Embora os Deuses das actuais religiões e suas seitas não existam, nem tão pouco os santos, os anjos, a Virgem, os beatos,… céus, infernos e demónios, é bom rezar-lhes! O Homem precisa de rezar, de apelar para um ente superior, quase sempre pedindo, algumas vezes agradecendo dádivas recebidas, supostamente, pela invocação de tais divindades.
Perguntarão,
logicamente: “Mas, se esses seres superiores simplesmente não existem, como faz
sentido que se lhes reze, implorando ou agradecendo?” – A resposta só pode ser
uma: o efeito da oração não está ligado a uma qualquer divindade que a escute,
mas apenas à consciência daquele que reza: todo o indivíduo, ao rezar,
concentra-se na coisa pedida e essa concentração desencadeia uma força interior
que o vai ajudar a resolver os problemas que o fazem sofrer. Só isso. E isso já
é muito ou… é tudo!
Analisemos
– friamente, intelectualmente, racionalmente, honestamente!... – situações de
oração. Por exemplo, o terço com as suas 50 Avé Marias, 5 Pai Nossos e mais
umas quantas rezas obtidas das supostas aparições da Virgem em Fátima, havendo
ainda a meditação, após uma dezena de Avé Marias, conforme a inspiração do
mentor, da contemplação dos mistérios, ora gozosos, ora dolorosos, ora
gloriosos: é uma bizarra lenga-lenga que pretende aclamar a Virgem e, por sua
intercessão, chegar até Deus, a quem se pedem graças. (E já não falamos no
bizarro rosário, um terço a triplicar o que dá 150 Avé Marias, quinze Pai
Nossos, etc…). As perguntas são mais que muitas e mais que pertinentes: “Com
quantas Avé Marias, Maria se resolve a interceder junto de Deus? Com quantos
Pai Nossos, Deus vai conceder o que se Lhe pede? E se for uma multidão a rezar
Avé Marias, por exemplo, pelo papa ameaçado ou por um ente querido gravemente
enfermo, ou para evitar uma guerra prestes a rebentar? Acaso, o papa se livra
da ameaça, o enfermo recupera a saúde, a guerra é evitada?” – Se sim, óptimo!
Quem quiser, acredite que foi a Virgem que intercedeu e Deus atendeu o pedido.
Se não – que é o que normalmente acontece se o papa se excedeu contra os
falsários e criminosos, o doente é terminal, os interesses que decretaram a
guerra incontroláveis – é óbvio que Maria não atendeu o pedido de uma multidão.
E a pergunta volta a pôr-se, com a mesma acuidade: “Quantas mais Avé Marias
seriam necessárias para que tudo se passasse a contento dos solicitadores?” O
mesmo se aplica aos santos da nossa devoção: se a graça é concedida, “Obrigado,
meu santinho querido!”; se não, fica-se frustrado e, com respeito pelo santo
adorado, lá se vai pensando que não se merecia tal graça, mesmo que fosse
ganhar o euromilhões!
Então,
para não sermos tão “irracionais” quando rezarmos, talvez o
pudéssemos/devêssemos fazer directamente ao Deus real – Deus que não é nenhum
dos inventados pelos mentores religiosos – o DEUS QUE É TUDO O EXISTENTE, que
tudo integra e que tudo contém, Tempo e Espaço e tudo o que pertence ao Tempo e
ao Espaço – nós também, obviamente! – sendo, por isso, eterno e infinito! E,
assim, em cada manhã que se levanta, faça chuva e frio ou faça sol e calor, o
nosso pensamento se elevará para DEUS, dizendo-lhe “Obrigado, meu Deus, por
mais um dia! Dai-me energia e coragem para ser bom e lutar contra a corrupção e
as injustiças que outros seres iguais a mim irão cometer contra o seu
semelhante, neste dia que também a eles deste e que tão mal o vão aproveitar!”
E outras orações que brotarem, espontâneas, da nossa alma, como a emoção
sentida perante qualquer maravilha da Natureza, seja olhar uma rosa ou um magnífico
pôr-do-Sol, emoção que nos leva a exclamar, os lábios levemente sorrindo: “Que
beleza, meu Deus, que beleza!”
E
será mais um dia a sorrir e a dizer Bom Dia a toda a gente, lembrando-lhes que
é o primeiro dia do resto das suas vidas e que o devem viver no amor, na paz e na
harmonia com eles próprios e com os outros, pois, de outro modo, será um dia
perdido para sempre. É que outra oportunidade não nos será concedida, já que não
poderemos voltar ao seio da nossa mãe!...
Não
há dúvida: para crentes ou não crentes, a oração pertence ao domínio das emoções.
Quem reza emociona-se e, de certo modo, põe a razão ao serviço dessa emoção,
raciocinando: se o meu santinho está lá em cima, junto de Deus, porque não
pedir-lhe esta e aquela graça, para que ele interceda junto do mesmo Deus ao
qual nada é impossível? E, se a oração for de agradecimento, o santinho vai
sorrir lá no Céu, contente por ter sido reconhecido, cá na Terra, o seu trabalho
de intercessão… Tudo muito comovente, muito simpático, não é? E não é o Homem
tanto emoção como razão?
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