À procura da VERDADE nos Evangelhos
Evangelho segundo
S. JOÃO – 1/?
E começa: “In principio erat Verbum et Verbum erat Deus…” (Jo 1,1) No princípio, era o Verbo e o Verbo era Deus…” Ora bem, seria mais adequado à eternidade de Deus, dizer “Ab aeterno erat Deus”. “Desde toda a eternidade”. É que “in principio” reporta-se indubitavelmente ao Tempo e Deus está fora do Tempo… Dizer que "A Palavra era Deus" não nos parece que signifique algo de relevante para o que nós realmente procuramos: a divindade de Jesus e se as suas palavras são ou não de vida eterna.
–
Nesse objectivo, não deixa de ser interessante o que diz João Baptista de Jesus: “Eu vi o
Espírito descer do Céu como uma pomba, e poisar sobre Ele. Eu também não O
conhecia. Aquele que me enviou para baptizar com água foi Ele que me disse:
«Aquele sobre quem vires o Espírito descer e poisar, esse é quem baptiza com o
Espírito Santo. E eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus.” (Jo
1,32-34)
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Ora, a primeira pergunta é: Realmente, para quê um baptismo? Depois, não
sabemos que credibilidade atribuir ao maravilhoso que acontece, ou dele é dado
testemunho, tal como é referido, e de forma espectacular, embora somente
visível para João Baptista: o Espírito a descer e a poisar sobre Jesus em forma
de pomba… Bem, se é espírito, para ser visível por olhos humanos teria de ter
uma qualquer forma. Porque escolheu a forma de pomba e não escolheu outra
qualquer, a de estrela ou de labareda de fogo, como acontecerá no Pentecostes,
no cenáculo, não sabemos…
Aliás,
se tivesse aparecido nessoutra forma, faríamos exactamente a mesma pergunta…
Mas…
porque precisava Jesus que o Espírito descesse sobre Ele? Não era, apesar da
sua forma humana, o Filho de Deus e como tal em tudo igual a Ele e como tal já
cheio do Espírito? Porque era necessário tornar-se visível e apenas a Baptista?
Só para que ele no-lo contasse e nós tivéssemos de acreditar? Não é mais uma
das muitíssimas coisas que temos de acreditar, nesta história da nossa salvação
que tanto tem de belo como de trágico? Belo, porque nos revela um Céu eterno…
trágico, porque não conseguimos saber como lá chegar pelo simples facto de
sermos razão e todas as “certezas” que temos não passarem além da Fé –
extra-racional, por sua própria definição!
–
“Aquele que me enviou…” Baptista sentia-se um enviado, certamente por Deus-Pai.
Como? Quem lho revelou? Também em sonhos, à boa maneira bíblica do A.T? De
qualquer modo, não deixa de mostrar uma certa arrogância ao julgar-se assim um
enviado de Deus-Pai. Como só afirma sem nada provar, é, obviamente, mais um factor de descredibilidade quanto
ao que afirma.
–
Também não entendemos o que é “baptizar com o Espírito Santo”…
E
muito menos entendemos como é que uma mensagem de salvação, a tal Boa Nova,
está tão cheia de secretismos, tão enigmatizada, quando deveria ser clara para
que toda a gente a entendesse e pudesse realmente salvar-se. Somos quase
levados a concluir que, a haver salvação, houve alguém que a sabotou com tanto
enigma e que a açambarcou só para alguns, lembrando-nos frases do próprio
Cristo, como: “Muitos são chamados e poucos os escolhidos”, “É mais fácil
entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos
Céus”, “Quem puder entender que entenda!”…
E
sobretudo aquela: “Estreita é a porta e o caminho que leva ao Céu e larga a
porta e o caminho que dá entrada no inferno!” (Mt 7,14)
– Tudo afirmações que revelam o fracasso da missão de Jesus, se é que Ele veio salvar a Humanidade inteira - não se sabe bem de quê! - e não apenas meia-dúzia de eleitos…
Depois,
como é que Baptista pode afirmar, sem qualquer sombra de dúvida, que “Ele é o
Filho de Deus”? Como? Caímos no ciclo vicioso: ou Deus lhe revelou que Ele era
Deus, e entramos na Fé… ou a sua afirmação tem tanto peso como a minha… Isto é:
nenhum!!!
Veremos que Jesus vai tentar confirmar, mais tarde, esta sua suposta divindade, com palavras enigmáticas, tipo chamar-se "Filho do Homem", e sobretudo com milagres. Portanto, além da palavra de Baptista, teremos a palavra de Jesus.
Enfim, temos mesmo de ter Fé!…
O episódio com João Baptista é fulcral neste início do evangelho de João. Várias questões se colocam ao nosso espírito inquisidor: “As palavras que Baptista diz acerca de Jesus foram factuais? Quem as ouviu? Qual foi a fonte a que João recorreu, como pretenso historiador, 50 anos após o sucedido? Ou foi simplesmente João que as inventou e colocou na boca do mesmo Baptista? – Tudo leva a crer – dada a distância no Tempo a que João escreve – que esta última hipótese é a mais credível. E, assim, começou João a construir a “Sua Verdade”, que não a verdade histórica, acerca do judeu Jesus…
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