terça-feira, 19 de abril de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 94/?

À procura da VERDADE nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

 ECLESIASTES (ou Coélet) – 1/5

- Diz-se na Introdução: “O Eclesiastes (…) foi certamente escrito no 
decorrer do séc. III antes da nossa era. (…) Livro que afinal se 
mostra profundamente crítico, lúcido e realista.” (ibidem). Fala-se 
também da “densidade estranha desta obra” e afirma-se ainda que 
“o discurso oscila entre a repetição do antigo, a sua negação no 
presente da experiência quotidiana, e a busca interrogada que ainda 
não obtém respostas. Daí a complexidade (…), as diversas leituras 
possíveis (…), a aparente multiplicidade de linhas teológicas.”(ibidem) 
E, com rara maestria do “nosso” comentador, continua-se: 
“Rigorosamente, tal como o seu predecessor Job, Coélet dá corpo a 
um genial sopro de crítica. Frente à doutrina anterior da retribuição que, 
calma e serenamente, defendia que o mal era castigado e o bem 
premiado, na vida (terrestre), com toda a sorte de sucessos e bens, 
Job dá uma primeira pedrada no charco conformista (9,22; 21,7), a 
partir da desgraça que o privou de tudo, inclusive da sua integridade 
física. Coélet vai mais longe e, com a morte sempre no horizonte, 
questiona teologicamente o estatuto da vida e a sua organização, 
denunciando o absurdo da condição humana. Fá-lo com vigor, em 
termos fortes, que não adianta cristianizar antes do tempo. Verifica a 
inutilidade do esforço humano…, o gosto a cinza que fica na boca 
depois de ter saboreado os mais preciosos bens: Ó suprema fugacidade! 
Tudo é vão, fútil, desengano! O enigma do destino final gera a angústia 
(3,22; 6,12…). A justiça, o amor, as oportunidades, o poder as 
riquezas são outros tantos enganos que rapidamente deixam 
desventrar o seu vazio. (…) O fracasso dos sábios, as decepções da 
existência, o balofo inconsistente dos chamados bens, deixam o 
Homem despojado e, de algum modo, tendido para o absoluto. A 
experiência radical do limite projecta-o para uma revelação mais alta. 
Assim, é a inspiração divina tanto capaz de promover verdades, 
como senhora de as derrubar, quando ficam aquém da vida ou 
fundam na Terra seguranças apressadas.” (ibidem)
Com esta extraordinária introdução – extraordinária porque este 
exegeta retira ao livro qualquer veleidade de ser de inspiração divina, 
logo podendo/devendo considerar-se livro não bíblico! – ficaria quase 
tudo dito, se não fosse muita a nossa curiosidade em “ver” com os 
próprios olhos e… saborear este “livrinho” que promete! Certamente 
iremos encontrar bem patente a angústia da existência humana, angústia 
para a qual não há qualquer certeza de que possa ser colmatada numa 
qualquer outra vida para além desta terrena e certa.
- “Ó suprema fugacidade (…)! Tudo é fugaz! Que proveito tira o 
Homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do Sol? 
Geração vai, geração vem e a Terra permanece sempre a mesma. 
O Sol levanta-se, o Sol põe-se voltando depressa para o lugar onde 
novamente se levantará. (…) O que aconteceu, de novo acontecerá; e o 
que se fez, de novo será feito: debaixo do Sol não há nenhuma novidade. 
Às vezes, ouvimos dizer: Vede, aqui está uma coisa nova! Mas ela já 
existiu em outros tempos, muito antes de nós. Ninguém se lembra dos 
antigos, e aqueles que existem não serão lembrados pelos que virão depois 
deles.” (Ecl 1,2-11)
- Santo Deus, que “verdades” já por nós debatidas noutros contextos! 
Poderia ainda, como então fizemos, ter acrescentado: “E quem se lembra 
de que não será lembrado pelos que virão, tal como não lembra os 
que já se foram?” E ainda: “Porque vivemos como se o amanhã fosse 
sempre amanhã, como se o suceder de manhãs a outras manhãs nunca 
mais acabasse?”


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