À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. LUCAS –
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Nota prévia:
Lucas é um outsider em
relação aos factos: médico de Paulo, certamente, por influência deste –
Paulo que está na base da construção do Cristianismo – resolveu completar o que
lhe parecia faltar na narrativa dos outros dois evangelhos, Marcos e Mateus com
os quais, no restante, com algumas variantes que assinalaremos, é sinóptico.
Era uma lacuna incompreensível, para a religião que dava os
primeiros passos: nascimento, meninice, juventude de Jesus, Filho de Deus,
entidade em cuja actividade e pregação a mesma religião se baseava.
E apresenta-se cheio de boas intenções:
– “Após ter feito um estudo cuidadoso de tudo o que
aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever uma narração bem
ordenada (…) do que nos foi transmitido por aqueles que, desde o princípio,
foram testemunhas oculares e ministros da Palavra.” (Lc 1,2-3)
– Mais clareza das intenções de ser fiel à narrativa dos
factos parece não haver. Será então o evangelho de Lucas, que não foi
testemunha ocular mas transmite o que os outros lhe disseram e que ele
averiguou cuidadosamente, totalmente histórico? Serão os factos narrados
verídicos ou já inventados/trabalhados pelas testemunhas supostamente oculares
e pelos ministros da Palavra? Vejamos!
– Lucas é o único a narrar o nascimento miraculoso de João
Baptista, filho do sacerdote Zacarias e sua mulher Isabel: “Não tinham filhos
porque Isabel era estéril e os dois já eram de idade avançada. (…) Então
apareceu a Zacarias um anjo do Senhor (…): «Deus ouviu o teu pedido; a tua
esposa Isabel vai ter um filho e dar-lhe-ás o nome de João. (…) Desde o ventre
materno, ficará cheio do Espírito Santo (…).» Zacarias perguntou ao anjo: «Como
vou saber se isto é verdade? Sou velho e a minha mulher é de idade avançada.» O
anjo respondeu: «Eu sou Gabriel. Estou sempre na presença de Deus e Ele
mandou-me dar-te esta boa notícia. Vais ficar mudo e não poderás falar até ao
dia em que estas coisas acontecerem, porque não acreditaste nas minhas palavras
que se cumprirão na altura própria.»” (Lc 1,7-20)
– Não! Não começa bem Lucas! O maravilhoso acontece e não
pode ser histórico! A narrativa, singela, tem o sabor das
crenças-invenções-imaginações religiosas daquele tempo, deste tempo… O anjo
aparece… fala… anuncia… impõe um nome… E à questão pertinente, humana, tão
natural e compreensível de Zacarias que não via como tal pudesse acontecer,
responde o anjo com um castigo… - injusto, claro! - “justiça” que não utilizou
com Maria, seis meses mais tarde quando esta lhe perguntou: “Como vai acontecer
isso, se não vivo com nenhum homem?»…
E… duplo milagre: Isabel concebe sendo estéril e de avançada
idade…
Mais: um anjo… ter um nome… estar sempre na presença de
Deus… mensageiro do mesmo Deus… com o poder de dar castigo ao mortal Zacarias…
continua o divino em total simbiose com o humano…
Então, simplesmente começamos por rejeitar a veracidade/historicidade dos factos narrados. Tudo se enquadra perfeitamente na recolha de narrativas transmitidas certamente com fins piedosos, mas… inventadas! Lucas, como pretenso historiador, deveria tê-lo dito.
Imperdoável!
ResponderEliminarNo campo das invenções, não é de somenos importância o facto de não termos originais dos evangelhos mas apenas cópias dos finais do séc. III. Em cerca de 200 anos, vários terão sido os acrescentos e as modificações dos textos originais, possivelmente mais fiéis à História verdadeira.
Aqui, de histórico, parece ser apenas o facto de Zacarias e Isabel terem tido um filho, já ambos com uma certa idade e com dificuldades de fecundação, ao qual puseram o nome de João Baptista.