À procura da VERDADE nos livros de
ESDRAS e
NEEMIAS – 2/2
- E como aceitar a “decisão” de Javé proibir aos israelitas casarem
com
mulheres estrangeiras? (Esd 9,12) Pior! Para repararem a “ofensa”
de não terem
cumprido tal “decisão”, abandonaram mulheres e filhos!…
(Esd 10,44)
- Alguns apologéticos dirão que seria para proteger os israelitas e a
religião das influências politeístas dos outros povos. Mas não seria
antes um
explícito xenofobismo, um “proteger da raça”, o que continua
actualmente a
dividir as consciências mesmo as mais bem intencionadas?
Se és branco, que
sentirias se um filho teu te apresentasse uma negrinha
com a qual queria casar?
Ou a tua filha, um negro com os mesmos intentos?
A pergunta torna-se repetida
mas pertinente: Era Javé que proibia ou os
“doutores” da Lei que o faziam em
nome de Javé, imbuídos de um
exacerbado nacionalismo?
- Já entrados em Neemias, eis que surge, finalmente, uma boa decisão
bíblica
- e não atribuída a Javé: “Vamos perdoar essa dívida.
Devolvei-lhes hoje mesmo
os seus campos (…) Perdoai também as
penhoras (…)” (Ne 5,10-11)
- E outra: “Ide para casa, fazei uma bela refeição, bebei um bom vinho e
reparti com os que não têm nada (…)” (Ne 8,10)
- Aqui, é Esdras que fala. Simpático este Esdras! E bem humano: comer,
beber e… repartir! Se toda a Bíblia fosse assim! Quase que apetece
dizer, hereticamente,
claro: Se Javé procedesse de modo semelhante,
em vez de apelar continuamente à
guerra, ao extermínio, ao ódio, à ira,
ao ciúme, ao temor de Javé! Mas… não!
Logo, em Neemias 9,
aparece uma oração, dita penitencial, certamente para
aplacar a ira de
Javé!
- E o texto é belo como belas são tantas obras de arte que, ao longo dos
séculos de civilização judaico-cristã, saíram de mãos de artistas, na
pintura,
escultura, música e outras artes, inspiradas nesta Bíblia que
tanto tem de
apelativo apesar de todas as suas incongruências:
“Bendito sejas Tu, Javé, nosso
Deus,
desde sempre e para sempre.
Bendito seja o teu nome
glorioso
que supera toda a bênção e
louvor!” (Ne 9,5)
E continua, evocando os feitos de Javé, desde a criação do mundo
a
Abraão, a Moisés, às leis, às infidelidades, aos castigos, às graças
concedidas
ao povo de Israel. (Ne 9,5-17)
- No entanto, espanta a quantidade de oferendas para o Templo a que o
povo se obrigou! (Ne 10,33-40)
- Coitado do povo! Melhor do que “se obrigou”, seria dizer que “foi
obrigado”, sempre pressionado na sua consciência, pelos servidores
do Templo,
apoiados no “santo” temor de Javé!…
- E que dizer da implementação do dízimo? (Ne 10,38 e 13,12)
Não é baseados
nestas palavras que os “sacerdotes” - agora chamados
“pastores”! - de muitas
igrejas exigem aos fiéis pelo menos 10% dos
seus ordenados?
- Enfim, em Neemias 13,23-27, repete-se o “grave” pecado do
casamento com
mulheres estrangeiras! E nós… sem mais comentários…
- Acabámos! Chegados ao fim de mais uma leitura, valerá a pena
perguntar
se encontrámos a VERDADE que procurávamos, que…
procuramos?
- Ah, como estamos dessacralizando a Bíblia Sagrada! Interrogamo-nos
ResponderEliminarse aproveitará a alguém tal dessacralização. Acaso, não seria melhor
continuar a acreditar que a Bíblia é realmente sagrada e tem palavras
de vida eterna, pois é o livro da VERDADE, inspirado por Deus? Que
aproveita questionar?
- Não sei! Só sei que procuramos a VERDADE e até agora não a
encontrámos. Sei que nós até lemos a Bíblia com algum saber ler que
os graus académicos nos permitem, embora, convinhamos, seja leitura
não muito profunda ou aprofundada. Leitura sem recurso aos exegetas
que os houve ao longo da História, e os há actualmente, tentando
descortinar para além das palavras, a mensagem de Deus que se esconde em metáforas, parábolas, histórias de um povo auto-proclamado eleito…
Como se um Deus verdadeiro não tivesse melhor via para passar a sua
mensagem, obviamente uma via clara, objectiva, via que todos pudessem entender, qualquer que fosse a sua formação académica! Um Deus que se esconde atrás de metáforas seguramente não é Deus, não pode ser Deus!
- Caricaturemos! Imaginemos que vamos dizer ali ao Zé da Taberna que
a VERDADE está na Bíblia. E ele, de perguntar: “A verdade? O que é a
verdade? Que verdade?” E nós: “A verdade da salvação, da vida eterna,
depois de nos passarmos desta!…” E ele: “Lá dizerem que há vida eterna… já ouvi dizer. Mas eu… eu não acredito. Isso são tretas do padre! A gente morre e pronto: acabou-se tudo! Por isso, o que me importa é… saborear este tintol até vir a mulher da fava rica! Tintol e… mulheres, que a vida é curta e tem de se viver a prazer! A Maria lá em casa que se aguente com a filharada. E, à noite, quando chego, bem “enleado” com este vinho que alegra corpo e alma, se houve problemas, é pancada nela e neles e… fica tudo bom para o dia seguinte!”
Adianta dizer-lhe que deve beber com moderação, respeitar a mulher e
filhos, e, sobretudo, que não tem o direito de molestá-los com pancadaria,
conceitos que, com certo esforço, encontramos, de vez em quando, nesta Bíblia? E quantos “Zés da Taberna” há nestes quase sete biliões de pessoas que somos actualmente?