À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
– 67/?
– Perante a paixão e morte de cruz, voltamos a perguntar: Como
entender que Deus-Pai tenha querido ver/fazer sofrer o seu muito Amado Filho,
até à morte e morte na cruz? Para cumprir as Escrituras que Ele mesmo
inspirara, sendo necessário todo aquele sofrimento para salvar e redimir o
Homem, como Messias? (E lá está o mistério da redenção, mistério pois não
sabemos bem o que havia a redimir…)
Depois, onde a força de Cristo que realizou tantos milagres,
indo até à própria ressurreição se não a pôde utilizar neste crucial momento? Teria mesmo
de cumprir as Escrituras e morrer ali como estava determinado desde toda a
eternidade pelo seu próprio Pai? Afinal, quem é escravo de quem? Mais: parece
impossível que, na sua infinita sabedoria, Deus-Pai não “tenha arranjado”
melhor forma de salvar a Humanidade do que esta assim sangrenta, assim macabra…
Claro que o mistério é sempre a resposta! Mas, com
mistérios, não atingimos de certeza a salvação que, embora por todo o lado
anunciada, continuamos a não saber nem onde, nem como, nem o que realmente ela
é…
Também todos sabemos que a carne é fraca e que foge do
sofrimento como o diabo da cruz... A dicotomia corpo-espírito que constitui a
nossa essência não é de fácil entendimento. Se na saúde é fácil ao espírito
dizer ao corpo «Levanta-te e caminha!», quando a doença corrói corpo e nervos,
já o espírito fica fraco, incapaz de controlar o mesmo corpo.
– Três vezes foi orar… O número 3 parece mágico! Mas, porquê
orar, se sabia que de nada Lhe adiantava? Ah, como é difícil entender aquela
relação entre um corpo humano e um espírito divino! Entre um Deus-Pai e um
Deus-Filho que “tem” de Lhe rezar!… E rezar inutilmente!
– “«Guarda a espada na bainha. Pois todos os que usam a
espada, pela espada morrerão. Ou pensas que Eu não poderia pedir socorro ao meu
Pai? Ele mandar-me-ia logo mais de doze legiões de anjos. E então, como se
cumpririam as Escrituras que dizem que isto deve acontecer? (…) Tudo isto
aconteceu para se cumprir o que os profetas escreveram.»” (Mt 26,52-56)
– O estigma, a “maldição” das inevitáveis Escrituras! Que
predestinação, santo Deus! Que escravatura de um Filho de Deus a umas Escrituras
inspiradas por um Deus-Pai, parecendo-nos terem sido os algozes de Jesus, desde
Judas aos sumos-sacerdotes, braços de Javé-Deus para executarem tal
predestinação!…
Nisto de interpretar a História pelas Sagradas Escrituras,
até o tirano Nabucodonosor foi o braço de Javé para castigar Israel dos seus
pecados, lembram-se?!
E, se tais algozes não tivessem intervindo, as
incontornáveis, escravizantes Escrituras - para os Homens mas também
incompreensivelmente para o próprio Deus que as inspirou – sendo portanto o seu
autor como ensinam na catequese e se reza na missa “Palavra de Deus!” – não se
cumpririam!
E mais uma vez, os anjos. Doze legiões, o que representa uns milhares! Não há dúvida: tal afirmação revela que Jesus estava mesmo convencido do seu Céu humanizado e hierarquizado ao modo de um reino da Terra, com um rei e os seus exércitos.
Tudo isto é de um total nonsense,
humanamente e intelectualmente falando… É preciso ter muita coragem para continuar a
acreditar em alguma ponta de verdade que possa haver nesta triste e dramática história…
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