Voltando a estes conceitos, conceitos de tanto agrado das religiões, sobretudo ao definirem Deus como Ser infinito e eterno, e ao apresentarem um Paraíso ou um Inferno eternos para onde nós iremos todos, sem excepção, temos de fazer algumas pertinentes considerações.
Se
é fácil apreender tais conceitos, admitindo sem problemas de compreensão a sua
existência, mais difícil se torna apreender toda a sua realidade: é que nós
somos finitos no Espaço e no Tempo, realidades que percebemos bem, sendo-nos
totalmente incompreensíveis as categorias de infinito e eterno. Aliás, tentem
fazer a prova: pensem numa recta que passa frente a nossos olhos. Apercebemo-nos
facilmente dela mas, se olharmos para a esquerda e para a direita, nada de
princípio nem de fim será vislumbrável ao pensamento. O pensamento fica totalmente
vazio ou impotente perante o não princípio e o não fim da recta, já que esta,
por sua própria definição, não tem começo nem fim, perdendo-se no infinito. E
isto, mesmo que fizéssemos passar por um dado ponto um número tão grande de
rectas, em todas as direcções que o resultado que teríamos seria o de uma
gigantesca bola negra que, no limite, também seria infinita, pois nunca haverá
rectas que preencham todo o vazio continuamente existente à medida que vamos
alargando a mesma bola negra.
Quanto
ao conceito de eterno, a impossibilidade de chegarmos ao limite do Tempo leva-nos
facilmente a aceitá-lo. E, claro, um Tempo sem limites deixará de ser o Tempo
para ser a eternidade. Ora nós só apreendemos o que é do Tempo, categoria que
se aplica a tudo o existente, algo que, tendo começado um dia, em outro
qualquer irá forçosamente acabar. Essa é a característica mais certa – uma
verdade absoluta! – inerente a qualquer ser agora vivo. Tal como nós! Como foi
aliás, verdade absoluta para todos os seres vivos que já fizeram o seu trajecto
de vida e continuará a ser para todos os que continuamente irão aparecendo, enquanto
a Terra for Terra (mais cerca de 4 mil milhões de anos).
Também
se poderia fazer o mesmo exercício para o Espaço. Tendo como nosso único
referente o Universo visível, a Ciência astronómica ainda não conseguiu –
alguma vez conseguirá?! – descobrir os seus limites, ou seja onde começa e onde
acaba. Se é que tem limites!... E, se considerarmos que este Universo existe há
cerca de 15 mil milhões de anos, dado os conhecimentos astronómicos que já
possuímos, perguntaremos “ad aeternum”, o que havia antes e antes e antes e
antes…; bem como, até quando, até quando, até quando…; ou, até onde, até onde,
até onde…
Ora,
a que nos leva esta total impossibilidade do nosso pensamento de abarcar o
infinito e o eterno? – A uma simples conclusão: todas as infinitudes e todas as
eternidades que as religiões nos querem vender são, no mínimo, do domínio da
fantasia e da imaginação, nada correspondendo a uma realidade credível. A
simpatia pelo mundo dos crentes leva-nos a não dizer que são “uma total
falsidade”.
Mas
é interessante constatar que o Homem, em geral, tem fome e sede de infinito,
tem desejos de ser eterno. É incompreensível tal realidade. Repetimos: o Homem
ser eterno era considerá-lo fora dos padrões gerais da Natureza, onde “nada se
perde, nada se cria, tudo se transforma”, nós também, obviamente, que somos
feitos de átomos e moléculas que um dia, por intervenção do sistema da
procriação “inventado” pela mesma Natureza, se uniram para sermos nós a ver a
luz do dia, mas que um dia voltarão a ser átomos e moléculas de qualquer outro
ser vivo ou não vivo que apareça por perto de onde nos finarmos… Seríamos uma
anomalia da Natureza, uma espécie de semi-recta que começaria num dado ponto do
Tempo, num determinado espaço e se prolongaria pela eternidade, pelo infinito.
Bonito é! Insensato também!
Sorrindo,
poderíamos acabar esta reflexão filosófica dizendo que quem quiser ficar com o
“bonito” talvez tenha bem mais a ganhar do que o outro que não quer ser
insensato. Pelo menos, tem com ele o sonho que o ajudará a viver bem o tempo de
vida que lhe foi dado viver! E isso é… TUDO ou TUDO O QUE É IMPORTANTE!
A pedido, no texto da próxima semana, abordaremos a temática da oração. De forma racional. Afinal, a quem aproveita a oração? Que sentido faz apelar a que se rezem 10 milhões de Avé Marias pelo papa Francisco, para que ele tenha forças para continuar a limpar a Igreja de todos os seus pecados de luxúria, corrupção, cobiça, mentira...?
ResponderEliminarDepois, retomaremos a saga da análise crítica dos livros da Bíblia.