À procura da VERDADE
nos LIVROS
SAPIENCIAIS e POÉTICOS
ECLESIASTES (ou Coélet) – 4/5
- “(…) Um Homem sozinho (…) não deixa de se afadigar, nem de se
fartar
com riquezas. Para quem se afadiga ele e se priva da felicidade?”
(Ecl 4,8)
Que felicidade? Estará ela no “dolce
fare niente” ou na realização do
Homem pelo trabalho? (cf. Ecl 3,22)
- “ (…) Quando fizeres uma promessa a Deus, não tardes em cumpri-la,
porque Ele não é benévolo para com os insensatos. Cumpre o que
prometeste. É
melhor não fazer uma promessa do que fazê-la e não
cumpri-la. (…) Deus ficaria
irritado (…) e arruinaria o trabalho das tuas
mãos (…). Teme a Deus!” (Ecl
5,3-6)
O que é realmente prometer a Deus?
Sempre as religiões apoiaram –
incentivaram! - as promessas dos crentes.
Quer em dádivas materiais ao Templo,
quer em doações corporais e
sofrimentos físicos. Mas, terão algum sentido as
promessas se não forem
apenas o propósito de melhorar a nossa forma de vida?
Então, não prometas
a Deus! Promete a ti mesmo ou a ti mesma e mesmo que não
cumpras
toda a tua promessa, ao menos ficou o desejo e o esforço de sempre
caminhar para a… perfeição! E ainda: Deus não ser benévolo, ficar irritado
e
vingar-se arruinando o trabalho das minhas mãos, é de um fraco Deus,
na linha
de autores anteriores que nunca souberam desumanizar o
Deus apregoado como
único e verdadeiro… Aqui, Coélet manifestou
pouca inspiração, quer humana quer
divina.
- “Quem gosta de dinheiro nunca se sacia de dinheiro (…) Que vantagem
tem
o proprietário além de saber que é rico? Com muito ou com pouco,
o sono do
trabalhador é agradável enquanto a fartura do rico não o deixa
dormir.” (Ecl
5,9-11)
Não há dúvida: para uma pessoa inteligente, valerá bem mais um sono
agradável do que um dormir apoquentado! Afinal, o rico pouco mais tem
do que o
prazer de saber-se rico e ser superior aos seus semelhantes. Ai
o prazer!
Parece ser o objectivo último e primeiro do Homem. Tanto
na Terra como no céu!
Mesmo o sofrimento apregoado por Cristo e pelos
santos não tinha - não tem! -
como único objectivo alcançar o prazer eterno
do estar face a face com Deus? Todas
estas verdades não nos deixam senão
ficar perplexos. Perplexos perante a vida,
mas mais ainda perante o
Além-vida onde não conseguimos descortinar senão
mistérios! Mas a vida
é para ser vivida em festa. Então, valha-nos o sorriso,
enquanto há vida, pois
a eternidade desconhecida pode bem esperar…
- “(...) O rico (…) nu saiu do ventre de sua mãe e assim voltará; e das
suas
fadigas não ganhará nada para levar consigo (…) Que proveito tirou em
se
ter afadigado por nada? (…) Consumiu os seus dias entre aflições,
abatimentos e
irritações.” (Ecl 5,14-16)
Verdades repetidas…
- “Concluí que a felicidade para o Homem é comer e beber, usufruindo de
toda a fadiga que ele realiza debaixo do Sol, durante os dias de vida que
Deus
lhe concede. Essa é a sua porção.” (Ecl 5,17)
Continua repetindo-se, embora seja a verdade. E diz o “nosso” comentador:
“Repete-se aqui o pensamento-chave do autor. (…) Vivendo na alegria
do momento
presente, a pessoa descobre que a eternidade - experiência de
Deus e da vida -
não consiste em viver muito, mas sim em viver
intensamente cada momento, sendo
a felicidade sempre limitada e parcial.”
(ibidem) Estranho! Então, a eternidade
é “viver intensamente cada
momento”? A que conclusões isso nos levaria, Santo
Deus! Depois, a
apologia do satisfazer os sentidos - “comer e beber” - esquece
tão
facilmente que somos também alma! E deixa por resolver o nosso desejo da
eternidade
que está para além do Tempo. E ignora que também há a
felicidade em dar sem se
receber, a felicidade de ver os outros felizes!
Realmente muito materialista
era este “nosso” Coélet! Mas, sem dúvida,
simpático, realista, humano, não
vendo nada para além do tempo… Tal como
nós que da eternidade nenhuma certeza
temos!
- “Que vantagem tem o sábio a mais que o insensato? Que vantagem tem o
pobre em saber portar-se bem na sociedade?” (Ecl 6,8)
Como já antes se disse, ambos têm o mesmo destino: a morte, o pó e nada
mais! A eternidade é… fantasia! O convite à revolta do pobre contra o rico
é
evidente. Implícita fica a exigência de que o Homem seja capaz de
construir a
Fraternidade Universal, onde cada um receba e viva conforme
o seu desempenho.
- “Quem sabe o que convém ao Homem durante a vida (…) na qual ele
passa
como sombra? Quem poderá dizer ao Homem o que vai acontecer
depois dele,
debaixo do Sol?” (Ecl 6,12)
E, sobretudo, quem dirá ao Homem o que lhe vai acontecer depois da morte?
Para um crítico racionalista, a resposta será: NINGUÉM!
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