Terra e todas as
estrelas do firmamento!
Pois, para quê tristezas, caro Coélet?! Os ingénuos, néscios, ignorantes
pouco mais vêem que a ponta do seu nariz e cantam alegrias num copo
de vinho ou
deleitam-se com uns óculos escuros… Nós, que temos a
sabedoria, se nos
entristecermos pelo conhecimento das coisas e do
efémero da existência, não
estamos a ser mais néscios do que eles? No
entanto, não deixa de ser um
problema existencial: pela emoção que a
crença nos traz, pela frustração que
nos provoca o saber que, após esta
existência, é o… NADA ABSOLUTO E ETERNO que
nos espera!
- “(…) Vou fazer-te experimentar a alegria e conhecer o prazer! (…) Do
riso, eu disse: Tolice! E da alegria:
Para que serve? Então, decidi
entregar-me à bebida nessa minha busca da sabedoria e entreguei-me
à
insensatez, para descobrir o que convém ao Homem fazer debaixo do
céu no curto
tempo de vida. Realizei grandes obras: construí palácios,
plantei vinhas, fiz
jardins e pomares (…) Comprei escravos e escravas
(…) Possuí muito gado (…)
Acumulei prata e ouro (…) Arranjei cantores
e cantoras (…) Não recusei nada do
que os meus olhos pediam e
nunca privei o meu coração de nenhum prazer. (…)
Então, examinei
todas as obras que havia feito e o trabalho que me tinham
custado. E
concluí que tudo é fugaz e uma corrida atrás do vento e que não há
nada permanente debaixo do Sol.” (Ecl 2,1-11)
Pergunta-se: Porque é tolice o riso? Não alivia o riso as tensões do
corpo
e da alma? E a alegria? Não tem ela o condão de criar o gozo e o prazer
da vida, em ti e nos que te cercam? Não percebo é como buscas a
sabedoria,
entregando-te à bebida… Enfim, certo certo é que realmente
nada há de
permanente debaixo do Sol, nem mesmo o próprio Sol!
- “O sábio (…) e o insensato (…) ambos têm o mesmo destino (…). Vou
ter o
mesmo destino do insensato! Para quê me tornei sábio? (…) De
facto, a lembrança
do sábio desaparece para sempre como a do insensato
(…) O sábio morre da mesma
forma que o insensato.” (Ecl 2,14-16)
Mesma é a morte, claro! E depois? Aqui, Coélet não chega ao Céu,
nem… ao
Inferno! Nós, que duvidamos fortemente que Céu e Inferno
existam em algum
lugar, alguma dimensão, também não!
- “Detesto todo o trabalho com que me afadigo (…) porque devo deixar
tudo
para o Homem que virá depois de mim (…)” (Ecl 2,18)
Mas, caro Coélet, não há ao menos o gosto de se sentir realizado no
trabalho? O gostinho da coisa bem feita?!
- “ (…) A felicidade do Homem está em comer e beber, desfrutando o
fruto
do seu trabalho (…)” (Ecl 2,24)
Interessante… No entanto, só materialismo! Podias, Coélet, pensar um
pouco no prazer de ouvir uma bela música ou olhar os horizontes
perdendo-se no
infinito, não?!
- “A quem Lhe agrada, Deus concede sabedoria, conhecimento e alegria.
Mas
ao pecador, Deus impõe a pena de juntar e de acumular para quem
agrada a Deus.”
(Ecl 2,26)
Embora se possa apreender como metáfora, é um pouco estranha esta
ideia
de Deus; mais estranha ainda, porque fora da realidade, é a ideia do
pecador
acumular para o justo.
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