À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
– 12/?
– E logo outro milagre! Este, à distância! Também no
instante da… PALAVRA! A cura do servo do oficial romano, que estava doente:
“Nunca encontrei uma fé igual a esta em ninguém de Israel. (…) Muitos (pagãos)
sentar-se-ão à mesa no Reino do Céu (…), enquanto os herdeiros do Reino serão
lançados nas trevas exteriores onde haverá choro e ranger de dentes.” (Mt
8,5-12)
– Mais duas “chicotadas” no povo de Israel: a pouca fé e o
serem lançados nas trevas… Pena é que não nos diga onde é o Reino e onde são as
trevas…
E que símbolo ou imagem é essa do “choro e ranger de
dentes”? Era para atemorizar o “povo de cabeça dura”? Como precisávamos de
explicações, meu Deus, do teu filho Jesus Cristo! Como nos deixastes entregues
às nossas angustiantes conjecturas! É que mesmo os “cabeça dura” - e sobretudo
esses - precisam de compreender para aceitar e empenhar-se e… salvar-se! Não
foi para nos salvar - “salvar o que estava perdido” (Mt 9,13) - que vieste, que
desceste à Terra?
– Vieste! Desceste!... Lá estamos nós a falar partindo de
pressupostos existentes, sem termos qualquer certeza… É que se vieste, vieste
de algum lugar; se desceste, desceste lá de um cimo qualquer… Mas se és Deus,
não desceste nem vieste de parte alguma, pois estiveste sempre connosco, sempre
no meio de nós, sempre dentro de nós… sendo nosso “irmão” no corpo e na alma,
filho de Deus como nós também o somos, como partículas divinas que fazem parte
do TODO universal em que nos movemos…
Panteísmo? – Que seja! Tudo, Deus!… Sem dúvida, uma
realidade muito mais consentânea com aquilo que sentimos e com o que pensamos…
E que talvez o próprio Jesus Cristo o tenha querido exprimir, quando nos faz a
Ele e a nós filhos do mesmo Pai que está nos Céus… E quando diz “Quem me vê a
Mim, vê o Pai.”…
– Só uma última pergunta, com não pouca ironia: “Porque é
que Jesus insiste em chamar «herdeiros do Reino» aos israelitas? Então, toda a
outra humanidade já não é herdeira do Reino?”
– Mas há muitos outros milagres! Cura a sogra de Pedro que
estava com febre… Cura muitas pessoas que estavam possuídas pelo demónio…
Amaina a tempestade no mar… (Mt 8,14-27) E Mateus acrescenta: “Jesus, com a sua
palavra, expulsou os espíritos e curou todos os doentes, para se cumprir o que
fora dito pelo profeta Isaías: «Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as
nossas doenças.»”
– Parece forçada tal aplicação da “profecia”, mas é, sem
dúvida, mais um esforço de Mateus para fazer a ponte entre o AT e Jesus
Cristo. Mas o cristianismo, para ser coerente com o Deus de amor que apregoa,
deveria rejeitar liminarmente o AT e o seu Deus sanguinário, ciumento e cruel,
Javé, considerando Bíblia Sagrada apenas o NT.
ResponderEliminarOs milagres e a sua veracidade.
Três grandes argumentos – os principais do ponto de vista histórico – para que se possa afirmar, com grande certeza, que os milagres foram todos invenção dos evangelistas, sobretudo de Mateus.
1 – Paulo, o primeiro teórico do cristianismo e da divinização de Jesus, não os refere como facto relevante para essa divinização.
2 – Se tivessem realmente acontecido, os historiadores da época, sobretudo Flávio Josefo, teriam dado notícia deles já que o movimento de massas populares à procura do milagreiro teria sido enorme, vindo gentes de toda a parte do mundo conhecido. É que foram 3 anos de milagres! E nada disseram.
3 – Os evangelhos não são documentos históricos, mas escritos para formarem e firmarem na fé os iniciados no cristianismo. Portanto, quanto mais fenómenos divinos atribuídos a Jesus, mais credibilidade se dava à sua divinização e à religião que nessa divinização se baseava.
Resta acrescentar a intrínseca desconexão com a realidade dos milagres em si. Se alguns até seria plausível acontecerem, como a expulsão de demónios, outros não oferecem qualquer possibilidade de verosimilhança. Tais são os dois da multiplicação dos pães e dos peixes, como veremos a seu tempo.